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A rentável atividade especulativa da BP está sendo vítima colateral da maré negra

Data da publicação: 01/07/2010
Autor(es): Marc Roche

Os efeitos da maré negra no Golfo do México e dos ruídos da tempestade tropical Alex, que continuam a crescer, não conseguem perturbar as salas de negócios da BP aqui em Nova Iorque, Houston ou Londres onde se instalou a atividade mais secreta do grupo petrolífero britânico: a especulação com petróleo e gás. Para os críticos, a ênfase dada pela gigante de energia a esta atividade financeira especulativa altamente rentável ilustra as disfunções que levaram à tragédia da plataforma Deepwater Horizon.

Motivados pela vontade de uma boa gestão dos seus recursos, todas as companhias petrolíferas estão envolvidas neste tipo de especulação. Esta serve para contrabalançar o déficit nos custos do suprimento na cadeia, desde a produção até a distribuição, passando pelo refino e até pela petroquímica. Por razões de proximidade geográfica ou de qualidade uma ‘major’ pode optar por adquirir o petróleo bruto ou derivados em falta no mercado internacional ‘spot’ ou ‘a termo’. A Shell, a Exxon Mobil ou a Total e compram assim a produção física para uso próprio e, por vezes, para outros, seja diretamente, ou mesmo através de intermediários.

No entanto, ao contrário das outras grandes, a BP tem ultrapassado o limite desta atividade, transformando a cobertura de suas necessidades de energia em um grande cassino especulativo. Seus especuladores se utilizam, por exemplo, de produtos financeiros complexos ao apostarem no barril-papel, um mercado onde os produtos ou os carregamentos virtuais são manipulados. Esses gênios dos algoritmos, como o dos derivados do petróleo, jogam com o petróleo como outros profissionais de mesmo perfil operam com ações, títulos ou moedas.

Durante o último exercício, este tipo de comércio de energia representou 20% dos lucros da multinacional. Como explicar tal peso?

A atividade da BP nesta área de negócios decolou sob os auspícios de Lord Browne, diretor-geral entre 1995 e 2007. Mais interessado em atividades financeiras do que na estratégia industrial ou na pesquisa tecnológica, este chefe megalomaníaco contava com esta veia de lucros para realizar sua ambição, ultrapassar a número um do, a Exxon Mobil.

Foi por isto que grande parte de seu arsenal de guerra acumulado, graças ao aumento dos preços do petróleo e a um rigoroso controle de custos, a BP tem investido fortemente neste setor. Os limites de risco atual são de duas a três vezes maiores do que entre os seus concorrentes. Os bônus oferecidos às estrelas muito mimadas são considerados os mais elevados do setor. E, como no escândalo das hipotecas subprime, o estado-maior da empresa não entendia muito sobre o que estava acontecendo naquele antro de jogo organizado.

Mas, por si sós, os especuladores prosseguem alegremente jogando com os controles internos da empresa e também com os do órgão regulador. Como resultado dessa frouxidão, a BP tem sido condenada a pesadas multas por tentar manipular os mercados. Além disso, como mostra a importância da especulação, as considerações financeiras, há muito tempo, têm prevalecido sobre os requisitos de segurança. Adicionalmente, há além dos múltiplos conflitos de interesse de uma empresa de petróleo, usar com base nas informações de sua própria atividade produtiva, informações para alimentar ‘a besta’ da especulação.

Para os especuladores da BP operações das refinarias e dos parques de armazenamento são esclarecedoras. último sinal dessa importância, em nome da criação de valor para os acionistas, a subsidiária comercial da BP driblou os sucessivos programas de austeridade lançados por Lord Browne e por seu sucessor, Tony Hayward.

Hoje, a maré negra faz os especuladores caminharem na sua esteira. Desconfiando da solidez financeira da matriz, as outras partes exigem mais garantias. Com a previsão das compensações a serem pagas, os fundos postos à disposição da especulação estão escasseando. Desanimados, preocupados com o futuro, o melhores especuladores se mudam transferidos com malas e bagagens para sociedades comerciais ou para bancos.

Marc Roche (jornalista e correspondente do Le Monde em Londres).

Tradução: Argemiro Pertence

Fonte: Le Monde – Artigo publicado na edição de 01/07/2010