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Moody’s, Fitch e Standard & Poor’s, agências de classificação de risco servem a quem?

Data da publicação: 26/04/2017

Fica difícil entender os critérios utilizados pelas agencias na classificação das empresas, tendo em vista a distância dos ratings da Petrobras em relação aos da Chevron.

Criada em 1954 a Petrobras só veio a obter “grau de investimento” em 2007. Portanto a empresa cresceu, criou uma rede distribuição, refinarias, dutos, descobriu o pós-sal de Campos e o pré-sal, sem se dar conta de nunca ter sido agraciada com tal distinção.

A concessão no entanto foi efêmera, pois já em 2015 foi retirada sob a alegação de que a empresa tinha uma “alavancagem” muito elevada. As agências de classificação utilizam a escala abaixo para enquadramento das empresas.

Em fevereiro de 2017 a Standard & Poor’s elevou o rating da Petrobras de B+ para BB- . Em abril de 2017 a Moody’s elevou o rating da Petrobras de B2 para B1.

Há décadas as maiores petroleiras privadas, conhecidas como “majors” ou “International Oil Companies”-OIC’s (Exxon, Chevron, Shell, BP e Total), vem sofrendo queda em suas reservas e redução na produção.

O presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras, Felipe Coutinho, num excelente artigo intitulado “O fracasso da gestão das multinacionais do petróleo e as lições para a Petrobras” salientou : “Muitos ignoram os problemas da indústria mundial do petróleo, em especial das multinacionais (IOC’s), ou quando tanto associam estes problemas à queda dos preços do petróleo desde de junho de 2014. Ocorre que os problemas são graves e datam de muito mais tempo, sendo em grande parte decorrentes do modelo de negócios e de gestão adotados” e complementa “Até 1970 elas controlavam mais de 85% das reservas de petróleo mundiais, além de 70% da capacidade de refino, os principais oleodutos, e 2/3 dos navios petroleiros, fora dos EUA e dos países ditos comunistas. As multinacionais (IOC’s) hoje tem menos de 5% das reservas provadas de petróleo e gás natural e menos de 20% da capacidade mundial de refino”.

O quadro abaixo mostra a situação atual (2013) das IOC’s na produção, reservas, refino e vendas de petróleo no mundo.

Mais esclarecedor ainda, a tabela abaixo mostra a evolução da produção das “majors” no tempo.

Não obstante a clara decadência das IOC’s nas últimas décadas, os indicadores de rating não refletiram a verdade dos fatos.

Tomando como exemplo a americana Chevron verificamos que a mesma sofreu em fevereiro de 2016 um rebaixamento pela Standard & Poor’s de AA para AA-, e em abril de 2016 pela Moody’s de Aa1 para Aa2. Portanto inexpressivo.

Comparando algumas informações financeiras da Chevron com a Petrobras, verificamos o seguinte : CAIXA EM 31 DE DEZEMBRO – US$ bilhões

À partir de 2014 o caixa da Petrobras foi sempre superior ao da Chevron culminando em 2016 onde é mais do triplo do caixa da IOC.

A liquidez corrente ( que representa a capacidade da empresa de cobrir seus compromissos de curto prazo) da Petrobras foi superior à da Chevron por praticamente todo o período, com destaque para 2016 onde é o dobro da liquidez da “major”:

A queda nos preços do petróleo em 2015 e 2016 afetou forte e negativamente a geração operacional de caixa da Chevron que em 2016 representou menos da metade da geração da Petrobras cujas receitas não sofrem influência das variações no preço do barril.

Considerando que o Patrimonio Liquido da Chevron ( 2015-US$ 154 bilhões e 2016-US$ 147 bilhões) é praticamente o dobro do da Petrobras ( 2015-US$ 66 bilhões e 2016-US$ 78 bilhões) a geração operacional de caixa indica que a Petrobras é enormemente mais rentável que a Chevron e/ou tem um Patrimonio Liquido sub avaliado não retratando o verdadeiro valor da empresa.

Pelo exposto fica difícil entender os critérios utilizados pelas agencias na classificação das empresas, tendo em vista a distância dos ratings da Petrobras em relação aos da Chevron . Melhor que todos assistam ao documentário “Trabalho Interno”, ganhador do Oscar em 2011 (vide google/youtube) que fala sobre a crise americana de 2008 e esclarece que as agencias de rating são sustentadas por grupos financeiros e atribuem as classificações segundo seus interesses.

Felizmente para as Petrobras, o mercado financeiro em geral, não considera os indicativos das agências de risco, e todas as vezes em que a empresa buscou recursos no mercado nos últimos anos, a oferta foi sempre muito superior ao demandado e os juros inferiores aos do período em que ela era grau de investimento.

Publicado em 26/03/2017 em Brasil 247.