Exxon Mobil é a sucessora da empresa Standard Oil of New Jersey, que foi uma das empresas que surgiram em 1911, após a dissolução da gigante do petróleo criada por Rockefeller no final do século XIX, forçada pelo governo dos EUA na implementação de um lei antitruste. Ao longo do tempo ganhou tal musculatura financeira que, em 2016, foi a quarta maior empresa do planeta, ficando em primeiro lugar entre as empresas de petróleo, atingindo um valor de mercado acima de 400 bilhões de dólares (1).
Esse tamanho gigantesco e seu alto nível de influência nos Estados Unidos, juntamente com a sua ampla presença internaciona,l permitiu-lhe tornar-se um “estado corporativo dentro do estado norte-americano”, segundo argumenta Steven Coll, jornalista investigativo vencedor de dois prêmios Pulitzer por artigos publicados no Washington Post, em um livro intitulado “Private Empire ExxonMobil e American Power (2), publicado em 2012, mostrando uma imagem detalhada das atividades do empresa ao longo dos últimos 25 anos.
Para se ter uma ideia do peso desta corporação gigante no governo do império pode ser inferida a partir da consideração de uma frase dita por George W. Bush em 2001, quando, em teoria, era o homem mais poderoso do planeta. A frase em questão afirma: “Ninguém diz a esses caras o que eles têm que fazer”, respondeu Mr. Danger, como Bush era chamado por Hugo Chávez, à exigência do primeiro-ministro Manmohan Singh para pressionar esses “caras” (Exxon Mobil) a assinar um acordo com a companhia petrolífera estatal indiana.
A empresa é uma organização com seus próprios objetivos e sua própria diplomacia internacional que às vezes pode coincidir com os EUA, e outras não. “Eu não sou uma companhia norte-americana e as minhas decisões não são baseadas no que é bom para os Estados Unidos”, disse uma vez Lee R Raymond, diretor executivo entre 1993 e 2005, que antecedeu o inefável Rex Tillerson, que foi nomeado secretário de estado de Donald Trump, no final de 2016.
O principal objetivo declarado da empresa, com presença em mais de 40 países, é a exploração, transformação e comercialização de produtos petrolíferos, bem como a fabricação de produtos químicos, plásticos e fertilizantes; no entanto, para o bem de seus interesses não tem escrúpulos para executar ações intervencionistas de alto calibre, tais como: apoio em dinheiro e armas aos “rebeldes” que culminou com uma cruel guerra civil em Angola; o apoio irrestrito à sangrenta ditadura do general Mohammad Suharto na Indonésia e exercer uma pressão decisiva sobre George W. Bush, de cuja campanha foi o maior financiador, a aprovar a malfadada invasão do Iraque em 2003, que teve como pretexto a destruição de armas de destruição em massa que nunca foram encontradas.
É precisamente esse desmesurado interesse estratégico e econômico que está por trás de seu manifesto desrespeito para a preservação do meio ambiente, evidenciado pela promoção de diferentes grupos de ativistas negadores da mudança climática e da responsabilidade dos EUA, maior consumidor de energia do planeta, que se recusou a assinar o Protocolo de Quioto, que buscava a redução de gases que produzem o efeito estufa. Mas o que mais se poderia esperar em matéria de ambiente da empresa, em 1989, causou um desastre ecológico catastrófico no Alasca, com o derramamento de óleo do Exxon Valdez, e produziu graves danos ecológicos na Nigéria, Equador, Peru e Colômbia? (3).
Na Venezuela, o sua antecessora, a Standard Oil Company de Nova Jersey, operou desde o início do século XX, por diferentes razões sociais das quais a de mais longa duração e significado foi a Creole Petroleum Corporation, que operou até 31 dezembro de 1975, quando suas concessões expiraram e foram transferidas para o estado venezuelano sob a Lei de Nacionalização da Indústria de Petróleo (4).
Durante esse período, Creole tornou-se a principal operadora transnacional no país, atingindo um pico de produção de 1.500.000 barris por dia em 1950, o que lhe permitiu contribuir com 40% dos lucros de sua empresa-mãe, que por sua vez veio a ser a maior empresa de petróleo do mundo. Na Venezuela, seu desprezo pelo meio ambiente levou-a a derramar enormes quantidades de petróleo no Lago de Maracaibo por sua relutância em controlar o fluxo de produtos entre os seus muitos tanques de armazenamento, porque a empresa considerava o lago como o seu último tanque, jogando óleo quando os outros estavam cheios.
E tem também a interferência política, pois Creole apoiou decisivamente o golpe militar de Perez Jimenez, em novembro 1948, que derrubou o primeiro presidente eleito na Venezuela por voto popular, com o apoio da embaixada dos EUA (5 . Isto foi reconhecido pelo presidente Gallegos ao chegar a Havana em 1949, no início de seu longo exílio. Mas, posteriormente, ele foi forçado a negar por causa das pressões de seu discípulo e membro do partido, Rómulo Betancourt Bello, e da necessidade de fixar residência em solo americano.
Exxon inicia operações na Venezuela em 1998, após a fusão com a Mobil, que desde 1997 extraia petróleo pesado no estado Monagas (Cerro Negro e La Ceiba), no âmbito da política traidora e regressiva de Caldera, que ele chamou o Abertura Petroleira.
Quase dez anos depois, o seu modo de funcionamento teria de ser modificado, após o presidente Hugo Chávez decretar a plena soberania petroleira da nação, envolvendo a migração de empresas transnacionais que operavam através de acordos da abertura, com participação garantida do Estado no negócio de 35% (inferior à quota-parte do antigo regime de “nacionalização” de 1975), para empreendimentos conjuntos com a participação majoritária da PDVSA, com participação estatal de 78%. Das 33 empresas sujeitas a formar joint ventures com a PDVSA, entre os quais estavam, a título de exemplo, Chevron (EUA), BP (Reino Unido), Total (França) e Statoil (Noruega), 31 concordaram com os parâmetros econômicos estabelecidos pelo governo venezuelano para a compra de suas ações para o efeito da criação de novas empresas, enquanto duas delas, Exxon Mobil e Conoco Phillips, decidiram tomar medidas legais contra a PDVSA.
