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Corona Bilderberg? Por que não?

Data da publicação: 20/03/2020

Em 1960, a Agência Central de Inteligência (CIA), dos Estados Unidos da América (EUA), desconfortável com o rumo que tomavam certas investigações sobre a morte do Presidente John F. Kennedy e sobre os possíveis interessados em seu assassinato, usou a expressão “teoria da conspiração”.

Buscava com esta estratégia desmoralizar estas pesquisas, antes mesmo que elas trouxessem novas narrativas.

Mas a expressão não era nova. O Império Colonial inglês já a usava e outras qualificações semelhantes para desacreditar as lideranças nacionalistas e as denúncias de roubos, subornos e assassinatos que se espalhavam pelas colônias britânicas.

O Clube Bilderberg é real. Ele existe desde 1954 e representa o interesse do grupo detentor da quase totalidade do capital privado que domina a economia ocidental. Além da posse de ações e títulos, privados e de governos, são estas pessoas que dirigem organizações internacionais, tais como: o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (WB), a UNESCO, a Organização Mundial de Saúde (OMS), e as mais recentes Organização Mundial do Comércio (OMC), Banco Central Europeu (BCE), e outras que interferem na economia e na vida das pessoas.

Vivemos, no entanto, uma nova guerra, diferente das quentes e frias que conhecemos no século XX. A guerra híbrida só dispara foguetes em guerras controladas, regionais. Seu forte é a guerra invisível da comunicação e a bacteriológica.

Um dos maiores estudiosos do Grupo ou Clube Bilderberg é o jornalista e escritor lituano Daniel Estulin. De seu livro, “A verdadeira história do Clube Bilderberg”, extraímos a afirmação que neste século XXI poderíamos nos defrontar com um “Estado Policial Eletrônico Global” (EPEG).

A banca, como denomino o sistema financeiro internacional – patrocinador, frequentador e condutor do Bilderberg –, tem seu planejamento para o longo prazo. Não foi agora que passou a usar a força da comunicação de massa.

O pensador Noam Chomsky, no livro “Mídia Propaganda política e Manipulação” (tradução de Fernando Santos, wmfmartinsfontes, SP, 2017), lembra não só o citado caso Kennedy, como inúmeros outros que a mídia atuou/atua como verdadeira agência de publicidade ideológica e dos interesses destes poderes. E estes poderes, no Mundo Ocidental ou Atlântico, como prefiro, são os capitais financeiros, a banca.

Enumeremos algumas perplexidades em relação ao corona vírus (prefiro manter sua identidade batismal do que as diversionistas que lhe seguiram).

Faria sentido a banca lançar um vírus de laboratório em uma cidade importante da República Popular da China (RPC), entroncamento ferroviário e com estratégicas indústrias. Seria parte da guerra econômica e financeira que a banca trava contra o desenvolvimentismo industrial da Eurásia.

Também atacar a Itália, recém ingressa na Rota da Seda, poderia ter um efeito de chantagem para os países europeus que, premidos pelo desemprego, pelos coletes amarelos, pelas lideranças de direita nacionalista, na Hungria e na própria Itália, recuassem no propósito industrial desenvolvimentista.

Mas o confinamento generalizado pela Europa Ocidental parecia ter muito maior alcance do que esta guerra da banca contra a industrialização.

Como a agenda da reunião anual do Bilderberg, que será em junho próximo, ainda não foi divulgada, voltei-me para a do encontro de 2019, cujos 11 itens, em tradução livre, transcrevo a seguir.

01 – Ordem estratégica estável

02 – Futuro do capitalismo

03 – Como seguirá a Europa

04 – Ética da inteligência artificial

05 – Ameaças cibernéticas

06 – Mídias sociais como armamentos

07 – Importância do Espaço

08 – Mudanças climáticas e sustentabilidade

09 – Brexit

10 – China

11 – Rússia.

O atilado leitor percebeu, de imediato, que, à exceção dos quatro últimos, todos os demais cabem perfeitamente no projeto de guerra bacteriológica e do Estado Policial Eletrônico Global (EPEG).

Examinemos, então, mais detidamente estes objetivos Bilderberg.

Primeiro algumas considerações sobre sociedades secretas. Desde os antigos cristãos, reunidos nas catacumbas romanas, passando por partidos ou movimentos políticos, pela maçonaria e outros, o fato de haver grupos que se reúnem na obscuridade, sem transparência para as populações e para muitos poderes formais, é um dado histórico.

