O mapa da África e do Oriente Médio, em 1939, mostra esta parte do mundo dividida em domínios e possessões, majoritariamente, britânicas e francesas. Os grandes impérios que dominaram os séculos XVIII e XIX.
A II Grande Guerra, que então teve início, iria modificar esta situação com as diversas independências, algumas meramente formais, pois o controle do novo país permanecia nas mãos dos antigos colonizadores.
Porém mostrava que outras forças emergiam no cenário mundial e, também, que a posse de nova fonte primária de energia – o petróleo – seria um diferencial para o desenvolvimento das nações.
O Reino Unido havia surgido em 1922, com agregação da Irlanda do Norte à Grã-Bretanha (Inglaterra, País de Gales e Escócia). Há muita confusão sobre estas conceituações. A Inglaterra é um país, que já foi o mais poderoso do mundo e que se estende por ampla área da ilha Britânica, tendo Londres por sua capital. Incluindo o País de Gales e a Escócia forma-se a Grã-Bretanha.
Reino Unido é um Estado, administrado pela Inglaterra, e formado pelos três países britânicos, mais a Irlanda do Norte, que está localizada em outra ilha.
Ao denominarmos o país de Grã-Bretanha, estamos excluindo a Irlanda do Norte, que consideramos um estado conquistado pela ação imperialista, que é característica da aristocracia que desde o século XIII representa o poder na maior das ilhas britânicas.
A aristocracia inglesa formara-se no rentismo fiduciário e, com auxílio dos judeus, que foram autorizados, no século XVII, a reingressar na Inglaterra, incorporara o rentismo financeiro. Ou seja, viviam de aluguéis e passaram a viver, após 1700, também de juros.
A Revolução Industrial não modificou o poder inglês, os industriais ficaram, desde sempre, reféns dos financiamentos, presos pelos juros, e o trabalho jamais foi reconhecido como fundamento da riqueza.
Além da mudança que se desenhava no poder mundial, a exclusão do Reino Unido dos domínios e possessões na área mais rica em petróleo, o Oriente Médio, levou o poder inglês a articular nova aliança com os judeus, que levaria a criação, na Palestina (ex-colônia inglesa), do Estado de Israel.
Do lado judaico, se desenvolvia, desde 1896, o movimento sionista, tendo como principal documento de divulgação o livro de Theodor Herzl (1860-1904) “O Estado Judeu”.
A Palestina, historicamente, foi ocupada por cananeus, filisteus, moabitas, amonitas e israelitas. São povos antigos cujas imprecisas referências estão, principalmente, na Bíblia católica, e todos, ao longo de tempo, foram inimigos dos israelitas, que se consideravam os escolhidos por Deus e apenas tinham vínculo matrimonial com outros israelitas. Constituíam povo de pessoas excludentes, não aceitando a miscigenação racial.
Embora a mídia hegemônica procure ocultar este fato, a localização de Israel, entre inimigos históricos, procurou manter em permanente conflito o que ainda hoje é o habitat dos maiores reservatórios de petróleo.
“Geólogos e economistas confirmaram que nos territórios palestinos existem “reservas consideráveis de petróleo e gás natural”. Estes recursos estão localizados na “Área C” da Cisjordânia e na costa do Mediterrâneo, ao longo da Faixa de Gaza. A informação consta do estudo intitulado “O Custo Econômico da Ocupação do Povo Palestino: O Potencial Não Realizado de Petróleo e Gás Natural” da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad”. (no Boletim das Nações Unidas de 28 de agosto de 2019).
A REALIDADE DO PETRÓLEO NO SÉCULO XXI
As maiores reservas de petróleo – óleo e gás natural – excluídas as areias betuminosas e folhelhos de xisto, que exigem processamento prévio para que deles se obtenham o óleo e o gás, estão nos seguintes países, em 31/12/2020, em bilhões de barris:
1) Venezuela, com 303.8;
2) Arábia Saudita, com 297,5;
3) Irã, com 157,8;
4) Iraque, com 145;
5) Federação Russa, com 107,8;
6) Kuwait, com 101; e
7) Emirados Árabes Unidos, com 97,8.
Todos demais não atingem 50 bilhões de barris.
O Brasil comparece nesta lista com 26,9 bilhões de barris, embora se estime que haja mais petróleo no pré-sal do que o definido pela Agência Reguladora.
