Em entrevista à revista ‘Caros Amigos’, o físico Bautista Vidal responde a perguntas da estatal venezuelana PDVSA sobre a potencialidade dos biocombustíveis. Segundo ele, entre as vantagens da energia alternativa é que no Brasil se produz etanol de cana-de-açúcar por metade do custo do álcool obtido de milho nos Estados Unidos e a um terço dos custos na Europa obtido de beterraba. ‘Enquanto o petróleo leva 400 milhões de anos para se formar a partir da radiação eletromagnética do sol, a qual depende de tecnologias não eficazes de captação e armazenamento, o óleo de girassol, por exemplo, leva dois meses para se formar a partir da radiação solar. E, como os demais óleos vegetais, é de fácil manejo tecnológico pelos pequenos produtores rurais. Além da cana-de-açúcar e da mandioca, excelentes conversores energéticos de radiação eletromagnética em energias químicas, existem nos trópicos centenas de variedades de óleos vegetais, com destaque para o óleo de palma nos trópicos úmidos – toda a região amazônica da América do Sul, por exemplo -, de altíssima produtividade, capaz de produzir nessas regiões cerca de 8 milhões de barris de óleo diesel vegetal por dia, o equivalente à atual produção de petróleo da Arábia Saudita. No caso, renovável, sem risco de exaustão, pois depende do Sol. Esse potencial é muito maior se forem incluídas outras regiões da América do Sul, especialmente com uso de irrigação. O Sol um dia irá apagar-se, mas isso levará 11 bilhões de anos, o que garante uma razoável sustentabilidade, conceito tão falado e pouco compreendido’, explicou Vidal.
O vice-diretor de Comunicações da AEPET, Felipe Coutinho, fez um contraponto à tese do físico brasileiro, criador do Proálcool, o que não é uma posição oficial da entidade. ‘A denominação ‘biocombustíveis’ talvez não seja a mais adequada visto que ‘bio’ significa vida, e dependendo da maneira com que sejam produzidos, se não consideradas as restrições ambientais e a competição pela terra com a produção de alimentos, por exemplo, podem não contribuir ou até comprometer a promoção da vida humana e das mais diversas formas de vida que existem no planeta. Muitas pessoas têm preferido chamá-los de agrocombustíveis, o que também para mim parece mais adequado’, argumentou. A AEPET publica os dois argumentos e o leitor tire as suas conclusões.
BAUTISTA VIDAL: O que são realmente os biocombustíveis? Quais são suas vantagens?São combustíveis vegetais, renováveis e limpos do ponto de vista ambiental, de natureza química, que substituem os combustíveis derivados do petróleo e podem ser obtidos a partir da energia solar por meio da fotossíntese das plantas. Pela necessidade da radiação solar, eles podem ser produzidos em grande escala nas regiões tropicais que disponham de água abundante. O Brasil tem a maior proporção de água doce do planeta. São combustíveis vegetais:
a) o álcool etílico, obtido por fermentação dos açúcares ou amidos;
b) os óleos vegetais e a celulose, e seus inúmeros derivados.
