e nas relações humanas. Eles ocupam a necessidade de sobrevivência, encontrada na vida vegetal, o comportamento humano nas diversas faixas etárias, mas é sobretudo importante quando condicionam os comportamentos na sociedade.
Recordemos Darcy Ribeiro, (revista Carta’ 1991 – 2, editada pelo Senado Federal, Brasília) em “O Povo Latino-americano”, quando recomenda: “Necessitamos nos livrar de nossas próprias classes dominantes, medíocres e infecundas, que fizeram de nós um proletariado externo do primeiro mundo, impiedosamente explorado.”
Paul Lazarsfeld (Personal Influence: The Part Played by People in the Flow of Mass Communications, The Free Press, Glencoe, 1955) alerta para quem pretenda atribuir aos meios de comunicação o caráter de força unificadora, “uma espécie de sistema nervoso, que chegue a cada olho e ouvido de uma sociedade caracterizada pela organização social amorfa e pela pobreza das relações interpessoais” (tradução livre).
Paul Felix Lazarsfeld (1901-1976) foi o sociólogo, nascido em Viena e naturalizado estadunidense, cujos trabalhos lhe renderam o título de “fundador da moderna sociologia empírica”. Da obra citada, retiremos algumas considerações sobre a comunicação.
Comunicação não se reduz ao estudo das mensagens, que é importantíssimo. Precisamos conhecer o universo que é atingido, o meio ou meios utilizados para transmissão da mensagem, o tempo de exposição, a predisposição do público nos diversos momentos de recepção. Igualmente as relações interpessoais dos receptores, cujas faixas etárias condicionaram a linguagem da mensagem, e os próprios comportamentos (valores, normas, atitudes prévias) para aferição dos efeitos obtidos.
Há um conhecido trabalho sobre os efeitos da série televisiva Dallas em diversos países onde foi exibida. Os árabes não entenderam o comportamento da personagem feminina, pois não compreendiam como uma mulher poderia viver sem a proteção de um homem. Os judeus centraram na riqueza, pois ela facilita tudo e é objetivo de todos.
Há um tipo de “invenção do receptor” que decorre das condições existenciais do público atingido. E que poderá ajudar ou prejudicar o objetivo da mensagem se esta se propõe a obter voto, ou a doutrinar para uma ideologia ou se deseja vender alimentos ou sabonetes.
Mas toda comunicação de massa tem um objetivo cultural, político e econômico, seja de um noticiário que se propõe neutro e técnico, da novela para simples entretenimento, ou da campanha de interesse público, para vacinação, realizada pelo Estado, como exemplo.
Disto decorre a importância do controle dos produtores, os emissores das comunicações de massa, pelo Estado Nacional. A crítica mais comum é da censura “oficial”, do arbítrio do Estado, esquecendo aquela exercida sobre toda sociedade, como é o caso dos tributos e das concessões, permissões, que obrigam a usos pela maioria ou até pela totalidade das pessoas, exemplificando pedágios e transportes públicos.
A importância da estrutura organizacional do Estado Nacional, como estamos tratando nesta série de artigos, é configurá-lo, também, para democratizar as decisões que, de algum modo, sempre atingirão todos os habitantes, os cidadãos do país. O controle das mensagens não é obrigatoriamente um exercício de censura, pode ser a resposta de defesa da Nação à pedagogia colonial.
O pensador francês Abraham Moles (1920-1992), em artigos publicados, durante os anos 1960, na revista Communications, do Centre d’Études de Communications de Masse, da École Pratique des Hautes Études (Paris, VI) buscou definir aspectos da modelo informacional da comunicação de massa, no conjunto da política cultural.
No ambiente atual, e desde o século 20, as pessoas adquirem a todo instante, permanentemente, novos elementos cujo conjunto constituirá a “cultura individual”. Esta é um produto dos átomos de conhecimento, registrados pelo indivíduo em sua memória (“culturemas”, segundo Lévi-Strauss), e da capacidade de associações que for suscetível de produzir.
