Artigo

Mas esse mundo é feito de maldade e ilusão

Quem governa a política é o sistema financeiro

Data da publicação: 10/05/2017

Em “Saudade da Bahia”, Antonio Carlos Jobim, o gênio da música brasileira, parece descrever o mundo neoliberal em que hoje vivemos. Nem digo só no Brasil, que tem a mais cruel elite no poder e onde o deputado federal Nilson Leitão (PSDB-MT), impunemente, esquecido de viver no século XXI, propõe a “remuneração em espécie” do trabalhador rural. Casa e comida pelo trabalho de 12 horas; não faltou nem a senzala, não é senhor deputado? Mas já houve deputado brasileiro cassado por insinuar que o violento, covarde e corrupto chileno, Augusto Pinochet, era ditador!!!

A pergunta que nos colocamos, a nós mesmos, é: qual a razão desta venda que cobre os olhos de todo povo, das academias e das esquerdas? Como pode manter uma situação tão agressiva à população, ao redor do mundo, sem que este entre em convulsão.

Sim, porque o que vemos não são explosões populares. São guerras e terrorismos plantados pelo sistema financeiro internacional, a banca, para atingir seus dois propósitos maiores: a transferência de todos os ganhos para o setor financeiro e a permanente concentração de renda.

Vejamos uma gota d’água neste oceano: o Itaú Unibanco teve seu lucro, no primeiro trimestre de 2017, 19,6% superior ao de igual período do ano anterior. E também ficamos sabendo, pela imprensa, que este banco eliminou, entre 2014 e 2016, 340.544 empregos em suas agências no Brasil.

Não por acaso, Roberto Egydio Setúbal, da família co-proprietária do citado Banco, aparece entre os três únicos sulamericanos participantes da Comissão Trilateral (Adrián Salbuchi, El cerebro del mundo. La cara oculta de la globalización, Ediciones del Copista, Córdoba, Argentina, 1996).

Recordando, a Comissão Trilateral (Estados Unidos da América, Europa e Japão), com cerca de 300 membros, constitui um braço do sistema financeiro internacional para implantar os objetivos da banca, que já enunciamos, em todo mundo. Um dos idealizadores da Trilateral foi o banqueiro, recém falecido (20/03/2017), David Rockefeller. Talvez como homenagem póstuma, os golpistas no governo brasileiro, acionando o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), do Ministério da Fazenda, resolveram perdoar R$ 25 bilhões da dívida, por sonegação fiscal, do banco Itaú, cujo dono colaborava para os propósitos da família Rockefeller.

Para o rol das maldades, os golpistas no governo, pois esta classe jamais deixou o poder no Brasil, propõe o retorno à política trabalhista pré-1930. Diga-se que vários governantes, entre eles Fernando Henrique Cardoso, explicitamente, se candidataram a “acabar com a Era Vargas”. Mas, políticos com ambições de poder, sabiam perfeitamente que era um suicídio eleitoral retroceder as conquistas sociais à República Velha. Aparentemente estes atuais ocupantes não tem mais estes sonhos; sabem que serão pessoas odiadas e só lhes resta limpar os cofres da Nação e receber as percentagens das alienações, em regime de saldos, que fazem das riquezas insubstituíveis do Brasil.

E a ilusão? Esta está todo dia, toda hora, nas redes de televisão, nos rádios e nos jornais e revistas da “grande imprensa”. Também não temos qualquer particularidade na farsa das comunicações. Isto se faz amplamente em todo mundo. Veja como a candidata nacionalista de direita, Marine Le Pen, é tratada pela imprensa de seu país. Não me surpreenderia vê-la numa caricatura com bigodes à Hitler.Seria nazista, fascista? Até onde pude ouvi-la e ler suas próprias palavras, a resposta é negativa. Mas ser nacionalista é quanto basta para despertar o ataque sem pudor dos neoliberais. E seu opositor, o ex inspetor de finanças francês, vem da fina flor deste regime de exclusões: saiu dos escritórios da banca, da mais tradicional e atuante: o Rotschild & Cie. Banque.

Se o prezado dispuser de algum tempo, verifique que, em todos os continentes, os governantes eleitos pelo povo, que mostraram não atender inteiramente à banca, tem sido acusados de corrupção. Embora nenhuma prova tenha sido apresentada para justificar esta agressão a suas honras. Nem haja qualquer sinal exterior de riqueza que pudesse ser apontado como ilícito. Isto ocorreu na Ucrânia, na Argentina, na Coreia do Sul, no Brasil, na África do Sul, mas não está ocorrendo em países onde a banca assumiu o poder e seus governantes são reconhecidamente corruptos, como nos países do Oriente Médio, ironizados com porta-aviões estadunidenses. Para mais exemplos faça sua própria pesquisa.

Ao criar esta ilusão de mágico de circo, a banca usa a mídia, que lhe serve, para insistir de tal modo que você chega a duvidar de si mesmo. Como na conhecida frase de Pierre Augustin de Beaumarchais: caluniai, caluniai, sempre sobra alguma coisa.

E usa também as academias, comprando, sob várias formas, o talento, e mesmo a falta de talento lá existentes, para dar respaldo meritocrático a suas falácias. Realmente é uma luta desigual, onde as centenas de trilhões de dólares de 40 famílias são colocados para lhe iludir. E lhe roubar.

Grande Tom: vivemos num mundo de maldades e ilusões. Até quando?

Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

Publicado em 10/05/2017 em Dinâmica Global.