A economia de nuvens que não muda a cada instante, na alusão do experimentado político mineiro Magalhães Pinto. A nuvem que tudo nos ofusca, obnubila, é consequência da pedagogia colonial aplicada pelos novos donos do poder, após 1990: as finanças apátridas, residentes em paraísos fiscais, às quais não faltam capitais marginais, cada vez mais presentes nas decisões.
Por isso, é uma dívida inauditável, porque, uma vez esquadrinhada, mostrará ser artificial, fruto de corrupções, dentro e fora do Brasil. Mas é esta dívida que dirige nosso País e serve de pretexto para não termos saúde, educação, habitação e transporte, como a imensa riqueza do Brasil nos permitiria.
O filósofo franco-russo Alexandre Kojève (1902–1968) afirmava que “falar de uma coisa sem poder defini-la é, no fundo, falar sem saber do que se fala”. Nós tratamos de um bem público, do que interessa a todos os brasileiros, e que tem portanto a característica nacional. A primeira qualidade do projeto, seja para qual área se destine, é sua identidade nacional. Nada de cópias, nenhuma submissão às ideologias e soluções estrangeiras. Precisamos ter coragem, não ficar se espreguiçando como o gato no sofá.
Portanto, estudar o Brasil, com afinco, para entender nossas raízes e, portanto, quem somos, de onde viemos e para onde podemos ir, é o primeiro passo para a libertação da pedagogia colonial. Devemos ser justos com nossos antepassados. Os fundadores da Escola Nova ergueram um modelo nacional, que os mais velhos, aqueles que estudaram nas escolas públicas dos anos 1940 e 1950, podem ter aproveitado, assim como os alunos dos Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), nos governos de Leonel Brizola, na escola de tempo integral de Darcy Ribeiro (1922–1997). Foram as duas exceções, nos 521 anos de Brasil!
Anésia Maria Costa Giglio, em artigo sobre sua dissertação de mestrado em Educação, na Universidade Federal Fluminense (UFF), alerta: “Além de a escola ignorar os estudantes como portadores de memória social e tudo o mais que essa dominação acarreta, ainda são as questões administrativas e os simulacros curriculares, com conteúdos fragmentados, descontextualizados e sempre fiéis ao livro didático, que mais tempo ocupam da formação dos professores.”
E, mais adiante, no mesmo artigo escreve que “os jornais insistem em mostrar que muitos jovens estão prostituindo-se, drogando-se, traficando ou pichando. A grande maioria, porém, está buscando realização emocional e profissional” (Anésia M. C. Giglio, “As ‘terceiras intenções’ – ideologias – que marcaram e marcam a educação brasileira”, Pesquisa em Educação, nº 1, EdUFF, Niterói, 2001).
Como um jovem pode receber uma doutrinação em tudo oposta à realidade de seu cotidiano e desvinculada das necessidades nacionais? É óbvio que a educação Banco Mundial, para manter um país submisso e colaborador, no mínimo, será alienante. E só vai acrescentar mais dívida ao montante que já escraviza o país financiado aos interesses das potências anglo-euro-israelense-estadunidenses, que dominam, em nome dos capitais apátridas, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a Organização Mundial de Comércio e congêneres.
Em passado recente, o capital financeiro criou “crises”, um modo midiático de convencer os Estados Nacionais a transferirem recursos dos seus tesouros e mesmo de instituições privadas nacionais para o sistema financeiro internacional.
Vejam, por exemplo: havia, nos anos 1970, falta de petróleo ou se vislumbrava alguma carência a curto e médio prazo? Muito ao contrário. Mas havia necessidade de colocar este insumo energético fundamental, o combustível fóssil, sem equivalente a qualquer outro, no rol dos bens manipulados economicamente por papéis, ou seja, por derivativos e não pelas quantidades físicas negociadas. Daí as “crises do petróleo”.
E as crises de 1987 (Bolsa de Nova York), 1990 (Japonesa), 1992 (Sistema Monetário Europeu), 1994 (México), 1997 (Sudeste Asiático), 1998 (Rússia), 1999 (Brasil), 2000 (Bolha da Internet), 2001 (Argentina), alguma diferença do que estes países e atividades faziam e fizeram antes das crises? Ou continuariam a fazer depois?
Não, claro que não. Apenas o pretexto para transferir, por privatizações ou por dívidas dos respectivos tesouros, recursos que dessem maior poder ao sistema financeiro internacional que acolhia, pelas desregulações e com o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), os capitais das drogas, dos contrabandos, das prostituições e dos crimes em geral.
Mas houve um aspecto verdadeiramente malévolo para todas as sociedades nacionais, inclusive as dos países que promoveram estas e outras crises: o desfocar da realidade e o mergulho no abismo da hipocrisia, das farsas, dos significados diversos para os vocábulos, em seus respectivos idiomas.
E a religião, que andava um tanto afastada pelo desenvolvimento industrial e consequente sociedade de consumo de massa, ressurgiu na pior feição, da inquisição medieval, do obscurantismo, da teologia da prosperidade neopentecostal. Hoje vemos no Brasil a escolha do “tremendamente evangélico” para ocupar o posto que exige a qualificação de defensor, senão ao menos aberto, à “sociedade plural”, o que explica o descalabro em que se encontra o Ministério da Educação (MEC).
Estes extremos são a saída para o emparedamento ou para glorificação, independente de méritos; pelo simples posicionamento, sempre muito oportunista, pois não há conhecimento nem vontade de questionar as convicções. De antepor a consciência à ignorância, a especulação à produção, o nacional ao apátrida, como se fossem apenas circunstâncias do momento, não decorressem de interesses e caracteres distintos.
Então, o fantasma do comunismo é mais uma vez evocado para justificar a agressividade do capitalismo. Onde grita o medo, sai a razão, que demonstraria o caráter nacionalista e não ortodoxo do maior país contemporâneo que reivindica o marxismo-leninismo, a República Popular da China (RPC). É, na verdade, o nacionalismo, que o megaespeculador apátrida George Soros, identifica ser seu maior inimigo, e que as finanças e o neoliberalismo atacam. Ele sabe que comunismo é bicho papão, e as finanças não estão na primeira infância.
Felipe Maruf Quintas é doutorando em Ciência Política.
Pedro Augusto Pinho é administrador aposentado.
Fonte: Monitor Mercantil