Para Moles, a cultura obtida deste modo fragmentar é uma cultura “mosaica”, que apresenta duas camadas. Aquela alimentada pelos meios (mass media), em um fluxo contínuo de mensagens de toda ordem, disparatadas, submetidas ao esquecimento, que tem um caráter estatístico e passivo. E a da criação, que absorve estes elementos e produz uma nova série de mensagens que irão também ser difundidas pelos meios de comunicação de massa.
O resultado deste sistema é probabilístico e independe das condições específicas dos receptores. Moles afirma, então, que “todo mundo lê as mesmas notícias transmitidas pelas mesmas agências, vê os mesmos espetáculos na televisão e no cinema, lê os mesmos livros editados às centenas de milhares pelas mesmas editoras”.
Com a informatização da vida contemporânea, os “whatsapp”, “telegram”, “instagram”, “facebook” etc., estas identidades e as frequências de difusão foram exponenciadas. Resulta daí o alerta de Edgar Morin (1921) sobre a exigência crescente de capital, concentrando cada vez mais o poder comunicacional em reduzido número de autores, ou “criadores”.
Vários estudiosos da comunicação, os aqui já citados entre eles, sociólogos, psicólogos e políticos enfatizam a distinção entre os criadores e os receptores, e denominam “alienação cultural”, o desequilíbrio entre os que participam da criação e os consumidores.
Em Abraham Moles (Communications nº 14, 1969): “Todos os indivíduos criam, mas o que eles criam não se incorpora, necessariamente, ao quadro cultural; para isso é necessário a intervenção do mass media” (tradução livre). Marshall McLuhan (1911-1980) sintetizou no título de sua obra de 1967: “The Medium is the Massage”, o próprio meio já é uma mensagem.
Verificamos, então, que o Estado Nacional que não tem seus próprios veículos de comunicação de massa, dos menos aos mais sofisticados, adotando as tecnologias que sejam as mais adequadas aos diversos públicos receptores, está não só descuidando da construção da cidadania, da consciência dos habitantes, como da própria defesa nacional, da integridade e perpetuidade do Estado Nacional.
É óbvio, por outro lado, que os interesses estrangeiros, sejam de países ou ideologias, buscaram impedir a criação e a difusão de mensagens do Estado Nacional, usando para este fim toda gama de artifício que vai da mentira à corrupção pessoal ou de órgãos da própria máquina estatal, como agências reguladoras e permissionárias.
A vocalização, a comunicação tem um espaço importante no segmento da cidadania, mas é igualmente um instrumento da soberania, para defesa e autonomia do Estado. O Estado, sendo a representação institucional da Nação, não pode se furtar a ser o canal de vocalização do conjunto da Nação, e não apenas de suas elites dirigentes.
O que é difundido pela mídia hegemônica, comercial, excludente, como objetivo constitui na efetividade o oposto dos resultados por ela pretendidos, que não é a liberdade nem a democracia, mas a homogeneidade cognitiva e a passividade.
Nas condições do Brasil, nesta terceira década do século 21, com mortal pandemia ceifando vidas, aumento do desemprego e precariedade dos ainda existentes, a miséria avançando na população, seria de esperar reações cada vez de maior enfrentamento e revolta. A insuficiência dos meios institucionalizados para organização popular, inclusive pela criminalização de sindicatos e partidos ou associações políticas, a ausência de oposição nacionalista, defensora do Estado e das riquezas nacionais, as mídias distorcendo as realidades e dando sentido diferente aos constantes atos e decisões antinacionais, acaba por termos mensagens que conduzem ao desânimo, à apatia e à segregação ao invés da união e da coesão para mudanças.
E estas mensagens são cada vez mais aperfeiçoadas quer nos conteúdos, quer nos meios, pois as pesquisas sobre as tecnologias informacionais apenas recebem recursos se forem do interesse do poder. Aquele poder que devemos nos livrar, como no texto de Darcy Ribeiro, que inicia estas reflexões.
Alain Renaut, na apresentação de sua tradução dos Discursos à Nação Alemã, de Johann Gottlieb Fichte (Imprimerie Nationale Éditions, Paris, 1992) chama a atenção para o antagonismo construído entre o oeste e o leste, ter por “principal desafio” o futuro dos nacionalismos.
Felipe Maruf Quintas é doutorando em Ciência Política.
Pedro Augusto Pinho é administrador aposentado.
Fonte: Monitor Mercantil