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Associação de Engenheiros da Petrobrás critica venda de ativos da Companhia e denuncia desmantelamento do Cenpes

Data da publicação: 02/12/2016
Um estudo da Associação de Engenheiros da Petrobrás assinado pelo próprio presidente, Felipe Coutinho (foto), e por um de seus colaboradores, o economista José Carlos de Assis, faz críticas duras ao processo de venda de ativos da Petrobrás e denuncia o que chama de desmantelamento de um dos mais importantes departamentos da empresa, o Cenpes, o seu centro de pesquisas. Antes de o Petronotícias ter acesso ao teor do documento, ele foi enviado para o Presidente da Petrobrás, Pedro Parente, pela própria associação. A resposta da companhia veio por intermédio dos diretores Jorge Celestino e Nelson Silva, das áreas de abastecimento e estratégia, onde declaram que a proposta da Aepet não era adequada. O objetivo da associação, garante Felipe Coutinho, é buscar auxiliar a empresa neste momento de dificuldades.
Segundo o estudo, a Petrobrás não precisava e ainda não precisa vender seus ativos para reduzir o nível de endividamento. Ao contrário, afirma, na medida em que vende esses ativos, reduz sua capacidade de pagamento da dívida no médio prazo e desestrutura sua cadeia produtiva, em prejuízo à geração futura de caixa, além de assumir riscos empresariais desnecessários. A avaliação feita pela Aepet defende que a escolha política e empresarial de alienação de ativos é desnecessária.
A alternativa proposta pela associação preserva a integridade corporativa e sua capacidade de investir na medida do desenvolvimento nacional e em suporte a ele. Enquanto garante a sustentação financeira, tanto pela redução da dívida, quanto pela preservação da geração de caixa a médio prazo. O documento diz, entre outras coisas, que:

“A venda de ativos operacionais, muitos deles altamente lucrativos, prevê acumular 19,5 bilhões de dólares no biênio 2017/18. Resultaria numa redução antecipada da dívida, com a alavancagem – relação dívida líquida/geração de caixa após dividendos – caindo de 4,5 para 2,5 até 2018. A meta de redução da alavancagem e seu prazo são arbitrários, embora possam ser apresentadas de forma dogmática. Trata-se de uma decisão de natureza política e empresarial que é frequentemente elevada à condição de verdade científica ou algo similar a uma revelação divina.”

Na alternativa proposta a partir de parâmetros públicos da Petrobrás, a associação afirma que, sem vender um único ativo, a alavancagem poderia cair de 4,5 para 3,1 em 2018. A amortização anual da dívida, com recursos de parte da geração de caixa, resultaria na redução da alavancagem para 2,5 em meados de 2021. O estudo, afirmam os engenheiros, é conservador na medida em que não contabiliza a geração de caixa adicional pela preservação dos ativos rentáveis que se pretende vender até 2018, graças à receita operacional, proporcional ao porte de uma empresa que é a maior do Brasil e da América Latina. Apenas usando parte da geração de caixa, diz o estudo, a companhia pode ir amortizando sua dívida e trazê-la para um nível razoável, sem afetar a distribuição de dividendos e os investimentos previstos. A venda de ativos produz exatamente o oposto, no médio prazo. Reduziria a capacidade futura de geração de caixa da empresa, porque os ativos já privatizados eram significativamente lucrativos.

No documento enviado à Petrobrás, a Aepet traz a informação de que a gestão Dilma-Bendine apresentou um Plano de Negócios similar ao atual. Previa vendas de ativos da ordem de 57 bilhões de dólares até 2020, cerca de um terço do patrimônio da Petrobrás. A atual gestão Temer-Parente planeja privatizar 34,6 bilhões de dólares até 2021, sendo 15,1 bi até 2016 e 19,5 bi até 2018.

No documento entregue ao Presidente Pedro Parente, a Aepet denuncia o que chama de desintegração do Cenpes, o Centro de Pesquisas da Petrobrás:

“O Cenpes é fundamental para os avanços tecnológicos da companhia, responsável por resultados reconhecidos internacionalmente. Na recente reestruturação da Petrobrás, o Cenpes foi desmembrado, com o fim do reconhecido modelo de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia básica (PD&E) que vigorava há 40 anos. O modelo articulava a relação entre a pesquisa nas universidades, a experiência operacional da companhia e os fornecedores de bens e serviços. A Engenharia Básica do Cenpes foi extinta e seus profissionais transferidos à área de projeto e empreendimento.”

O Petronotícias procurou ouvir a Petrobrás, mas a empresa disse, através de sua assessoria de imprensa, que não iria comentar o assunto. Não confirmou, nem negou.

Publicado em 02/12/2016 em Petronotícias.