Estes são alguns exemplos do que se pensa sobre o assunto:
“Ser jornalista hoje é ser um profissional constantemente atualizado, preocupado com a questão da formação e da qualificação. É ter consciência da questão ética”.
Cláudia Melo, repórter de O Liberal (PA)
“Sua atividade é ainda mais difícil do que parece: é indispensável que este(a) profissional desempenhe sua tarefa com absoluta noção de seus princípios éticos, sem se deixar contaminar por influências políticas ou interesses pessoais”.
Cláudio Lessa, colunista do site Direto da Redação
“O bom jornalista é aquele que é criativo, investigador, objetivo, mergulha com profundidade nos assuntos e, acima de tudo, tem a ética como religião”.
Fernando Barbosa Lima, editor da FBL Criação e Produção (RJ)
O jornalista Ricardo Noblat também está entre os que analisam o ofício do profissional da imprensa e escreveu um livro intitulado “O que é ser jornalista”. No último domingo (03/12), porém, Noblat publicou em seu blog o artigo “Um perfil inédito para a Petrobras” (anexo I), no qual mostra não ter preocupação alguma em examinar com profundidade o assunto, o que o leva a difundir informações falsas, confundindo a opinião pública. Nada mais antiético do que isso!
No início do artigo, há a seguinte afirmação: “O tempo da nova administração com Pedro Parente à frente, ministro-chefe da Casa Civil de Fernando Henrique Cardoso, é curto, porém os danos causados pelo lulopetismo na estatal foram tão sérios que apenas uma terapia profunda evitaria que a empresa tivesse de ser socorrida pelo Tesouro, com o país em grave crise fiscal. Deu certo”.
Como acontece nas cartas enviadas aos petroleiros por Pedro Parente, atual presidente da Petrobras, e Ivan Monteiro, diretor financeiro da empresa, em seu artigo, Noblat não apresenta números para provar o que afirma; ou seja, faz asseverações sem análises, por incompetência ou má intenção.
Nos dados financeiros dos últimos balanços auditados e publicados pela Petrobras, encontramos as seguintes informações:
2012 2013 2014 2015 2016
LC* 1,7 1,5 1,6 1,5 1,8
GOC** 27,04 26,30 26,60 25,90 26,10
Caixa*** 13,52 15,87 16,66 25,06 21,2
* LC = liquidez corrente
** GOC = geração operacional de caixa (US$ bilhões)
*** Caixa = disponibilidade de caixa no final do exercício (US$ bilhões)
Não é preciso ser analista de balanços para verificar que uma empresa com tais números não tem – nem nunca teve – qualquer problema financeiro.
Se o sr. Noblat conhecesse melhor a questão que aborda, verificaria que, em vez de a Petrobras ser socorrida pelo Tesouro, o que ocorreu foi o inverso. No final de 2016, a companhia adiantou R$ 20 bilhões para o BNDES a fim de aliviar o caixa do banco (anexo II). Além disso, uma dívida de R$ 16 bilhões da Eletrobras com a Petrobras vem sendo mantida em “banho-maria” e sem resolução (anexo III). Mesmo assim, a Petrobras terminou o ano com mais de US$ 20 bilhões em caixa.
Que ocorreram problemas de corrupção na administração petista é inegável, assim como aconteceram em administrações anteriores. A diferença é que a principal fonte das propinas, que são os investimentos, passaram de US$ 5 bilhões ao ano em administrações anteriores para US$ 40 bilhões ao ano com a descoberta do pré-sal. Esperamos que os responsáveis sejam devidamente penalizados e os recursos roubados devolvidos à Petrobras. Mas, como vimos nos números financeiros, isto não abalou a estrutura da empresa e não pode servir de justificativa para que erros ainda mais graves sejam cometidos.
A maior herança das administrações petistas foi a descoberta das enormes reservas do pré-sal, fato inicialmente contestado pelo atual presidente da Petrobras (anexo IV), que agora voltou atrás reconhecendo sua importância. O que Pedro Parente herdou foi uma empresa com tecnologia desenvolvida para explorar reservas sobre as quais detém direitos por lei. Isso faz com que a disponibilidade de recursos oferecidos à empresa seja cada vez maior e a juros mais baixos.
