Artigo

A outra pesquisa

Data da publicação: 31/03/2015

No mesmo dia em que divulgou sua pesquisa sobre a Petrobrás – segundo a qual 61% dos brasileiros são contra a privatização da empresa – o Datafolha publicou outra pesquisa, associada à primeira – sobre as reações e a atitude da Presidente Dilma diante do escândalo da operação Lava Jato.

Essa segunda pesquisa chegou à conclusão de que, para 84% dos entrevistados, Dilma sabia das negociatas na Petrobrás. O universo de entrevistados não foi apenas de opositores: dos eleitores de Dilma, 74% acham que ela sabia do esquema.

Pela forma como os resultados são apresentados na pesquisa (e talvez pela forma como as perguntas foram feitas), não sabemos quantas dessas pessoas acham que Dilma sabia antes das revelações da Lava Jato ou que, bem lá atrás, ela teve conhecimento de alguma coisa.  Essa imprecisão é injusta com a Presidente, mas não deixa de ser preocupante.

Se alguns defensores do governo consideram e afirmam que tudo não passa de uma conspiração das elites, que as provas documentais de operações bancárias são falsificações e que os réus beneficiados pela delação premiada inventaram tudo, esses mesmos defensores e alguma gente mais podem considerar que os números da pesquisa foram forjados. O governo não pode pensar assim e seus integrantes, mesmo os mais exaltados, sabem que a Presidente admitiu publicamente a ocorrência do que chama de malfeitos, e na verdade são crimes e patifarias.

É possível que o noticiário e os protestos da oposição tenham induzido esses  84% de entrevistados à convicção ou suposição de que a Presidente sabia das negociatas. Mas aí o governo também tem culpa, porque não soube enfrentar o problema como devia. E ainda agora não sabe, como ficou claro no recente depoimento da ex-presidente da Petrobrás, Graça Foster, à CPI  da Câmara dos Deputados.

Ela só conseguiu dizer o que estava  engasgado em sua garganta – que sentia vergonha e constrangimento pelo que aconteceu – depois de sabatinada por muito tempo, sobre a competência e os feitos da Petrobrás no Pré Sal, pelo relator da CPI, o deputado Luís Sérgio, que é um dos parlamentares mais importantes do PT e foi feito relator da CPI para proteger e defender o governo.

Às reclamações de que o objeto do depoimento eram as negociatas e não a história dos êxitos da Petrobrás, o deputado respondeu, com alguma petulância, que essa história seria fundamental  para seu relatório, como se esse relatório pudesse ser mais importante que o depoimento de Graça Foster.

O deputado estava com a pose de quem prestasse um grande serviço à Presidente Dilma (além dos dividendos de sua interminável presença na TV), mas na verdade prestou serviço foi à oposição, por deixar patente o empenho em desviar a atenção da CPI – empenho que pareceu ser do governo e não apenas desse deputado.

Mas os outros dados da pesquisa são ainda piores:  apenas 23% responderam que, apesar de saber das negociatas, Dilma nada podia fazer, enquanto 61% opinaram que a Presidente “deixou fazer”.

Essa impressão, de que ela “deixou fazer”, não encontra apoio nos fatos conhecidos até agora. Essa impressão, porém, não foi criada artificiosamente pela oposição. Ela decorre do comportamento e da atitude do governo, ao dizer (e talvez pensar…) que tudo não passa de uma conspiração das elites, mas a verdade é que as elites nem precisariam conspirar, tal a vocação do governo para o desastre.

Nos últimos dias o processo-crime resultante da operação Lava Jato chegou ainda mais perto da direção do PT, com a aceitação da denúncia contra o tesoureiro do partido, João Vaccari. Ele nega as acusações, mas não tentou, como não o tentaram outros réus, o recurso ao habeas corpus, para ser excluído do caso por ausência de provas ou falta de justa causa.

São essas coisas que alimentam respostas como a de 84% dos entrevistados, de que a Presidente sabia das negociatas na Petrobrás.