Constata-se que estão na península arábica e seu entorno os grandes volumes de petróleo, e, fora dessa área, não estão em países que tradicionalmente apoiem as pretensões da Grã-Bretanha.
Em 1900, toda área da Península Arábica, espraiando-se pelo norte da África e pela costa do Mediterrâneo estavam sob domínio do Império Otomano. Recordemos que o petróleo começa a ser fonte primária de energia, substituindo o carvão mineral, a partir de 1870, com a empresa criada por John Davison Rockefeller, a qual se seguiu a europeia anglo-holandesa Royal Dutch–Shell, iniciada em 1897, em Londres.
A Grã-Bretanha que se industrializara com o carvão mineral vê que esta transição energética seria inevitável e trata de substituir o Império Otomano no Oriente Médio. Confrontando-se mapas de 1900 até 1950, se vê, a cada década, a dominação britânica e a independência dos países. A Palestina, a Jordânia, o Egito, o Iraque e o Irã, ficaram e saíram do domínio da Grã-Bretanha e a Síria e o Líbano, da França.
Na medida em que o petróleo saia do controle inglês, sucediam-se golpes e revoltas provocados pela Grã-Bretanha e pelos Estados Unidos da América (EUA).
O gênio Darcy Ribeiro é contundente ao descrever a civilização estadunidense: “nações há no Novo Mundo – Estados Unidos, Canadá, Austrália – que são meros transplantes da Europa para amplos estados de além-mar. Não acrescentam novidade alguma neste mundo. São excedentes que não cabiam mais no Velho Mundo e aqui vieram repetir a Europa” (“O Povo Brasileiro”, 1995).
EUA e Reino Unido se tornam parceiros e aliados, como se vê neste massacre que ocorre na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, persiste na Síria e amplia-se para o Líbano.
A criação do Estado de Israel foi o bem sucedido projeto britânico, com ajuda dos EUA e a comoção surgida das revelações a respeito das atrocidades nazistas da Alemanha contra os judeus, que corre todo mundo, para manter em permanente estado de conflagração a riquíssima área, detentora de 65% do petróleo no mundo.
Agora, com a farsa das energias eólicas e solares sendo revelada, não só pelos altos custos de sua produção, como pela descontinuidade de seus fornecimentos, pela exigência de aporte permanente e crescente de recursos dos Estados nacionais, que são retirados de outras áreas, inclusive militar e do desenvolvimento tecnológico, e as limitações de uso que só o petróleo permite, a dominação do Oriente Médio se impõe.
A guerra que está se iniciando contra os palestinos é o projeto de ocupação anglo-estadunidense para toda Península Arábica, incluindo a Síria, o Egito e o Irã, confrontado, assim, ao sul com a Federação Russa e seus aliados. Ou seja, a continuação da derrota de agressão à Rússia pela Ucrânia, com as forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a velha geopolítica anglo-estadunidense de destruição da Rússia.
Fica ainda menos surpreendente, quando o projeto de dominação neoliberal, com as teorias da globalização e de uma liberdade absoluta, esbarra nos nacionalismos, ainda fortes e dominantes, e de modo não expansionista, nas duas grandes potências da atualidade: a República Popular da China e a Federação Russa, e em organismos plurinacionais como a Iniciativa do Cinturão e Rota, ou Nova Rota da Seda, a Organização para Cooperação de Xangai, e os BRICS, dentre outros. Assunto normalmente apresentado como o embate entre a unipolaridade e a multipolaridade.
É, no entanto, indispensável entender que um poder, no caso das finanças apátridas, nem sempre tem respaldo no governo, no caso dos franceses que majoritariamente se colocam contra Emmanuel Macron, e que nem poder nem governo representam um povo e suas ambições, como vimos recentemente com Jair Bolsonaro, no Brasil.
A divulgação pela mídia hegemônica de farsas e falácias só confunde o povo e que responde se afastando destes programas televisivos e dos sites e blogs por eles mantidos.
Como vem ocorrendo desde o século XX, as lutas pelo domínio das comunicações, hoje com recursos virtuais, e pelas fontes primárias de energia continuam, revestidas de guerras frias e quentes.
Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado, foi membro do Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra (ESG) e Consultor das Nações Unidas (UN/DTCD).