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Balanço 2016 da Petrobrás está muito mal explicado

Data da publicação: 29/03/2017

Não estou me referindo aos “impairments” absurdos e recorrentes e à prática de hedge contábil inexplicável, causadores do prejuízo apresentado pela empresa em 2016, que estão sendo contestados pela CVM e provavelmente acabem na justiça.

Refiro-me a alguns aspectos menos gritantes, que muitas vezes passam despercebidos aos observadores menos atentos.

Por exemplo, o fato da empresa informar que efetuou vendas de ativos em 2016 no montante de US$ 13,6 bilhões e ao mesmo tempo dizer que a dívida caiu apenas US$ 4 bilhões (de US$ 100,4 bi para US$ 96,4 bi). Afinal a administração da Petrobras tem alardeado que o objetivo da venda de ativos é redução da dívida. Será que os ativos estão sendo vendidos à prazo ? Quem sabe 10 vezes sem juros ? O fato que o assunto não está explicado como deveria.

Outro aspecto relevante foi a expressiva queda da receita bruta da empresa que em 2016 foi de R$ 357,4 bilhões ante R$ 401,5 bilhões em 2015, provocando uma queda de 9% no lucro bruto. Na realidade a receita bruta em 2016 é superior apenas à realização de 2012 ( 345,0 bilhões).

Ocorre que à partir do 2º semestre de 2015, com a queda do preço internacional do barril, a Petrobras vem perdendo mercado interno, para importadores independentes. Os principais importadores são a Ipiranga (Ultra/Itau) e a Raizen (Shell/Cosan). A nova politica de preços implementada em meados de outubro de 2016, dando a Pedro Parente (um absurdo) plenos poderes para estabelecer os preços dos combustíveis no Brasil, tinha como um dos objetivos recuperar o “market share” da estatal, mas estranhamente não foi o que ocorreu. Artigo publicado no Valor Econômico de ontem (21/03) informa : “Segundo dados do MME a utilização das refinarias brasileiras ficou em media em 79,7%em 2016, caindo para 75,5% em novembro e 71,9% em dezembro – meses que sucederam a implantação da nova política de preços.

Para efeito de comparação a taxa de utilização das refinarias foi de 84,6 % em 2015″. O artigo ainda esclarece : ” Aparentemente mesmo com a redução das margens, as importações por terceiros de certa forma continua”. Este assunto está muito mal esclarecido e nas notas explicativas do balanço consta apenas um lacônico informe : “aumento de importação por terceiros”.

É preciso lembrar que o relacionamento da Petrobas com a Ipiranga e a Raizen não se limita à distribuição de combustíveis no mercado brasileiro. Estas empresas são fortes interessadas na compra de ativos da Petrobras, sendo que o grupo Ultra, de onde é originado do atual diretor financeiro da Petrobras, Ivan Monteiro, já fez a compra da Liquigas e o Itau está no consórcio de compra da NTS.

Será que estão engordando o caixa destas empresas (Ipiranga e Raizen) para a venda da cereja do bolo – a BR Distribuidora?

Merece destaque também o fato de não existir nenhum comentário sobre a não contabilização das reservas do pré-sal o que faz com que o Patrimonio Liquido da empresa esteja enormemente sub-avaliado.

No mais a empresa continua como sempre foi , altamente produtiva, lucrativa e forte geradora de caixa, desmentindo seu atual presidente, Pedro Parente, que em recente reunião com magistrados do STJ, disse que sem venda de ativos a empresa necessitaria de aportes do tesouro para cumprir com seus compromissos. O balanço mostra que verdade falou do diretor financeiro, Ivan Monteiro, que em entrevista coletiva feita em janeiro, se gabou com os jornalistas do fato da empresa :”dispõe de caixa para atender suas necessidades para os próximos 2,5 anos” , que é o mesmo que foi dito pelo ex-presidente Bendine, quando da transmissão do cargo para Pedro Parente.

A realidade é que a Petrobras não tem e nunca teve problemas de caixa, nem de curto nem de longo prazo. Terminou 2016 com um caixa de US$ 21,2 bilhões, e uma Liquidez Corrente de 1,8, a maior dos últimos 5 anos. O que fala por si só.

Publicado em 22/03/2017 em Brasil 247.