Tenho assinalado que os processos de desnacionalização da economia, de desindustrialização e de desestruturação do Brasil foram desencadeados desde o golpe de Estado de agosto de 1954.
A corrupção na política e em instituições públicas e privadas, que viabilizou esse golpe, tornou-se uma constante ao longo de nossa história, desde então ficando o país destituído de verdadeira autonomia.
Refiro-me à corrupção proveniente de fontes estrangeiras, no interesse do sistema financeiro e dos carteis transnacionais, mais que à gerada internamente, da qual se faz grande alarde, como instrumento de mais intervenções contrárias aos interesses nacionais.
Em todas as intervenções políticas sofridas pelo país, desde 1954, tem estado subjacente, a ameaça de intervenção armada estrangeira, muitas vezes velada, salvo no próprio golpe de 1954 e no de março de 1964.
Ela faz parte do leque de instrumentos intervencionistas, em que tem sobressaído, cada vez mais, a corrupção sistêmica, por parte de fontes estrangeiras, valendo-se, pois, da Quinta Coluna, ampliada e desenvolvida dentro do país ao longo dos últimos 62 anos.
A desnacionalização da economia, a desindustrialização e a desestruturação – resultantes do modelo econômico implantado – produziram, entre outros efeitos perversos, minar as finanças do país, formando dívidas públicas imensas.
A seguir, transformaram essas dívidas em fonte adicional de empobrecimento, mediante a decretação de juros, correção monetária e outras taxas exorbitantes, cuja capitalização as fez crescer exponencialmente.
De fato, a dívida pública interna teve seu saldo multiplicado mais de 25 vezes, somente após a edição do Plano Real (1994), cujos mentores fraudulentamente o proclamaram como estabilizador da economia e da moeda, e eliminador da correção monetária.
A dimensão dessa mentira criminosa pode ser avaliada compulsando a taxa SELIC acumulada no ano seguinte ao Plano Real (1995): 53% ao ano. Em 1994, já ultrapassara 12%.
Isso ilustra a cumulatividade do processo de subdesenvolvimento, já que o enfraquecimento financeiro decorrente do serviço da dívida pública se soma ao proveniente das demais mazelas geradas pelo modelo econômico: déficits externos colossais advindos da desnacionalização da economia, superfaturamento escandaloso dos bens vendidos no Brasil pelas empresas e carteis transnacionais, inclusive os das ex-estatais privatizadas, infraestrutura inadequada e geradora de custos altos.
Tem feito parte dessa cascata de consequências deletérias do modelo, implantado desde 1954, debilitar as Forças Armadas, abaixar a qualidade cultural, o grau de identificação das pessoas com a nação, o nível da educação em todos os graus e, finalmente, o êxodo, por falta de oportunidades de trabalho, de residentes qualificados.
Tudo isso concorre para explicar por que, em todos os governos, tenham, no cômputo geral, prevalecido os interesses dos que saqueiam a economia do Brasil sobre os dos residentes.
Explica também por que as potências imperiais, que lideram esse saqueio, não precisaram recorrer a ameaças de intervenção armada explícita nas diversas sucessões presidenciais ocorridas desde 1967.
Há que ter presente que essas potências não costumam abster-se de tal tipo de intervenção, quando o julgam necessário, mesmo fora do Continente Americano, incluídas as ilhas e o Mar do Caribe, considerado um lago norte-americano, do ponto de vista real.
Atualmente, desde a participação da aviação e de mísseis da Rússia para deter a devastação da Síria (repetindo as do Iraque e Líbia, para citar só as mais recentes), o quadro do poder mundial pode estar tendo modificação após a situação de 1990 em diante, quando o império anglo-americano se viu de mãos livres para invadir direta ou indiretamente qualquer nação cuja liderança estivesse deixando de cumprir integralmente os ditames imperiais.
Notável é que, não só na grande mídia brasileira – que pratica, sem cerimônia, toda desinformação possível a serviço do império, inclusive distorções semânticas das palavras – também o grosso da mídia dos países ocidentais e Japão, entre outros, apoia sistematicamente a deformação das consciências, ocultando-lhes a realidade dos fatos e inculcando-lhes preconceitos e ideologias facilitadores da aceitação do governo mundial.
Exemplo impressionante disso é a cobertura da intervenção militar por meio de mercenários e terroristas, patrocinada pelos EUA e seus satélites da OTAN e regionais, por parte do jornal francês Le Monde.
Esse diário – que foi um dos mais acatados, mercê da qualidade e independência dos jornalistas, proprietários dele – foi recebendo participações de capital de grupos financeiros, até estes passarem a ditar a linha editorial.
Assim, o Le Monde refere-se como “guerra civil” à brutal intervenção armada estrangeira na Síria, comandada pelo governo dos EUA, que resolveu proclamar que o presidente da Síria, Assad, tem de sair e pronto. E só fala dos mercenários, terroristas e degoladores do ISIS (Estado Islâmico) como os “rebeldes”, como se fossem cidadãos locais em conflito com o respectivo governo.
Publicado em 08/03/2016 em Correio da Cidadania.