A profundidade das ponderações geopolíticas de Paulo Metri e o conhecimento técnico factual de Fernando Siqueira ensejam ao Conselho Diretor do Clube de Engenharia uma posição de vanguarda nas discussões sobre a questão petróleo.
Essa afirmação não pressupõe a exclusão de quem quer que seja no debate. Aliás, o mesmo Conselho guarda em suas fileiras a expressiva presença de Guilherme Estrella, seguramente a mais qualificada personagem do enredo \”pré-sal\” brasileiro.
Contudo, em que pese o indiscutível posicionamento vanguardeiro do citado Conselho, pouca é a sua influência no contexto decisório nacional onde os segmentos legislativo e executivo do País, o \”lobby\” das empresas petrolíferas e as instituições reguladoras e fiscalizadoras específicas influenciam pragmaticamente as decisões maiores, cercando, lamentavelmente, de inutilidade prática aquelas ponderações profundas e aquele conhecimento factual.
Na raiz da questão está o isolamento popular da empresa nacional que desde sua criação negligenciou a tarefa cultural de tornar-se visível ao povo brasileiro como instrumento inteligente de obtenção de soberania. A criação da Petrobrás deveria ter sido acompanhada de uma iniciativa de inclusão do assunto \”petróleo brasileiro\” na grade de disciplinas de formação do então ciclo secundário. E, convenhamos, o apelo nacionalista que cercou sua gênese — 1953 — justificaria facilmente tal inclusão curricular. Ao contrário disto, a empresa se autocolocou no pedestal de excelência em tecnologia — e não se discute sua eficiência nesse universo técnico —, mas fez-se distante do povo — para quem é essencial — e corre o risco de não contar com a sua ajuda efetiva na tentativa de se reerguer como \”empresa orgulho dos brasileiros\”.
Na tarefa de diminuir o valor da Companhia perante a sociedade, a mídia parceira daqueles \”lobbies\” salienta as falcatruas recém-descobertas na sua gestão e chega a sentenciar o \”pré-sal\” como uma falácia, como um tesouro inútil ao País. Recentemente, parte das redes sociais da Internet vêm fazendo chacota das declarações presidenciais que, há um ano atrás, anunciavam a Nação Educada e de Saúde Controlada decorrente da exploração daquela riqueza. Aqueles que por razões ligadas à sua formação técnica compreendem a empresa pelo viés técnico e geopolítico — ínfima representação da sociedade brasileira — se ressentem da ausência de posições socio-nacionalistas capazes de incluir o povo na discussão, do que resulta uma espécie de discussão meramente corporativa — as representações sindicais dos petroleiros — nas quais, supostamente, são defendidos os interesses classistas e não os interesses nacionais.
Assim, simultaneamente à tarefa de enganar o povo, as forças infinitas daqueles que há 63 anos aspiram dominar o petróleo brasileiro, cuidam de sua alienação política, como o fazem com o nióbio e as terras raras e com todas as benesses naturais do planeta marcadas no território brasileiro. Faça-se uma enquete popular pelo Brasil inteiro e busque-se saber quem sabe o que significa o Nióbio, e que posição natural o Brasil ocupa na escala mundial de suas jazidas. O resultado da enquete todos sabemos.
Se a escola é o instrumento desalienador e se a educação é mesmo o passaporte para a verdadeira independência, que se insira nos \”curricula\” de formação dos nossos jovens, disciplinas que tratem especificamente das nossas riquezas, se possível com uma certa dose de ufanismo. Paulo Metri e Fernando Siqueira dispõem de farto material de referência para tal fim. Não custaria nada para a Nação. Bastaria organizar e imprimir e tornar obrigatório o seu conhecimento para um bom resultado nos ENEM.
Insistir em privilegiar os conceitos do mercado — na marcha globalizante do neoliberalismo — e contribuir com o pragmatismo de progresso dissociado da sensibilidade e do conhecimento médio popular — que é o caso das manifestações de orgulho técnico usufruído apenas por minorias — torna dispensável a bandeira nacional e dispersa aqueles poucos que ainda demonstram paixão no que concerne à defesa dos direitos nacionais e sociais do Povo.
Alimento a esperança de que existam outras formas de trazer o povo à luta, de fazer chegar a ele a verdade, mas reconheço a minha utopia. As limitações de inteligência impedem-me outras sugestões pacíficas de doutrinação.
Nota: Não pedi autorização prévia aos colegas citados. Confio que eles me creditam essa licença e reconheço a importância do papel que eles desempenham no esclarecimento popular sobre a questão petróleo.