a prisão mais proveitosa, o mais sólido arrimo da sociedade”, assim inicia Miguel do Sacramento Lopes Gama (1793-1852), seu livro “O Carapuceiro”, em 1832, e que só o concluirá dez anos após.
Cercado pelos muros e pelos saberes da fé, o homem terá ampla área de ignorância e, igualmente, se prestará a bons favores a todos os poderosos.
O genial comediante Chico Anysio (Francisco Anysio de Oliveira de Paula Filho, 1931-2012), colocava na voz de uma das suas criações da “Escolinha” o bordão: “as ignorança que astravanca os progresso”.
Quer na pia forma daquele que se ordenou e se afastou da ordem beneditina, quer na hilária manifestação do artista cearense, temos, por toda história humana registrada, o interesse dos poderes em manter todos os demais nas trevas do saber.
Em se tratando da economia, um verdadeiro véu cobre seus conhecimentos, escondidos em siglas, abreviações e palavras em idiomas estrangeiros. E é tão intencional que o caro leitor poderá se divertir ou comprovar contando-as na imprensa brasileira.
Mas não iludem o competente economista Claudio da Costa Oliveira, como se lê na publicação da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET) de 14/01/2020: Será que os preços praticados pela Petrobrás hoje (gasolina e diesel) estão abaixo da paridade de importação?
Vamos esclarecendo por partes. Primeiro o que vem a ser “preço pela paridade de importação”?
Permitam-me trazer uma experiência pessoal, do início deste neoliberalismo escravizador se espraiando pelo mundo. Nos anos 1980, atuava como consultor de país africano, sul-saariano, para financiamento do Banco Mundial (WB – World Bank). O representante do Banco exigia que o preço da energia fosse “internacional”. Argui, então, se ele estava afirmando que o WB propugnava pela desertificação ao sul do Saara, como já se observava em outros países vizinhos. Ele negou com indignação. Então lhe perguntei: sem subsídio para a energia, para o gás domiciliar, aonde irão estas paupérrimas populações, senão na devastação florestal, encontrar o aquecimento doméstico e o cozimento alimentar? Ele foi, então, obrigado a aceitar a fixação de preços pelo governo do país.
Preços internacionais ou paridade de importação, nada mais são que sujeitar um país às regras de outro, sempre exportador daquele produto, que busca vantagens no comércio fora de suas fronteiras.
Pois, no caso brasileiro, somos autossuficientes na produção de petróleo, temos parque de refino capaz de atender às necessidades nacionais de derivados do petróleo, e o que eventualmente falte deveria ser objeto de prioritários investimentos em refinarias. Por que, então, iremos pagar como um belga que não produz petróleo, ou um espanhol que não produz, em tipos e quantidades, todos os derivados que consome?
Foi pensando assim que os governos dos presidentes Médici e Geisel deram ao Brasil, na década de 1980, a autossuficiência na produção de derivados, quando não se vislumbrava possível aquela do óleo cru. Não pagaríamos mais caro do exterior pelo que podíamos produzir em casa.
A lógica dos senhores que nos governam atualmente, no Brasil e do exterior, é, no entanto, outra: por que o Brasil será independente se pode ser colônia?
Tomemos um período do artigo de Claudio Oliveira:
“Quem ganha e quem perde com a atual política de preços da Petrobrás?
Ganham os traders internacionais e as refinarias no exterior, que lá geram empregos, lucros e renda para seus países.
Ganham também os produtores de etanol no Brasil, que podem elevar seus preços acompanhando os altos preços praticados pela Petrobrás.
Perdem os consumidores brasileiros que pagam preços mais altos do que deveriam.
A Petrobrás perde mercado, ficando com suas refinarias ociosas, transferindo emprego e renda para outros países.
Perde o Brasil que fica com a economia menos competitiva.”
Mas isto não é tudo.
Voltemos às agudas observações de Claudio Oliveira.
“Verificamos que o Preço de Paridade de Importação (PPI) apurado pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) está bem acima do cobrado pelas refinarias da Petrobrás. Mesmo considerando o menor valor do PPI, aqueles apurados pela ANP são superiores, na gasolina, 30% e, no diesel, 8%, aos das refinarias.
A Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (ABICOM) tem feito constantes reclamações junto ao CADE alegando que a Petrobrás tem praticado preços abaixo do PPI. Em resposta a Companhia diz que não é verdade e a prova é que as importações desses derivados continuam aquecidas”.
Então questiona Claudio Oliveira: “como as importações são mantidas se os preços nas refinarias da Petrobrás estão abaixo do PPI? Será que o produto importado tem qualidade inferior?”
O fato irrespondível é: por que importar, a preços mais elevados e qualidade desconhecida, um produto que o Brasil tem toda condição, industrial, tecnológica, econômica, e mercado para abastecer?
Só a campanha midiática deturpadora, o interesse no desmonte do Brasil, na manutenção colonial, formar um povo que não raciocina sobre seus direitos e vantagens, se deixando levar por campanhas, também fraudulentas de políticos e partidos, pode nos encurralar neste beco sem saída, impulsionando multinacionais estrangeiras e beneficiando brasileiros traidores da Pátria.
E, concluo com a pergunta do sagaz economista: “empresas como a Shell, que importa e distribui no Brasil combustíveis que ela mesma produz no exterior, não deveriam sofrer auditoria técnica, além da econômica, mais forte?”.
Ou a falta de contratação de pessoas habilitadas nos órgãos de inspeção e fiscalização objetiva exatamente ampliar a fraude e o esbulho, prejudicando caminhoneiros, profissionais de transporte e todo povo brasileiro?
Sob a constante ação ilusionista, criando falsos e inconsistentes dilemas para afastar o povo dos reais problemas, todo um governo esconde a verdade: a mesma empresa estrangeira, cujo objetivo é somente o lucro, máximo e mais rápido, é quem coloca nos motores nacionais um combustível suspeito.
Enquanto são demitidos os técnicos brasileiros que poderiam atestar sua qualidade e são extintos órgãos públicos que seriam a garantia de qualidade de produtos consumidos pelo nosso povo, por você, seu filho, todos nós.
Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado