Artigo

O longo caminho da mulher na busca pela igualdade

Data da publicação: 30/06/2015

A presença da mulher no mercado de trabalho

No nosso cotidiano, atitudes corriqueiras e aparentemente inofensivas, realizadas sem nenhuma reflexão sobre o porquê de agimos assim, pode ter um impacto, maior que imaginamos, no convívio com outras pessoas. Porém, muitas dessas atitudes naturalizadas são provenientes de construções simbólicas sociais que incorporamos sem nos darmos conta. Podem ser resultado de aprendizados que recebemos desde a infância dentro de casa, no convívio com colegas e amigos, nos exemplos que nos são dados, nos programas de televisão, ou seja, estas influências são inumeráveis. O estereótipo criado sobre a mulher, a forma como são vistas, em qualquer ambiente, incluindo o do trabalho, é derivado do que apreendemos ao longo da vida, ou seja, lhe é atribuído um papel social e dele resultará o modo como nos relacionamos com elas.

A posição da mulher vem mudando na sociedade ao longo dos anos, mas estas conquistas ainda são muito recentes e não houve tempo suficiente para serem internalizadas, sendo assim, aparentemente pode parecer que os direitos iguais foram conquistados, só que a realidade é outra. Ainda existe um sexismo amplamente difundido e arraigado em nossa sociedade, encarado tão naturalmente por um número considerável de pessoas que fazem parecer que não houve avanços, que ainda vivemos em uma época anterior aos movimentos feministas. As redes sociais estão cheias de exemplos de mulheres insultadas por defender a igualdade de gêneros, ou por denunciar casos de discriminação e até estupro.

O fato é que a dominação masculina, ao longo da história, está longe de ser superada e não se expressa unicamente quando relega a mulher a um único papel, o de dona de casa, também está na diferença salarial e nos postos destinados a elas, em atitudes machistas, discriminatórias e misóginas. Esta percepção sobre a mulher não é somente disseminada por homens, mas também pela compreensão que elas têm de si mesmas e como isto contribui para a propagação de sua imagem na sociedade. Ainda continuamos educando nossos filhos de modo diferente de nossas filhas, os brinquedos deles são carrinhos e armas, os delas são bonecas e panelinhas, como se as mulheres não pudessem ter seus carros e o trabalho doméstico não devesse ser obrigação coletiva independentemente do gênero.

Existe um ideal de mulher continuamente explorado, aquela que se destina a servir ao lar, ao marido e aos filhos e também é a sedutora, a que quer ser desejada por seus atributos físicos, este modelo serve ao propósito da dominação masculina. Eles são constantemente reafirmados todos os dias por comerciais que mais que vender um produto, vendem machismo. Não faltam exemplos, os de cerveja são campeões em transformar a mulher em objeto idealizado para satisfazer e obedecer ao homem, a campanha “Verão” de uma cervejaria é o arquétipo deste sexismo, a desculpa é que não se trata de machismo e sim de humor.

O discurso contido nos comerciais é oriundo da própria sociedade e contribui para consolidar a representação, principalmente a dominante, do mundo que nos cerca. Assim como reflete o meio social, esse discurso amplifica certos signos, propagando uma visão conservadora e estereotipada sobre as responsabilidades e o papel que cabe a cada gênero, reforçando a condição inferior das mulheres nas diversas esferas de sua vida. Há pouco tempo a revista Carta Capital publicou uma matéria que denuncia o machismo existente no mercado publicitário, onde a mulher tem pouca voz e para manter suas carreiras acabam obrigadas a trabalhar com estes conceitos e com o lugar-comum, pois é o único padrão admitido pelos seus colegas e clientes, as que tentam mostrar outro viés acabam hostilizadas.

Como podemos perceber, muitas atitudes aparentemente corriqueiras parecem inocentes manifestações socioculturais, pois estão naturalizadas no nosso comportamento, mas, infelizmente, prejudicam o avanço dos direitos da mulher e a conquista de uma posição mais equânime no mercado de trabalho. Portanto, fica evidente que ainda falta um longo caminho a percorrer para que a igualdade seja de fato conquistada, até mesmo a própria mulher precisa ter consciência, se quiser avançar, sobre os padrões que formam a mentalidade permitindo a perpetuação da dominação masculina.

FONTE: AEPET Notícias 410