A previsão oficial dá conta de que, entre 2014 e 2016, o setor de petróleo e gás irá receber R$ 143 bilhões em investimentos. Já a Agência Internacional de Energia (AIA), segundo matéria do Jornal do Commercio do dia 06 de outubro, projeta que, em 2020, cerca de 44% dos equipamentos submarinos (subsea) no mundo estarão no Brasil. Muitos desses fornecedores, porém, são prestadores de serviços estrangeiros, boa parte instalada na Ilha do Fundão, vizinhos do Centro de Pesquisas da Petrobrás (Cenpes). O engenheiro de processamento Felipe Coutinho, do Cenpes, alerta que muitas vezes uma aparente oportunidade pode trazer ameaças ocultas. “É preciso cuidado com os elogios da propaganda. Precisamos ter cautela com números frios, que muitas vezes não dizem a realidade. Quando não estávamos ‘na moda’ no setor petróleo, desenvolvemos muito conhecimento.” Segundo o engenheiro, o Brasil deve começar seguindo os passos da China, que exige por via legal e contratual a transferência de tecnologia. “A relação que se dá entre a China e a Alemanha, por exemplo, não impede que negócios sejam feitos por causa da política soberana chinesa. Aqui não temos isso, mas sim uma abertura sem condicionantes e assim ficamos com as migalhas. Geramos empregos, mas não de maneira sustentável, pois não retemos o conhecimento.” Coutinho se referia ao projeto de cluster (aglomerado de empresas semelhantes que se comunicam e coabitam o mesmo local) para a Ilha do Fundão, anunciado na matéria e formulado pela Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços do Rio de Janeiro (Sedeis). Ele reconhece que a tecnologia subsea muitas vezes “transborda” para outros setores e é de interesse estratégico para o país, mas reitera que é preciso tomar medidas para garantir que realmente esse conhecimento seja retido no país. “Devido à invasão de multinacionais prestadoras de serviços, que acaba por garantir para elas uma prioridade nas demandas da Petrobrás, existe uma tendência ao afastamento dos técnicos da Petrobrás e dos engenheiros de empresas brasileiras. Estamos nos afastando também das soluções que nos atendam, mas que priorizem o lucro”, aponta, acrescentando que tal modelo gera “pseudosoluções”, que acabam resultando em custo mais alto, perda de produtividade e oportunidades para desenvolver conhecimento dentro do Brasil. “As multinacionais colocam o Brasil como bola da vez e aí entram com seu poder declarado e não declarado de influenciar, de fazer lobby, enquanto poderíamos reter o conhecimento com o corpo técnico da Petrobrás e engenheiros brasileiros, especialmente nas cooperativas de engenheiros”, resumiu.