Ademais, esses combustíveis são renováveis, pois têm origem na radiação solar; não produzem efeito-estufa devido ao equilíbrio negativo entre o CO2 retirado da atmosfera para a formação dos hidratos de carbono e lipídeos das plantas e o CO2 resultante da queima dos combustíveis vegetais derivados – etanol, óleos vegetais e celulose, e seus derivados. Esses hidratos de carbono e lipídeos são formados nas plantas por meio de uma reação química endotérmica em que a radiação solar, pela fotossíntese, fixa o CO2 e a água, combinando-os. Pela abundância de energia solar, sua produção é concentrada nos trópicos, onde os custos de sua produção são menores e decrescentes em relação aos combustíveis derivados do petróleo, de preços irremediavelmente crescentes. No Brasil se produz etanol de cana-de-açúcar por metade do custo do álcool obtido de milho nos Estados Unidos e a um terço dos custos na Europa obtido de beterraba. Enquanto o petróleo leva 400 milhões de anos para se formar a partir da radiação eletromagnética do sol, a qual depende de tecnologias não eficazes de captação e armazenamento, o óleo de girassol, por exemplo, leva dois meses para se formar a partir da radiação solar. E, como os demais óleos vegetais, é de fácil manejo tecnológico pelos pequenos produtores rurais. Além da cana-de-açúcar e da mandioca, excelentes conversores energéticos de radiação eletromagnética em energias químicas, existem nos trópicos centenas de variedades de óleos vegetais, com destaque para o óleo de palma nos trópicos úmidos – toda a região amazônica da América do Sul, por exemplo -, de altíssima produtividade, capaz de produzir nessas regiões cerca de 8 milhões de barris de óleo diesel vegetal por dia, o equivalente à atual produção de petróleo da Arábia Saudita. No caso, renovável, sem risco de exaustão, pois depende do Sol. Esse potencial é muito maior se forem incluídas outras regiões da América do Sul, especialmente com uso de irrigação. O Sol um dia irá apagar-se, mas isso levará 11 bilhões de anos, o que garante uma razoável sustentabilidade, conceito tão falado e pouco compreendido. Transformando esses fatos da física da natureza em realidade econômica, cria-se a possibilidade de existirem civilizações sustentadas. Elas passam a plantar a energia de que necessitam tomando como base a maior fonte de energia, que é o Sol. Isso possibilitaria criar dezenas de milhões de novos postos de trabalho permanentes em regiões estratégicas, vulneráveis, hoje submetidas ao perigo da ocupação estrangeira, direta ou indireta por meios econômicos, especialmente pela compra descontrolada de terras. O modo inteligente de evitar tais ocupações estrangeiras é promover o aproveitamento dessas regiões, agora estratégicas do ponto de vista energético, com empreendimentos em mãos de nacionais – trabalhadores e produtores. Isso é considerado por estrategistas militares como o modo altaneiro de desaconselhar perigosas incursões externas, econômicas e militares, em nosso território. Com a vasta produção nacional de energia vegetal autônoma, altamente descentralizada, com custos reduzidos, criam-se as condições para um salto econômico de grande dimensão, suprindo com vantagens excepcionais o mercado mundial quando se desenha claramente o colapso do petróleo e dos combustíveis fósseis. E essa mudança da matriz energética brasileira e mundial, possível e necessária, abre a perspectiva para uma industrialização diversificada, especialmente de alimentos, produtos de construção civil, farmacêuticos e químicos em geral, com uma vasta gama de subprodutos, alguns de alto potencial, com mercado garantido. São exemplos a resinoquímica (a partir da mamona), a alcoolquímica e a bioquímica em geral. De modo indiscutível, existe uma grande vocação produtiva de uma extensa e rica região associada à produção mundial de energias renováveis, no ocaso das energias não renováveis, cujo esgotamento leva à guerra, como vem ocorrendo. Em especial, com o outro lado de uma mesma moeda, a biomassa energética traz consigo uma grande produção de subprodutos alimentares. O pequeno produtor rural, a agricultura familiar poderá ter nesse campo econômico um novo e enorme espaço que lhe proporcionaria importantíssimo papel – desde que apoiado institucionalmente em adequado desenvolvimento tecnológico, capacitação gerencial e infra-estrutura logística e de distribuição nacional – no mercado externo, que cresce de modo acelerado em países de altíssimo consumo que já sofrem com o colapso do petróleo. A produção descentralizada e em grande escala de energias vegetais renováveis e limpas dos trópicos não vem para competir com os produtores de petróleo, mas para reduzir as pressões e conflitos criados por essa escassez e previsto colapso, e para alongar a vida das reservas de importantes países produtores sob permanente risco de ocupação militar por países hegemônicos.
