Vive-se no Brasil presidido pelo capitão da reserva Jair Messias Bolsonaro um momento incomum, seja pelo inusitado de um governo confuso, incompetente e despreparado a destilar ódios e confrontos como regra geral; ou pela tragédia de se conviver com a mais intensa crise sanitária dos últimos cem anos, sem que o governo tome qualquer providência eficaz.
Enquanto a sociedade assiste entre perplexa e indiferente essa situação, há os que aplaudem freneticamente o governo. Seus adeptos fervorosos são os que se pode chamar de ingênuos boçais, por se escorarem no mito de alguém que supostamente livrou o país da corrupção, no maior exemplo de ignorância absoluta e contundente, expressão maior da boçalidade perante as coisas do bem público.
Diante de um governo eleito nada se pode fazer senão o recurso de seu impedimento legal, escorado sempre no apoio do povoe estar atento às agressões e violações da Constituição. Neste caso, para isso existe o STF e o próprio poder legislativo. Mas em relação à massa ignara, truculenta e a demonstrar desprezo pelos cidadãos que pensam e agem diferente de seus arroubos quase sempre agressivos, pouco se pode fazer. Afinal, a culpa de sua existência se encontra no desleixo pela educação a produzir boçais de geração em geração. E sua encarnação mais completa está hoje a ocupar a presidência da República.
A boçalidade infelizmente é um traço marcante da incivilidade, da incultura, da ausência de políticas públicas, do mal que as classes dominantes têm feito em relação ao povo brasileiro entregue à própria sorte. Os boçais são vítimas e não devem ser condenados senão à educação verdadeiramente cívica, ao acesso ao conhecimento de fato socializado e ao convívio com a democracia de opiniões, àquela em que as pessoas divergem movidas de argumentos e não de pedras ou açoites.
Superar a ingenuidade é buscar a informação a mais ampla possível, desfazendo-se de dogmas e de falsas notificações com vistas a orientar as pessoas de modo a impedi-las de duvidar de seus conteúdos. Ao abrir-se para o acolhimento do outro e praticar a reflexão dá-se um passo enorme em direção ao afastamento da boçalidade, moléstia que acaba fazendo prosperar a vigência da ideia única, da verdade absoluta e, em consequência, do totalitarismo, ainda que mantidas as instituições, certamente não por muito tempo. É, enfim, abrir-se para a democracia.
Lincoln de Abreu Penna
Presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional (MODECON)