No mesmo ano (2007) Exxon Mobil procurou arbitragem perante o Centro Internacional para Arbitragem de Disputas sobre Investimentos (ICSID), exigindo o pagamento da quantia astronômica e absurda de 20 bilhões de dólares por danos e, não contente com isso, ajuizou ações em dois tribunais distintos em Londres e Nova York, com um pedido de congelamento de bens de 12,5 bilhões de dólares e outra de arbitragem perante a Câmara de Comércio Internacional, com sede nos Estados Unidos.
No início de 2008, e depois de um mês de ter esses bens congelados, um juiz de Londres não só revogou a medida, mas ordenou a Exxon pagar à PDVSA 380 mil libras, para custas judiciais que o Estado teve para defender-se perante os tribunais de Londres (6).
Em 2014, o tribunal arbitral ICSID emitiu o seu veredicto: o Estado venezuelano deveria pagar a Exxon pelos projetos antigos de Cerro Negro e La Ceiba, US$ 1,591 bilhão; mas o ICSID também reconheceu o veredito emitido em 2012 pela Câmara de Comércio Internacional, por meio do qual a Venezuela pagou US $ 908 milhões a Exxon Mobil. Por isso, a PDVSA deveria simplesmente aportar 683 milhões de dólares em um período de cerca de sete anos (7). Em suma, como observou na época o então ministro das Relações Exteriores, Rafael Ramírez, Exxon Mobil sofreu uma derrota tripla, recebendo uma quantia muito abaixo do esperado (menos de 5% do que era exigido), sete anos mais tarde e tendo perdido definitivamente a oportunidade de fazer negócios com a Venezuela, o país com as maiores reservas de petróleo do planeta.
Em paralelo ao desenvolvimento dessas ações judiciais, a Exxon continuou ativa em suas explorações e perfuração preliminar em poços localizados em áreas não permitidas da Guiana, sujeita à reivindicação territorial secular pela Venezuela, com a agravante de que para esta nova agressão Exxon conta com o apoio total do Departamento de Estado dos EUA que avaliza a política direitista doprimeiro-ministro Granger e da circunstância da Guiana sede da Secretaria Permanente da CARICOM, uma oportunidade de ouro para explodir o acordo Petrocaribe.
Depois desta longa disputa legal com este gigante dos EUA e ser objeto de ataques diplomáticos intempestivos e injustificados de seu novo pupilo sul-americano, o primeiro-ministro da Guiana, que apoia egoisticamente a Exxon, não pode deixar de causar-nos grande alegria o novo parecer do ICSID emitido em 9 de março, em resposta a um recurso da PDVSA em 2015, que substitui várias decisões de outubro 2014 que “se relacionam diretamente com o valor de compensação e razões subjacentes “(8); ou seja, é altissimamente provável que a Venezuela não tenha que pagar um centavo a mais do que os 908 milhões que a PDVSA considerou como o valor justo dos ativos da Exxon na Venezuela e que ela teve que pagar em 2007. No entanto, este clamorosa vitória deve colocar-nos em alerta, porque não há nada mais perigoso que um animal ferido!
Todos as agressões acima ocorrem durante o mandato do Rex Tillerson como CEO da empresa, o que me deixa plenamente convencido de que ele é uma séria ameaça para a Venezuela e sua nomeação como secretário de Estado dos EUA constitui necessariamente uma enorme probabilidade de que o nosso país sofrerá uma intervenção militar do império durante esta administração, como descrevemos em dois artigos recentes publicados neste site, intitulado: “a política intervencionista de Trump contra a Venezuela já está em pleno desenvolvimento “(9) e” Alerta, a política intervencionista de Trump contra a Venezuela está agora a seguir a seu curso inexorável! “(10).
Finalmente, devo comentar que, conhecendo as práticas mafiosas da Exxon Mobil, não haveria nada incomum que tal companhia tinha contribuído generosamente para a campanha presidencial de Donald Trump, como o fez em 2000 com George Walker Bush. Então eu acredito que, da mesma forma como eles pressionaram o Mr. Danger para invadir o Iraque em 2003, agora pressione Trump para invadir a Venezuela por causa de seus interesses bastardos. É apenas uma questão de o Departamento de Estado e Exxon Mobil, que pela graça de Trump e o Sr. Tillerson tornaram-se quase o mesmo, acordar “o quando e o como “!
Alerta, que guerra avisada também mata soldados!
O presente é luta, o futuro nos pertence!
Venceremos!
(1) http://economipedia.com/ranking/empresas-mas-grandes-del-mundo-2016.html
(2) http://www.crg.eu/sites/default/files/crg_media/326316.PDF
(3) http://suramericapress.com/?p=8594
(4) http://cronicasdecabimas.blogspot.com/2010/12/breve-historia-de-la-creole-petroleum.html
(5) https://www.rebelion.org/hemeroteca/venezuela/030505cabo.htm
(6) http://deportescl.terra.cl/terramagazine/interna/0,,OI2692136-EI8864,00.html
(7) http://misionverdad.com/la-guerra-en-venezuela/el-round-que-exxon-mobil-perdio-contra-venezuela
(8) http://albaciudad.org/2017/03/ciadi-falla-a-favor-de-venezuela-en-controversia-con-exxon-mobil/
Publicado em espanhol em 15/03/2017 no blog do autor.