Portanto não é o sigilo do Bilderberg que nos impressiona, mas o percentual da riqueza mundial que ele concentra e seus objetivos de aprofundamento das leis e regras que lhes permitem assim existirem e prosperarem.

Poderíamos estar entrando no processo de transformação da sociedade, não no modelo progressista do século XVIII, mas num retrocesso extraordinário que o Estado Policial seria tão somente uma parcela visível.

Os amigos que acompanham minhas reflexões sabem que o mais grave do neoliberalismo/banca é seu projeto neomalthusiano e, desde a desregulações da Margaret Thatcher, a presença crescente dos capitais marginais (das drogas, contrabandos, tráficos de pessoas e órgãos humanos) neste poder supranacional.

Um pouco de história para confronto de situações, resguardadas as reduções sociológicas.

Antes de esmiuçarmos o projeto Bilderberg, façamos breve recapitulação das sociedades europeias em dois locais, no século XVIII: na cidade de Roma e na Inglaterra.

Os dados que apresentarei foram retirados das comunicações do professor Vittorio Emanuele Giuntella (1913-1996) e da professora Dorothy Marschall (1900-1994), no colóquio sobre “Problemas de estratificação social: castas, ordens e classes”, ocorrido no mês de dezembro de 1966, na Sorbonne – Faculdade de Letras e Ciências Humanas (Paris).

O século XVIII conheceu as revoluções que transformaram o mundo ocidental: a revolução industrial (1760), a revolução americana (1776) e a revolução francesa (1789). Como homenagem à brava luta dos italianos contra a quarentena do corona vírus, inicio por Roma, do professor Giuntella.

Roma do século XVIII apresentava uma sociedade típica da “ordens” e a ordem superior era composta por eclesiásticos. “É em relação aos eclesiásticos, segundo as relações com estes e segundo os serviços a estes prestados, que se ordenam todas as outras ordens da sociedade” (V.E. Giuntella, As condições sociais em Roma no século XVIII, in “Problemas de Estratificação Social”, Cosmos, Lisboa, 1988). E, adiante, “o exemplo mais notável é talvez o da família Borghèse, que adquiriu simultaneamente nobreza e prestígio com a elevação ao pontificado de um de seus membros, o papa Paulo V”.

Roma não era a mais populosa cidade da Itália à época. Este título pertencia a Nápoles. Giuntella aponta 170 mil almas. O que dá a dimensão de relações quase íntimas, entre pessoas que se encontravam nos afazeres da produção, dos serviços e de domínio. “Em Roma, vemo-nos e conhecemo-nos como nas nossas cidades de província”.

Fica evidente que, apesar da sempre presente pedagogia colonial, neste caso cercada do misticismo religioso, a “fake new” era muito reduzida, pelos contatos diretos desenvolvidos, a despeito das diferenças de classes. Isto que alguns historiadores/sociólogos querem ver nas relações escravagistas brasileiras, mas aqui erroneamente.

Podemos então compreender que todas estas revoluções tiveram de início um papel perfeitamente secundário. E transcrevo mais um texto do professor Giuntella: “Esta sociedade começa a modificar-se na segunda metade do século quando se anuncia nos espíritos e nos sentimentos dos homens uma nova escala de valores sociais, a nova importância ligada à produção dos bens materiais e à formação de um capital”.

Tratemos agora de “A Estrutura Social na Inglaterra no século XVIII”, conforme a comunicação da professora Dorothy Marschall, na mesma publicação lisboeta do trabalho do professor Giuntella.

Doutora D. Marschall define seus termos: usará “ordens” para o estatuto do indivíduo determinado pela consideração social e pela tradição. Para fatores “largamente econômicos” adotará “classes”.

“No princípio do século, a sociedade inglesa aparece como dominada por ordens e posições sociais de preferência a classes”. Mas a passagem de uma economia “que dependia principalmente da agricultura, em particular dos cereais, para outra que ia depender da indústria e do mercado mundial” não tirou da posição de um homem o status enquanto proprietário de uma pedaço de terra. E continua Marschall: “a sociedade tendia a ser conservadora, continuava a dar mais importância a este único fator (propriedade fundiária) do que a nova situação econômica”. As “ordens” tendem a olhar para trás, as “classes” aceitavam as consequências do crescimento e da modificação econômica.

Portanto, e não sendo estas análises senão um confronto para examinar a situação atual, transcrevo a conclusão da doutora Marschall: “os nobres e a gentry continuavam a ver o mundo no qual persistiriam em gozar de uma posição dominante e da deferência que a acompanhava”, mas que “duas categorias inferiores se transformavam rapidamente em classes,. e o dinheiro ditaria não só as relações internas, mas as relações com outras classes”. “Quando este processus adquiriu força suficiente, então a transformação das duas ordens superiores, se não abertamente, pode ser retardada, mas já não podia ser evitada”.

