As informações que circulam sobre o pré-sal geram controvérsia porque são, via de regra, parciais. Evitam abordar a questão como um todo para dar destaque apenas à visão de grupos. Não é mais hora para este tipo de comportamento. Não é mais aceitável a omissão de fatos e dados que negam ou desmentem a visão que interessa a alguns.
Os propagandistas do pré-sal não dizem, por exemplo, que o petróleo a ser produzido nestes campos tem volume e qualidade desconhecidos e é um petróleo caro por suas próprias características de localização – grande profundidade e distância da costa.
A própria Petrobras evita divulgar o custo de produção de um barril do pré-sal, número essencial para que se conheça a viabilidade do empreendimento.
Esta mesma Petrobras, ao localizar um novo campo no pré-sal, divulga sempre que encontrou um petróleo de boa qualidade, informando simplesmente sua densidade segundo a escala API (American Petroleum Institute). Ora, um petróleo de boa qualidade tem que ter muitas outras características para ser classificado como “de boa qualidade”. A Petrobras omite a presença ou não de enxofre, ácidos e outros agentes corrosivos e poluentes na composição dos petróleos descobertos. A existência desses componentes nocivos aumenta sobremaneira o custo de refino desses petróleos e não livra os derivados totalmente de sua presença. Em resumo, as informações da Petrobras sobre o pré-sal são sempre muito vagas.
Outros grupos, ainda, relacionam a existência do pré-sal com a soberania nacional. Nada mais equivocado. Estamos vivendo neste momento uma séria crise interna justamente por falta de soberania. Bancos credores e seu mentor, o FMI, estão impondo ao governo brasileiro limites ao custeio e ao investimento públicos em muitas áreas, com ênfase nas áreas sociais como a saúde, a educação e a segurança, exatamente para que a União continue pagando a dívida que tem com esses agentes e que alcança quase a metade do orçamento nacional. Ou seja, o país não tem autonomia para definir sua política interna. O petróleo do pré-sal não serve nem como fiança para tal dívida nunca auditada.
Outra informação que tem circulado com insistência é a de que os EUA estão de olho no pré-sal. É possível que sim, mas também é possível que ela faça parte da permanente teoria da conspiração da qual o nosso país é alvo, segundo alguns. Os EUA estão de olho em todo o hemisfério ocidental e já em boa parte do oriental. Todavia, no que tange ao petróleo, os EUA têm sob seu controle cerca de 700 bilhões de barris de petróleo (este, sim, de boa qualidade) na área do Golfo Pérsico. Ali, os EUA têm 11 bases militares instaladas e em operação para garantir esse controle. O petróleo dos países do Golfo, além de ser de boa qualidade, é produzido em terra e em campos de baixa profundidade. É, portanto, um petróleo de custo de produção muito inferior ao do pré-sal. Numa escala de valores em um mundo capitalista, o petróleo dos países do Golfo é muito mais interessante que o petróleo do pré-sal.
Não se pode esquecer que, dado que cerca de 70% de todo o petróleo produzido no mundo é transformado em derivados a serem queimados em máquinas de muito baixa eficiência mecânica – os motores de automóveis, caminhões, locomotivas ferroviárias, navios e aviões – é mais do que claro que já ultrapassamos o momento de termos à nossa disposição um modelo energético mais inteligente, de vez que a queima ineficiente de derivados não condiz com o atual estágio de desenvolvimento tecnológico, sobretudo dos países de ponta.
Além disso, há os efeitos nocivos dos resíduos liberados pela combustão nos motores dos automóveis e veículos de transporte coletivo, em especial nas grandes áreas urbanas, sobre a saúde da população, tidos e havidos como causadores de doenças graves como os problemas pulmonares e o câncer no sistema respiratório.
Finalmente, não há como negar, com base nos fatos expostos acima, o interesse das indústrias farmacêutica e automobilística na continuidade do modelo centrado nos derivados de petróleo, já que colhem parcela significativa de seus lucros do uso do petróleo, incluindo o do pré-sal.