Os biocombustíveis podem realmente substituir o petróleo? A grande abundância de energia solar dos trópicos do continente sul-americano, especialmente do Brasil e demais regiões tropicais, a excepcional disponibilidade de água, uma vasta fronteira agrícola ainda não utilizada de terras férteis e uma longa e comprovada experiência tecnológica de produção e uso dessas energias vegetais renováveis indicam tais potencialidades. Com a nova civilização da fotossíntese, a energia pode ser ‘plantada’, mudando a inexorável predeterminação das limitadas reservas fósseis e estabelecendo excepcionais vantagens comparativas da produção de combustíveis vegetais. Precisam, porém, ser complementadas com um novo quadro institucional de instrumentos operativos, eficientes e práticos, que envolvam adequadas infraestruturas para assumir a nova dimensão mundial promovida pelo ocaso das energias não renováveis de origem fóssil. Essas conclusões foram apresentadas ao final de seminário promovido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES, com participação de cerca de seiscentos especialistas e produtores, em 2005. Todos os estudos até aqui realizados, especialmente na Secretaria de Tecnologia Industrial do Ministério da Indústria e Comércio, principal responsável pela implantação do Proálcool, convergem para a mesma conclusão. O governo brasileiro está cuidando atualmente da criação de uma empresa de economia mista para responder pelos combustíveis renováveis, assim como a Petrobrás cuidou com total sucesso do petróleo. A ação da Petrobrás ocorre, porém, na área da mineração. O universo das energias renováveis envolve principalmente a agricultura, a bioquímica, exige bases científicas distintas e, conseqüentemente, pessoal de competências diversas, embora complementares. Produtos energéticos competitivos geram conflitos naturais que exigem adequado tratamento, para somar e fortalecer o quadro institucional nacional. Confundir seus objetivos provocará desgastes e desperdícios desnecessários, prejudicando os resultados.
FELIPE COUTINHO: Na mais recente edição da revista Caros Amigos foram reproduzidas uma série de respostas, que segundo a confiável revista, teriam sido dadas pelo professor e físico Bautista Vidal em resposta a questionamentos da estatal venezuelana Petróleos de Venezuela S.A (PDVSA). Li com muito interesse as respostas e decidi fazer alguns comentários que podem ser entendidos como contra-pontos a algumas visões tanto de natureza técnica, quanto estratégica, expostas pelo eminente professor.
A natureza dos chamados biocombustíveis. A denominação ‘biocombustíveis’ talvez não seja a mais adequada visto que ‘bio’ significa vida, e dependendo da maneira com que sejam produzidos, se não consideradas as restrições ambientais e a competição pela terra com a produção de alimentos, por exemplo, podem não contribuir ou até comprometer a promoção da vida humana e das mais diversas formas de vida que existem no planeta. Muitas pessoas têm preferido chamá-los de agrocombustíveis, o que também para mim parece mais adequado. Em resposta ao questionamento sobre o que são os agrocombustíveis, o professor afirmou ‘São combustíveis vegetais, renováveis e limpos do ponto de vista ambiental…’. Não concordo que se possa afirmar, sem nenhum condicionante, que são sempre ‘renováveis e limpos do ponto de vista ambiental’. Podem ser renováveis, desde que as limitações inerentes ao suprimento dos insumos requeridos para sua produção sejam consideradas. Água, por exemplo, é um bem limitado, a renovação de sua disponibilidade depende de que seu consumo seja racional, se as taxas dispêndio não forem compatíveis com as taxas de reposição, a disponibilidade de água e a sustentabilidade da produção dos agroenergéticos estaria comprometida. Também devem ser considerados entre os principais insumos da produção de agro-energéticos, os fertilizantes de origem fóssil necessários à fase agrícola da produção e os produtos químicos necessários à fase industrial de conversão dos vegetais em combustíveis.
Impacto ambiental do uso intensivo dos agroenergéticos. Ainda na definição dos ‘biocombustíveis’ o professor afirma que eles ‘… não produzem efeito estufa devido ao equilíbrio negativo entre o CO2 retirado da atmosfera… e o resultante da queima dos combustíveis vegetais…’. Mais uma vez a assertiva não é válida sem que sejam descritos seus condicionantes. Caso a produção de agroenergéticos avance sobre qualquer área onde haja alguma vegetação que, assim como descreveu o professor, retire o CO2 da atmosfera para sintetizar matéria orgânica, ou seja, para crescer, o balanço de CO2 se torna positivo. Ou seja, se troca uma cultura que apenas retira CO2 da atmosfera, por outra que também retira, mas que pela sua queima devolve-o para a atmosfera. O avanço dos agro-energéticos em busca de grande produção para sustentar, ou mesmo para incrementar, o consumismo dos países do capitalismo central, por exemplo, contribuiria para o aumento da emissão de CO2 para a atmosfera.