Além disso, Parente recebeu uma Petrobras com mais de R$ 100 bilhões em caixa (anexo V), correspondente na época (30/05/2016) a mais de US$ 28 bilhões. O maior caixa da história da companhia, equivalente a mais de 25% de sua dívida líquida.
Em seu artigo, Noblat tenta confundir o leitor também acerca de outros aspectos: “Sufocada pela maior dívida corporativa mundial (meio trilhão de reais) a empresa passou a vender ativos – como recomendava a sensatez”.
Primeiramente, é preciso esclarecer que, no final de 2015, a dívida da Petrobras chegou perto do valor apontado (meio trilhão de reais), quando a cotação do dólar esteve próxima de R$ 4,00. Com a valorização do real, a dívida voltou a R$ 350 bilhões, o que não é nada alarmante para uma empresa que tem uma geração operacional de caixa anual de R$ 90 bilhões (2016).
Qualquer empresa gostaria de possuir a dívida da Petrobras desde que tivesse os mesmos direitos de exploração do pré-sal. A exploração do pré-sal vai garantir que a geração de caixa da companhia aumente enormemente quando os ativos entrarem em operação (a partir de 2021).
A Petrobras não tem nenhuma necessidade de venda de ativos, o que já está mais do que demonstrado (anexo VI). Venda de ativos é só uma doença neoliberal que alcançou o auge com Ronald Reagan e Margaret Thatcher. Atualmente, com Donald Trump e o Brexit, caiu em completo desuso. Mas para nossa infelicidade, venda de ativos produtivos a preço de banana é a maior especialidade de Pedro Parente.
Acerca desse ponto, Noblat discorre em seu artigo sobre conteúdo local. É tanta bobagem que um brasileiro não merece perder seu tempo comentando tais elucubrações.
Na sequência, o autor fecha seu texto com chave de ouro: “É parte desta mudança a conexão dos preços internos aos externos, como nas grandes e desenvolvidas economias. Daí gasolina, diesel etc. estarem oscilando nas refinarias brasileiras. Algo impensável nas últimas décadas”.
A Petrobras sempre teve praticamente 100% do mercado brasileiro de derivados de petróleo. Principalmente os mercados de diesel e gasolina.
A atual administração, no entanto, mostra-se totalmente incompetente e perdida no assunto. Já escrevi diversos artigos sobre isto, é junto aqui o último deles (anexo VII).
Noblat não verificou que a nova política de preços foi introduzida em outubro de 2016, prometendo retomar o market share da companhia. A atual administração levou oito meses para perceber que isso não estava funcionando. Em 30 de junho de 2017, foi lançado um novo modelo, que prometia corrigir os erros da primeira versão. Porém, segundo declarações de Ivan Monteiro e do próprio Pedro Parente, feitas na apresentação dos resultados do terceiro trimestre de 2017, esse modelo também não funcionou. A empresa continuou a perder market share, afetando seu resultado.
O fato é que – como sempre – não existe nenhuma transparência sobre o assunto. Nunca foi mostrada uma memória de cálculo.
Sem concorrência, o gás liquefeito de petróleo está sendo vendido por um valor 41% superior ao do mercado internacional (anexo VIII) e o preço do gás de cozinha tem prejudicado o orçamento das famílias mais pobres (anexo IX).
É preciso lembrar ao sr. Noblat que nosso país ainda não é uma grande e desenvolvida economia. A variação cambial – que nas grandes economias oscila no máximo entre 5% e 10% ao ano –, no Brasil, pode ter a mesma oscilação (ou maior) em apenas um mês, afetando importações e exportações.
Talvez a atual administração devesse contratar alguns especialistas das administrações anteriores, para aprender a trabalhar.
Verificamos portanto, que o Sr. Ricardo Noblat não tem um mínimo de conhecimento sobre o tema do artigo que escreveu. Então o que o teria motivado e inspirado para escrevê-lo ?
Cláudio da Costa Oliveira
Economista aposentado da Petrobras
ANEXO I
http://www.gsnoticias.com.br/noticia-detalhe/governo-e-politica/perfil-inedito-petrobras
ANEXO V
http://bomdiafeira.com.br/noticias/10156/bendine-renuncia-a-presidencia-da-petrobras.html
ANEXO IX
https://www.conversaafiada.com.br/economia/parente-provoca-queimaduras-em-pobre