Artigo

Bolsonaro vende o restante do Brasil a toque de caixa

Data da publicação: 11/07/2022

 

Objetivo: desconstruir a ação do “mercado”

Ideal para encenação em sindicatos e associações no ano eleitoral.

Ambiente e personagens

Em amplo salão climatizado, muito luxuoso, três pessoas estão reunidas.

Sentadas em acolhedoras poltronas, servidos por quinze empregados, elas interpretam o papel de BlackRock, Vanguard e Street State, discutindo a situação mundial.

As três empresas juntas representam muito mais do que o maior produto nacional bruto de qualquer país do planeta.

Porém, as empresas não são conhecidas nem seus executivos. Transitam pelas ruas, não como qualquer mortal, pois têm seguranças e serviçais sempre a acompanhá-los, mas incógnitos.

Pessoa alguma sabe que ali estão os que mais roubam, corrompem e matam no mundo: são os principais mentores do Clube Bilderberg, comandam a rede de 85 paraísos fiscais espalhados por toda Terra, por onde transitam diariamente muitos trilhões de dólares estadunidenses, declaram guerras e decidem sobre a existência da vida humana.

Se os olhássemos como os gregos antigos, diríamos que Bilderberg é o Olimpo e estes são os deuses. Mas deuses da pós-modernidade, não lançam raios fulminantes sobre os mortais, lançam dinheiro para corrompê-los, vírus para destruí-los, notícias para confundi-los.

Vanguard: O rombo já está insustentável. Até aquele grupelho do Instituto Schiller divulgou ser de dois quatrilhões de dólares. Precisamos tomar decisão urgente. Desta vez a crise pode nos prejudicar.

BlackRock: Não fique assustado. Será mais uma daquelas em que limpamos os cofres públicos, como a de 2008.

State Street: Mas, desta vez, eles já estão mais vazios e o montante é ainda maior. Penso como Vanguard, que precisamos agir com mais rigor e mais rápido.
BlackRock: E o que vocês propõem?

Alguns minutos de silêncio. Vanguard pede uma bebida ao serviçal mais próximo. Nenhum quer se arriscar a propor algo impossível. O covid não foi tão mortal quanto parecia, embora tenha rendido bom dinheiro para as farmacêuticas e os sistemas de saúde que eles controlam. Precisam ser criativos. Passam-se longos segundos.

State Street: Vamos comprar um país rico.

Entreolham-se.

BlackRock: Os Estados Unidos já são nossos … E estão falidos …

State Street: Tem que ser um país rico, mas com elite sem interesse nacional, que controle um governo imbecil, que use o comunismo como ameaça.

Risos discretos, pois estão preocupados com a proposta de State Street.

Vanguard: Explique melhor. O que tem em mente, State Street?

State Street: Estou pensando no Brasil. Tem a Amazônia, uma terra de ninguém, dominada por marginais, que não exploram racionalmente as riquezas minerais e o potencial biológico e vegetal. Tem amplas reservas de água doce, que eles não sabem usar para ganhar dinheiro. E ainda mais: tem enorme reserva de energia fóssil e hídrica, que faria qualquer país ser o mais rico do mundo, mas suas elites são tacanhas e baratas, até hoje não enxergaram esta fabulosa riqueza e ficam mendigando trocados. O único governo que procurou modificar esta situação, eles levaram ao suicídio e ainda passaram cinquenta anos tentando revogar suas decisões nacionalistas e trabalhistas.

BlackRock: Bem pensado, State Street. Detalhe um pouco mais esta sua ideia.

State Street bebe um gole do champagne, organiza mentalmente suas ideias e começa a expor, como um general, seu plano de conquista do território inimigo.

State Street: O Brasil é imenso, todo ele é ocupável, não tem desertos, geleiras, o clima é propício à vida animal e vegetal. E, o que é mais importante, tem uma elite que toma conta deste país deste o tempo da colonização portuguesa, que nunca se interessou por ele. Ao contrário, sempre agiram como estrangeiros de passagem: tirar o máximo, no mais curto tempo, e ir gastar no exterior. Nos séculos anteriores ao XX eram Portugal, França, Inglaterra, depois passaram para os Estados Unidos que, ainda hoje, é onde compram seus imóveis … (discreto sorriso de troça, acompanhado pelos demais).

Vanguard: Tudo bem. Mas como operacionalizar a compra? Aliás, o que exatamente iremos comprar e quanto você avalia o preço?

State Street: Nada diferente do que fazemos. Primeiro dominar as mídias, as escolas, a classe militar, judiciária e os políticos. Assim estaremos neutralizando eventual oposição. Todos são muito baratos. Uma garrafa de uísque sem data de envelhecimento compra deputado ou general. (O assunto é sério. Ninguém ri. State Street continua.) Depois colocamos à venda o que de mais valioso eles tem: energia e minérios. Há poucos minerais ainda disponíveis; a grande maioria já é nossa, mas precisamos organizar melhor a extração na área amazônica porque há muitos marginais, contrabandistas, aventureiros se metendo. Há total falta de Estado naquela região. Precisamos ter milícia nossa, o que o domínio do Estado facilitará.

BlackRock e Vanguard concordam, mexendo com a cabeça.

State Street (prosseguindo): A cereja do bolo é a Petrobrás. É difícil, mas não impossível. Contamos com a mente corrupta e a ignorância das elites, civis, militares e eclesiásticas, embora a igreja católica pouco valha no Brasil de hoje. Os neopentecostais, a igreja do cofrinho, têm dominado amplamente a população, e seus bispos e pastores trabalham a nosso favor e ainda colocam seu dinheiro em nossos fundos (gostosa gargalhada toma a sala).

Todos os dirigentes da cadeia hierárquica que vai do Presidente aos diretores da Petrobrás já estão comprados; nenhum Ministro ou Chefe de autarquia ou departamento irá interferir. Só as reservas de petróleo existentes no pré-sal, a 100 dólares o barril, nos rendem dez trilhões, que sabemos muito bem o que fazer com eles. E ainda teríamos o consumo dos derivados, dirigindo todas as refinarias e redes de distribuição, através de nossas controladas.

State Street (arremata): Com a recessão destes últimos anos, o consumo brasileiro ainda está em 2,5 bilhões de barris/dia, aproximadamente, ou seja, quase 400 bilhões de litros de combustíveis, que o coloca entre os dez maiores consumidores de petróleo do mundo. Certamente não é tudo, mas poderemos respirar mais aliviados diante da divulgação, que já está sendo feita, dessa nossa imensa dívida, dessa quantidade de emissões de títulos sem lastro caucionando, dando garantia e afiançando os fundos de investimentos que vendemos por todo mundo. Portanto, caros colegas, tratemos de comprar o resto do Brasil.

Com a frieza que lhes caracteriza, BlackRock e Vanguard aceitam a proposta de State Street.

Fundo musical: sugere-se “Meu Caro Amigo”, de Chico Buarque.

No intervalo, deve ser exposta uma placa com seguintes dizeres:

“FOLHA DE S.PAULO – 29/06/2022 – GOVERNO AVALIA MECANISMO PARA OBRIGAR A PETROBRÁS A VENDER ATIVOS, INCLUINDO REFINARIAS”.

BlackRock, Vanguard e State Street são os três maiores gestores de ativos do mundo, com cerca de 30 trilhões de dólares estadunidenses em aplicações e especulações em diversos países.

Pedro Augusto Pinho é administrador aposentado.

Fonte: Viomundo

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