Comparação entre o petróleo e os óleos vegetaisUm pouco adiante, respondendo ainda sobre a natureza dos ‘biocombustíveis’ o professor afirma: ‘Enquanto o petróleo leva 400 milhões de anos para se formar a partir da radiação eletromagnética do sol, a qual depende de tecnologias não eficazes de captação e armazenamento, o óleo de girassol, por exemplo, leva dois meses para se formar a partir da radiação solar. E, como os demais óleos vegetais, é de fácil manejo tecnológico pelos pequenos produtores rurais’. Nessa afirmação, apesar de não concluir literalmente, o professor leva o leitor ao entendimento de que o petróleo e o óleo de girassol são produtos comparáveis, o que infelizmente não são. O petróleo é, sem tratar de sua utilidade em petroquímicos e fertilizantes, uma imensa quantidade de energia acumulada durante centenas de milhões de anos, que o homem encontrou e está caminhando para esgotá-lo em um período de aproximadamente 150 anos. Quando o professor faz essa comparação e fala em ‘eficiência de captação e armazenamento’ leva os incautos leitores à conclusão de que está se tratando de suprimentos energéticos de mesma escala. Como se os 400 milhões de anos desperdiçados pela ‘ineficiência de captação e armazenamento do petróleo’ pudesse ser substituído pelo mesmo acúmulo de energia de meses de fotossíntese do girassol. A pergunta que eu faria ao professor é simples, o quanto de energia se consegue nesses dois meses com o girassol em comparação com a energia acumulada durante centenas de milhões de anos pelo petróleo? Ou outra, plantando girassol, qual a área, o tempo e os insumos que são necessários para produzir a mesma quantidade de energia que a natureza nos presenteou com o petróleo? É o mesmo que comparar o esforço de enviar o homem à lua com a facilidade de dar um passo adiante. No final, lamentavelmente, o professor ainda utiliza os pequenos agricultores para alardear sua propaganda inverossímil.
Amazônia, os agroenergéticos e a Arábia Saudita. Seguindo sua retórica chauvinista o professor diz: ‘toda a região amazônica da América do Sul, por exemplo -, de altíssima produtividade, capaz de produzir nessas regiões cerca de 8 milhões de barris de óleo diesel vegetal por dia, o equivalente à atual produção de petróleo da Arábia Saudita. No caso, renovável, sem risco de exaustão, pois depende do Sol’. Para esclarecer esta assertiva preciso apresentar alguns números. Para produzir 8 milhões de barris de óleo diesel vegetal por dia, qual seria a área requerida para plantio de oleaginosas que são vegetais capazes de produzir óleos vegetais conversíveis em biodiesel? Considerando o dendê e a mamona, como exemplos, as áreas requeridas seriam de aproximadamente 230 e 1100 milhões de hectares, respectivamente. Para se ter noção da magnitude desses números, a área disponível para expansão agrícola no Brasil, segundo o Ministério de Mines e Energia, é de 100 milhões de hectares. Então passemos a considerar que o professor não considera a fronteira dita agricultável e planeja produzir dendê, em grande escala, em plena floresta amazônica. Cabe agora registrar que acredito que é muito importante para a integridade do território nacional e para o progresso das populações amazônicas que esse território seja ocupado e desenvolvido economicamente. No entanto a produção de combustível na Amazônia, em grande escala, a partir do manejo do dendê, por exemplo, teria que resolver uma série de questões. Considerando a produção descentralizada e em pequena escala de biodiesel, a partir de dendê, pelas populações da floresta, como prega o professor. Como viabilizar o suprimento de insumos químicos para a produção do combustível, tais como o álcool (metanol ou etanol) e a soda cáustica ou o metilato de sódio, que são, respectivamente, o reagente e os catalisadores da reação de conversão do óleo vegetal em biodiesel. Como manusear os produtos químicos e escoar a produção descentralizada e em grande escala sem comprometer a integridade ambiental. Como garantir a qualidade dos combustíveis produzidos. E tantas outras questões poderiam ser levantadas, quanto mais tempo nos dedicássemos a refletir sobre a idéia inconseqüente de comparar a Amazônia a Arábia Saudita, em termos de suprimento energético mundial. Como vimos, infelizmente e ao contrário do que afirma o professor, a produção de agro-energéticos não depende somente do Sol.
