Artigo

A corrupção na Petrobrás X Soberania do Brasil

Data da publicação: 03/12/2014
Autor(es): Henrique Sotoma

Inicialmente, vejamos algumas particularidades sobre o nosso Brasil:

1) É um país incrível: possui uma grande dimensão territorial, possui uma das maiores florestas tropicais, possui água doce em abundancia que pode facilmente ser transformada em água potável e transportada via aquedutos para os grandes centros consumidores, possui terras agricultáveis, minérios de ferro, petróleo ; e,por ser um país tropical em que boa parte de seu território recebe a incidência de raios solares é perfeitamente possível instalar pequenos coletores solares para fins de aquecimento e geração domestica de energia elétrica; temos, também, a incidência de ventos com uma força capaz de girar pequenas turbinas eólicas para geração de consumo domestico e iluminação publica, deixando a geração hidráulica e termelétrica para o consumo das grandes industriais e grandes centros populacionais.

2) Temos uma população economicamente pobre e uma classe media ávidos para o consumo de bons produtos, mas que sejam acessíveis ao seu bolso; como fazer para que essas pessoas tenham acesso? Só há um caminho: através da educação (fim do analfabetismo, formação de técnicos de nível médio e superior ) dando-lhes a ferramenta para o seu desenvolvimento econômico e social aliado a uma boa estrutura como moradia, saúde, saneamento básico transporte e segurança.

Ou seja, somos um país que tem matéria prima para alavancar toda uma indústria de transformação e daí partirmos para uma industrialização transformando-os em produtos e consumindo vários serviços de infraestrutura; enfim, temos grandes oportunidades pela frente. Além disso, como dito acima, temos um grande mercado consumidor que só não se concretiza pela falta de oportunidades de um desenvolvimento social e econômico contínuo para as classes menos favorecidas.

Infelizmente, somos um país que se contenta com muito pouco; em 1993 sob o governo do então presidente Itamar Franco, criou-se as condições politicas para que o Plano Real fosse implantado; FHC nessa ocasião era o Ministro da Fazenda e com isso o Plano Real também levou a assinatura de Fernando Henrique Cardoso. Mudou a moeda de cruzeiro para real; o povo ficou feliz pelo fato do Governo ter baixado a inflação e controla-lo em níveis satisfatórios.

Em seguida, FHC foi eleito presidente para o seu primeiro mandato em 1994 com o apoio de Itamar Franco. E o pior estava por vir: enquanto o povo se contentava com a queda da inflação, FHC privatizou várias empresas estatais, entre elas a Vale do Rio Doce, Bancos Estaduais, Telecomunicações, etc., vendendo-as para grandes empresas privadas nacionais e estrangeiras e ainda financiou essas privatizações através do BNDES utilizando juros subsidiados.

Com a ajuda do Congresso Nacional, FHC reformou a Constituição permitindo a livre entrada para o capital estrangeiro sem o pagamento de nenhum imposto; estava aberto o caminho para a especulação no mercado financeiro e o inicio da dominação total da indústria nacional pelas empresas estrangeiras: fecharam-se várias pequenas e medias industrias ou foram , absorvidas por empresas multinacionais a preços módicos.

Por pouco, muito pouco não se privatizou de vez a Petrobrás, mas conseguiram quebrar o monopólio que era exclusivo da Petrobrás. Em seguida, tentou-se mudar o nome de Petrobrás para Petrobrax para “facilitar” a internacionalização da empresa; também não conseguiram. Mesmo assim, fizeram o lançamento de ações na Bolsa de Nova Iorque. O Brasil começava a perder a sua soberania, pois a empresa passaria a atuar tendo que obedecer as leis do mercado acionário americano (Securities Exchange Commission = SEC).

Esse inicio da perda de soberania só não foi maior, porque não conseguiram alugar a Base de Alcântara ao Governo dos EUA; o Acordo previa que os brasileiros não poderiam ter acesso a uma grande parte da Base que ficaria sob o controle direto dos EUA !

Todos sabem que a transformação do petróleo em subprodutos tais como gasolina, diesel, querosene e outros subprodutos para a geração de produtos petroquímicos geram grandes encomendas de produtos industriais alavancando toda a cadeia de pequenas a grandes industrias fornecedora de equipamentos e que geram muitos empregos.

Não é novidade para ninguém que o mercado mundial de petróleo está vivendo seus piores momentos em termos de preços devido a produção adicional de petróleo pelos EUA. adicionado a uma recessão europeia, americana e asiática; todos ávidos para vender para mercados promissores como o Brasil.

E no Brasil, com o escândalo proporcionado pela maior empresa do país, é visível o constrangimento do corpo de funcionários, assim como de toda a diretoria, vendo a marca da Petrobrás transferida do noticiário econômico para o policial. Nada está resolvido e o Conselho de Administração da empresa terá que tomar decisões ainda mais graves no que diz respeito a continuidade das obras e dos novos projetos que a estatal precisará fazer para cumprir seu plano de negócios e aumentar sua produção de óleo e gás. Se seguir o seu Manual de Procedimentos, nenhuma empresa envolvida nos escândalo poderá fazer obras para a Petrobrás por um bom período. E aqui é que mora o grande perigo da perda da soberania brasileira: com a entrada de capital estrangeiro livre de empecilhos, nada impede que empresas de construção civil , de detalhamento e montagem industrial tomarem o lugar das grandes empresas nacionais envolvidas nos atos de corrupção. Essas empresas vão tomar o lugar das nossas grandes empresas e vão fazer suas encomendas no exterior aumentando a produção de seu parque industrial e diminuindo o desemprego em seu país de origem, ao passo que o Brasil irá aumentar o seu desemprego; será a derrota do desenvolvimento industrial e social brasileiro, rumando para uma completa perda de soberania. Voltaremos a ser uma colônia? É um grande problema político, econômico e social que terá que ser resolvido. Qual será a solução?

Não sei; sei apenas que os petroleiros devem manter a cabeça erguida, exigir a demissão de todos os envolvidos nas corrupções e que os mesmos sejam punidos exemplarmente pela Justiça. Como petroleiro aposentado apelo a todos os demais, principalmente àqueles que estão na ativa que permaneçam atentos a qualquer comportamento antiético e imoral, inclusive denunciando-as.

É verdade que a Petrobrás está ferida de morte, mas ela não morreu e nós temos uma boa chance de fazer desta empresa que é a nossa PETROBRAS, a bandeira para manter a soberania do Brasil.