Notícia

Devastação industrial

Data da publicação: 01/12/2015
Autor(es): Rogerio Lessa

Avaliação do PIB do terceiro trimestre sob a ótica do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (IEDI). O setor é sensível às demandas e investimentos da Petrobrás.

A devastação da presente recessão brasileira parece não ter fim e não encontrar paralelo em qualquer outro momento da nossa história econômica recente. O PIB do terceiro trimestre do ano, divulgado hoje pelo IBGE, teve redução de 1,7% frente ao trimestre anterior, com ajuste sazonal. Se considerássemos a taxa anualizada, como fazem outros países, a contração que vivemos nos últimos três meses se encontraria num patamar de 7%.

Ninguém mais duvida da gravidade da atual recessão, mas o quadro fica mais claro quando tomamos as variações trimestrais ao longo do corrente ano. No primeiro, segundo e terceiro trimestres, frente ao mesmo período do ano anterior, a evolução do PIB total foi, respectivamente, de -2%, -3% e -4,5%.

Cabe destacar algumas características dessa trajetória. Primeiramente, do lado da oferta, está claro que a presente crise é predominantemente uma crise industrial, ainda que outros desdobramentos tenham afetado muito certos segmentos de serviços.

De fato, o mergulho do PIB foi liderado pela Indústria de Transformação: -7,3% e -8,1% nos dois primeiros trimestres do ano, respectivamente, e ultrapassando dois dígitos no terceiro trimestre, -11,3%, variação que nos remete ao início de 2009, quando a crise internacional atingiu o país.

Ainda do lado da oferta, em Serviços, os destaques são o Comércio e Transporte, armazenagem e correios, que também apresentaram desempenho ainda mais negativo no terceiro trimestre, -9,9% e -7,7%, respectivamente.

Pelo lado da demanda, a Formação Bruta de Capital Fixo teve queda de 15%, que sucedeu variações de -10,1% e -12,9% nos dois primeiros trimestre de 2015. Com isso, a taxa de investimento do país chegou a 18,1%. A matriz da retração econômica sem dúvida alguma está localizada na queda do investimento. Tal queda é explicada por fatores de toda ordem, desde a decorada das expectativas empresariais até o flagelo de cadeias inteiras de produção, devido à crise da Petrobrás e do setor da construção pesada em virtude dos processos da Lava a Jato, passando pelos graves efeitos sobre o investimento público determinados pelo ajuste fiscal.

Do lado do setor externo, o destaque é a queda das Importação de bens e serviços, que foi, nada mais nada menos, de 20% no último trimestre, em relação ao mesmo trimestre de 2014.

O colapso do investimento impacta fortemente a indústria que vê agravada sua crise, a qual teve início já em 2011. A crise industrial arrasta consigo as importações de bens e serviços e boa parcela dos investimentos, uma vez que o peso do setor industrial na Formação Bruta de Capital Fixo é grande, apesar da pequena participação (10%) da indústria no PIB. Por outro lado, outros componentes do investimento, como a construção civil e as obras de infraestrutura também afetam o desempenho da indústria. Por isso, uma crise liderada pelo investimento tem uma gravidade particularmente maior sobre a indústria.

A fragilização industrial gera ainda menor movimentação de cargas, explicando o pior desempenho do setor de Transportes, armazenagem e correios, e prejudica o Comércio, que também sofre com a corrosão pela inflação do poder de compra da população e com a deterioração do mercado de trabalho.

Se a crise não for superada rapidamente muitas empresas da indústria irão sucumbir, gerando uma devastação do parque industrial nacional. A indústria não aguentará outro ano de crise como este de 2015. Até o terceiro trimestre, o setor manufatureiro acumulou queda de 9%, podendo ultrapassar 10% no ano como um todo.

Outros setores a puxarem para baixo o PIB nacional, cuja queda acumulou no ano 3,2%, foram a Construção (-8,4%), Comércio (-7,7%) e Transporte, armazenagem e correios (-5,7). Do lado da demanda, a FBKF e as Importações acumularam contração de 12,7% e 12,4%, respectivamente. Nesse andar da carruagem, ao final do ano é possível que a queda do PIB chegue a 4% e a do Investimento a 15%.

Para não dizer que tudo é um pesadelo, existem dois aspectos dos dados hoje divulgados que podem ser vistos como favoráveis. O primeiro deles é que a queda da Construção foi menor, passando de -10,6%, no segundo trimestre, para -6,3%, no terceiro trimestre, sempre em relação ao mesmo período de 2014. Se isso virar uma tendência, a construção pode drenar menos o crescimento do PIB no próximo trimestre.

O segundo aspecto é que as exportações, a despeito da queda, com ajuste sazonal, de -1,8% em relação ao trimestre anterior, continuam apresentando variação positiva no acumulado do ano (4%), assim, contribuindo positivamente para o crescimento do PIB.

Pelo que os dados mostram, o câmbio ainda não teve um impacto decisivo sobre a evolução das exportações, mas, juntamente com a recessão interna, é explicativo da menor importação. Se há alguma esperança para o PIB nos próximos trimestres é que as exportações comecem a reagir com mais vigor ao novo patamar da taxa de câmbio.

FONTE: IEDI