Civilização sustentável. Ufanando-se de que seria possível substituir o exorbitante atual consumo mundial de petróleo por agroenergéticos, o professor esbraveja ‘Transformando esses fatos da física da natureza em realidade econômica, cria-se a possibilidade de existirem civilizações sustentáveis’. No entanto, a única conclusão racional a que podemos chegar é a de que o atual consumo energético mundial é insustentável, não existe sucedâneo ao petróleo. Essa é a incômoda verdade que não interessa ser revelada ao mundo pelos governos dos países hegemônicos do capitalismo mundial, em especial os EUA e a Grã-Bretanha, que através de suas agências de energia e de seus centros de pesquisas escondem a verdade até de suas próprias populações, estas viciadas em consumir e presas ao entretenimento superficial dos oligopólios privados de comunicação. Enquanto os EUA têm cerca de 2,7% das reservas mundiais de petróleo, consomem, aproximadamente, 25% da sua produção mundial. A China tinha o mesmo índice de veículos por milhares de pessoas em 2001 que os Estados Unidos em 1913 e a África tinha o mesmo índice que os Estados Unidos em 1915. A irresponsabilidade do consumo estadunidense impõe suas conseqüências ao mundo, com guerras reais, guerras econômicas e poluição. O México, por exemplo, antigo grande exportador de petróleo, viu suas reservas despencarem de 50,9 a 12,6 bilhões de barris entre 1993 e 2002.O discurso do professor põe em risco o interesse nacional, pois sabemos que o governo Lula manteve a privatização dos nossos campos de petróleo, através dos seguidos Leilões promovidos pela ANP. Além disso, pela legislação herdada de FHC, a Petrobrás quando obtém uma concessão para exploração se vê obrigada a cumprir um prazo para o inicio da produção e caso não tenha mercado interno, se vê obrigada a exportar. Em 2006, segundo a ANP, o país exportou mais de 141 milhões de barris equivalentes de petróleo (bep), volume que representou mais de 20% da produção nacional. Se acreditarmos que somos a Arábia Saudita dos ‘renováveis’, como almeja o professor, e assim continuemos a assistir aos leilões e a exportação passivamente, em poucos anos, como o México, sofreremos as conseqüências do fim da auto-suficiência na produção de petróleo.A civilização sustentável terá sim os agro-energéticos como importante fonte de energia, no entanto, o patamar de consumo será necessariamente muito menor. Para que o Brasil consiga superar a ‘era fóssil’ é imprescindível preservarmos nossas riquezas e construirmos a união latino-americana, pois são países que têm riquezas complementares, e assim teremos mais poder para construir um modelo de sociedade viável e para tanto diferente daquele imposto pelo imperialismo estadunidense.
O potencial dos agroenergéticos em substituir o petróleo. Penso que até aqui pude abordar com alguma profundidade a impossibilidade natural dos agroenergéticos substituírem o avassalador consumo mundial de petróleo. As limitações dos recursos necessários para produzi-los, tais como a água, o álcool, os fertilizantes e especialmente as áreas requeridas, nos conduzem a essa conclusão. Mas isso não tira dos agro-energéticos sua inegável relevância no momento em que a produção mundial de petróleo se aproxima ao inexorável pico de produção, responsável pela inabalável escalada de preços que já temos observado.Os agro-energéticos terão papel fundamental na nova civilização que nos será imposta pela natureza, mas uma super estimativa de seu potencial nos leva apenas a um retardo na construção desta nova sociedade, verdadeiramente responsável, solidária, coletiva, justa e não consumista. Quanto mais demorarmos a entender a realidade que nos é imposta mais sofrimento nos estaremos impingindo.
