Artigo

Vale tudo

Data da publicação: 17/08/2015

O proselitismo político adotou a tática do vale tudo. Qualquer estória, qualquer notícia, por mais singela que seja, é usada como pretexto para um ataque ao governo e aos políticos. Recebi, recentemente, via internet, uma furiosa mensagem de alguém que não conheço, criticando a sanção, pela presidente Dilma, de um decreto legislativo que determina às instituições de ensino brasileiras o emprego obrigatório da flexão de gênero para nomear profissão ou grau em diplomas. Implicava o rancoroso cidadão com o fato de que, a partir dessa determinação, estaríamos obrigados a chamar a Dilma de presidenta, alegando que um erro de português havia se tornado lei. Completava, com uma série de exemplos de palavras que poderiam ter a grafia alterada, citando, dentre outras, gerenta, dentisto, oculisto, motoristo, etc.

À parte o humor que abastece manifestação tão estapafúrdia, ditada pelo único objetivo de atingir a presidente, o tema merece atenção e esclarecimento. A obrigatoriedade da lei está dirigida às instituições de ensino e cobre, apenas, os diplomas e certificados expedidos por aquelas instituições. Assim sendo, quem quiser chamar a Dilma de presidente não precisa se preocupar porque o diploma de Chefe de Estado não é expedido por qualquer instituição de ensino.

A ausência da mulher do mercado de trabalho consolidou, ao longo do tempo, a denominação das profissões com o gênero masculino. Assim, os diplomas e certificados de conclusão costumavam designar uma profissão masculina, independente do sexo do(a) formando(a). As mulheres merecem respeito e é muito justo que elas sejam diplomadas como médicas, engenheiras, advogadas, psicólogas, professoras, aviadoras, matemáticas, químicas, físicas, enfermeiras, etc., e não com as designações de gênero masculino, como vinha acontecendo.

Os exemplos dados não se sustentam, pois, dentista, motorista e oculista são palavras neutras e, nesses casos, o que diferencia o gênero é o artigo que as precede: o dentista e a dentista, por exemplo. O mesmo se aplica a um grande número de outras palavras relativas a ocupações profissionais, como jornalista, especialista, diplomata, artista, guarda, militar, policial, comerciante, industrial, servente, analista e outras que tais, cuja grafia é comum aos dois gêneros.

As mulheres estão de parabéns. A lei é boa, justa e não implica em qualquer erro de português. Errado está o autor da piadinha, interessado apenas na crítica ao Congresso e ao governo e despreocupado com o seu próprio desconhecimento.