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As pesquisas eleitorais como elas são e a mídia como ela é

Data da publicação: 12/09/2014

Pesquisas de intenção de voto não mudam apenas os humores de candidatos e eleitores. Elas são cada vez mais importantes para o direcionamento das doações dirigidas às diferentes campanhas. O dinheiro corre com mais facilidade para os cofres dos que aparecem com mais chances de vitória. Prestam-se também para influenciar eleitores indecisos ou determinados a mudar o voto na última hora, deixando de lado a escolha inicial e optando por outra, não tanto de sua predileção, mas capaz de evitar o sucesso do maior adversário, criando o chamado “voto útil”. Sem falar na desmobilização de militantes antes do fim do pleito ao verem seu candidato desabando nas pesquisas.

Em 1985, nas eleições municipais em São Paulo, o candidato Fernando Henrique Cardoso sentou na cadeira de prefeito antes da hora confiando na pesquisa do Datafolha. Nas urnas a vitória foi de Jânio Quadros que não perdeu a oportunidade de usar seus dotes teatrais desinfetando o trono paulistano antes de ocupá-lo. Danosa, no entanto, para o jogo democrático foi o papel da pesquisa e o seu uso pela mídia nas eleições também municipais de 1995, em São Paulo. Dois dias antes da eleição do 1º turno o Datafolha divulgou uma pesquisa apontando Paulo Maluf, com 31% dos votos, seguido de Francisco Rossi com 18%; Mário Covas, candidato à reeleição com 17%; Marta Suplicy, com 15% e Orestes Quércia, com 6%. O temor da ida ao segundo turno de dois candidatos conservadores, Maluf e Rossi, levou um grande contingente de eleitores de Marta a optar por Covas, realizando o “voto útil”. Abertas as urnas sentiram-se enganados. Covas ficou há apenas 0,9% de votos à frente de Marta e ela superou Rossi em 5,39%. Sem a influência do Datafolha teríamos Marta e não Covas (tampouco Rossi) disputando o segundo turno com Maluf.

São lembranças que não autorizam a descrer totalmente das pesquisas, mas ressaltam a importância de se ter com elas muito cuidado, principalmente sabendo-se de como são usadas pela mídia. Neste ano, por exemplo, a Rede Globo considerou as supostas intenções de voto do Pastor Everaldo, em torno de 3%, suficientes para levá-lo à bancada do Jornal Nacional. O objetivo era claro: ainda com Eduardo Campos na disputa a tendência seria da eleição se encerrar no primeiro turno com a vitória de Dilma Rousseff. Uma pequena ascensão do pastor evitaria isso e o Jornal Nacional estava ali, à disposição, para dar o empurrão necessário. Tarefa oposicionista que o principal noticioso da Rede Globo realiza não apenas durante o período eleitoral, embora seu protagonismo cresça nessas épocas. Sempre se soube disso, mas agora os dados são mais concretos.

Nas eleições de 2002 e 2006, um trabalho de fôlego da pesquisadora Flora Neves, da Universidade Federal de Londrina, analisou 199 edições do Jornal Nacional, constatando a manipulação do noticiário. Um exemplo: em 2006, entre início no horário eleitoral obrigatório e o primeiro turno das eleições o JN levou ao ar 68,57% de notícias positivas para o candidato Geraldo Alckimin; 61,76% para Heloisa Helena; 52,94% para Cristovam Buarque e 16,43% para Lula. A íntegra está no livro “Telejornalismo e Poder nas Eleições Presidenciais”, Summus Editorial, 2008.

Em 2014 a história se repete e quem nos prova isso é o site Manchetômetro, uma importante realização do Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Seus pesquisadores acompanham desde o início do ano as manchetes dos três jornalões brasileiros (Folha, Globo e Estado) e as do Jornal Nacional. O alinhamento dos quatro veículos em oposição ao governo fica evidente. O Manchetômetro constatou que entre 1º de janeiro e 22 de agosto deste ano o telejornal da Globo dedicou quase uma hora e meia do seu tempo para apresentar notícias negativas em relação a presidenta Dilma. Sobre Aécio foram 4 minutos. Há muito mais no site Manchetômetro

FONTE: Revista do Brasil