O papel da Petrobrás na produção de agro-energéticosA Petrobrás é fruto de um dos mais belos momentos da história brasileira. O povo irmanado e mobilizado por vários anos, através da campanha ‘O Petróleo É Nosso’ criou as condições necessárias à concepção da companhia em 1953 por Getúlio Vargas. A conquista e o enfrentamento aos interesses internacionais foram tão relevantes que levaram Vargas a citá-los em sua carta testamento: ‘Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma’. O eminente professor reconhece o valor desta conquista e muito bem a descreve em seu livro ‘Petrobrás, um Clarão na História’. No entanto erra ao comemorar que ‘O governo brasileiro está cuidando atualmente da criação de uma empresa de economia mista para responder pelos combustíveis renováveis, assim como a Petrobrás cuidou com total sucesso do petróleo’. A noticia dessa iniciativa do Governo para mim é nova e como a informação não partiu de fonte oficial prefiro tratá-la como suposição.O professor justifica sua tese afirmando que: ‘A ação da Petrobrás ocorre, porém, na área da mineração. O universo das energias renováveis envolve principalmente a agricultura, a bioquímica, exige bases científicas distintas e, conseqüentemente, pessoal de competências diversas, embora complementares’. Ora, a Petrobrás não atua somente na mineração, ou seja, na exploração e na produção de petróleo. Atua também, e de forma igualmente competente, no refino, na produção de energia elétrica, na petroquímica, em fertilizantes, além de outras áreas. Ainda que existam competências que a Petrobrás precise desenvolver para atuar de forma competente, a exemplo do já que faz como uma empresa integrada de energia, também na produção de agro-energéticos, existem inúmeras outras vantagens das quais ela já dispõe. São exemplos: o conhecimento acumulado na química, em pesquisa tecnológica, na engenharias de processamento químico, mecânica, de materiais, de segurança, de meio ambiente, eletrônica, de automação industrial, no conhecimento dos combustíveis e dos motores a combustão. Além de tantos outros domínios, como em logística de transportes, suprimento, gestão. Dispõe do seu reconhecido Centro de Pesquisas (CENPES) e de tantos outros bens construídos em mais de 50 anos. Um fato recente que demonstra de forma inequívoca o quão úteis são tais competências foi o desenvolvimento do processo H-Bio que produz diesel de origem vegetal através das unidades de refino existentes na companhia. Desenvolvimento de aplicação imediata e de amplo reconhecimento mundial. É preciso reconhecer que existem muitas aptidões a serem desenvolvidas para que a atuação da Petrobrás em agroenergéticos atinja o mesmo patamar de competência demonstrado nas áreas que a empresa vem atuando. Entre elas, o conhecimento em agricultura, da biologia e dos impactos ambientais e sociais da produção de agroenergéticos. Mas não ver o que já existe não é razoável. Entendo que seja um desperdício abrir mão de uma imensa capacidade técnica e financeira já levantada pelo povo brasileiro, que é a Petrobrás, para tergiversar da questão central que é de natureza política. A política de desenvolver a produção de agroenergéticos pela Petrobrás não pode esbarrar em disputas internas como alerta o professor: ‘Produtos energéticos competitivos geram conflitos naturais que exigem adequado tratamento, para somar e fortalecer o quadro institucional nacional. Confundir seus objetivos provocará desgastes e desperdícios desnecessários, prejudicando os resultados’. Caso seja de entendimento do governo federal, o controlador da companhia, e quem indica os presidentes do Conselho de Administração e o da própria empresa, que a empresa tenha destacado papel a cumprir na liderança da produção e da pesquisa de agroenergéticos no Brasil, ele tem plenos poderes para que essa diretriz seja seguida. Mas, caso não exista tal convicção, refletida em um projeto estratégico de governo, o fracasso será inevitável independente de qual empresa seja a responsável por executá-lo.
Conclusão. É preciso reconhecer o potencial dos agro-energéticos, suas vantagens e desvantagens, seus riscos e suas oportunidades, para o nosso país e para a humanidade. É necessário enfrentar o esgotamento do petróleo e superar o modelo capitalista de consumo irresponsável. É necessário ampliar o debate, unir os especialistas das mais diferentes áreas, politizar, ideologizar, buscar a verdade, para assim tomarmos consciência da sociedade que precisamos construir para superar os desafios que a natureza já nos impõe. Termino com uma citação atribuída a Bertrand Russell: ‘O que é necessário não é a vontade de acreditar, mas o desejo de descobrir, que é justamente o oposto. Muitos homens cometem o erro de substituir o conhecimento pela afirmação de que é verdade aquilo que eles desejam’.