Com o mercado à espera da reunião do Conselho de Administração que tratava do novo plano de negócios da Petrobrás – uma versão que inclui o programa de desinvestimentos – as ações da Companhia fecharam em forte alta de 4,84% na última sexta-feira. No entanto, dois dias antes houve queda acentuada porque os investidores esperavam cortes de até 40% nos investimentos e os boatos naquele dia davam conta de uma retração de “apenas” 25%.
Como o mercado pode reagir bem a cortes que poderão comprometer a lucratividade de uma empresa no futuro?
Na opinião do ex-deputado federal Ricardo Maranhão (PSB-RJ), que é conselheiro da AEPET, neste momento o ideal é fazer cortes necessários, porém no patamar mínimo que não agrave o problema o endividamento.
Ressaltando que o aumento das dívidas é resultado da política de congelamento dos preços da gasolina imposta pelo governo, da desvalorização do petróleo no mercado internacional e da disparada na cotação do dólar no Brasil, Maranhão pondera que o nível de endividamento poderia ser reduzido a partir de acordos para pagamento em petróleo, em vez de dólares, ou pura e simples renegociação de contratos com fornecedores. Ele destacou também que a credibilidade da Petrobrás se mantém alta, como ficou claro na venda de títulos com prazo de 100 anos, que teve demanda muito acima do esperado pela Companhia.
“Os preços do petróleo caíram a menos da metade e 75% dos contratos estão atrelados ao dólar. O faturamento da empresa vai cair. Por outro lado, a Companhia poderá fazer um esforço de ampla negociação com os fornecedores, pois os itens expressivos de custo dessa indústria acompanham os preços do petróleo”, argumenta o conselheiro da AEPET, lembrando que a própria Petrobrás não está renovando alguns contratos e até antecipando o término de outros para restabelecer o equilíbrio financeiro.
Outro caminho para equacionar a situação financeira, o plano de desinvestimentos, não é bem visto por Maranhão, principalmente porque o momento não é apropriado. “O momento não podia ser pior. Com petróleo em baixa, esses ativos estão desvalorizados. Também porque os potenciais compradores sabem da situação da Companhia e vão se aproveitar”, disse, defendendo o estudo de caso por caso antes de oferecer um ativo ao mercado.
“Além da desvalorização pela queda do petróleo e pela situação emergencial, pode o setor de determinado ativo estar em conjuntura ruim. Exemplo é participação da Petrobrás em empresas do setor sucroalcooleiro, inclusive estrangeiras. Os preços do açúcar estão em baixa do açúcar e a retenção da tarifa da gasolina a pretexto equivocado de combater a inflação foi um desastre para a demanda por etanol. Ano passado, 40 usinas foram fechadas. Não é hora para vender participação”, frisou, observando que, com a volta da cobrança da Cide sobre a gasolina, o álcool começa a se recuperar.
“Estão contratando instituições financeiras para orientar a venda de ativos e algumas delas têm ligações com grupos internacionais. Tudo isso tem que ser levado em consideração”, resumiu.