A sociedade atual conheceu duas grandes revoluções, ocorridas no século XX: aquela que Darcy Ribeiro (1922-1997) denominou termonuclear, e a decorrente da teoria da informação, a revolução cibernética.

No início tudo eram flores. Vivemos os trinta anos gloriosos pós II Grande Guerra, surgiram líderes nacionalistas que promoveram a independência de seus países do colonizadores europeus, a industrialização gerou trabalho, renda e bem estar social.

Mas, os novos “nobres” e “gentry”, surgidos na era moderna, não estavam dispostos a repartir os ganhos abundantes com um “populacho arrivista”. Iniciaram a cizânia contemporânea, como se assalariados representassem populações distintas, e uns fossem ordem, outros classes.

Cito Darcy Ribeiro (Estudos de Antropologia da Civilização, O Processo Civilizatório, Civilização Brasileira, RJ, 1968): “A revolução termonuclear colocou nas mãos das sociedades mais avançadas somas tão fantásticas de poder destrutivo, construtivo e constritivo que tanto pode conduzir o homem ao reino da fartura e da equidade como pode desencadear um processo de deterioração sociocultural e até biológica mais profundo que qualquer das regressões anteriores”.

A banca, como meus caros leitores já sabem, começam a combater esta nova sociedade pós-guerra com a comunicação de massa e o domínio crescente das tecnologia da informação. Hoje elas decidem o que você vai saber, quando e como vai saber. Apropriaram-se a tal ponto sua mente que você já não tem ideia, amor, personalidade. É um zumbi produtivo, sem tempo nem vontade de refletir. Enganado pelas leituras que, dizendo as mesmas coisas, você imagina estar no centro de um debate.

E é por isso que são tão iguais governos ditos de esquerda e de direita; ambos agem a favor da banca. Se Fernando Henrique Cardoso cometeu o inominável crime de alienar o patrimônio brasileiro, construído com nosso patrimônio natural e intelectual, Luiz Inácio Lula da Silva considera-se, com razão, o melhor amigo dos banqueiros. Quem paga a dívida pública nunca auditada para os bancos, pratica estelionato contra o patrimônio nacional.

Mas o show da democracia deve continuar, afinal qual a diferença de Chico para Francisco, senão a cor da camisa?

Bilderberg, tudo a ver; é o dominador das consciências pela pedagogia colonial e toda sorte de mídias do século XXI.

Pareceu-me muito circo, o montado pela banca para redução do preço dos ativos. Afinal, desde 1987, ela construiu crises que resultaram, todas elas, nas transferências de recursos públicos e privados para os membros permanentes do Bilderberg. Diz Daniel Estulin: “a situação é extremamente grave. Temos que enfrentar o esforço combinado de algumas das pessoas mais brilhantes da história da humanidade conspirando contra nós, com o objetivo de subjugarmo-nos”. Vítimas de nós mesmos.

O que significa a quarentena, o confinamento, a redução de contatos interpessoais, de participações coletivas, senão o cerceamento do confronto com a realidade daquilo que recebemos pelas comunicações de massa, pelas comunicações virtuais, pelas redes de televisão, catequisando dia e noite a todos.

Recordemos a lição do matemático e ciberneticista francês Louis Couffignal (1902-1966): a mensagem tem três dimensões – seu suporte físico (a escrita, a fala, o tato no braile), sua semântica (a compreensão mais ampla, cultural, que permite a interação entre as pessoas) e o pattern. “O pattern não é necessariamente a semântica de uma informação”, mas uma compreensão pessoal ou uma emoção que os conjuntos do suporte e sua semântica transmitem para uma única ou para pouquíssimas pessoas (L. Couffignal, Les Notions de Base, Gauthier-Villars Éditeur, Paris, 1958).

A banca investe em laboratórios de pesquisa psicológica, psicossocial buscando criar “patterns” e semânticas que fixem emoções e reações instintivas nas pessoas.

Em que direção? Do medo, é óbvio. Do medo de uma peste negra vinda do oriente, o que não ocorre; de um terrorismo engendrado pelas forças de espionagem e golpistas dos EUA, da Grã-Bretanha, de Israel e dos diferentes, mesmo que estes sejam maioria, por questões de “ordens” ou “classes” fantasiosas.

E, com a avalanche da miséria, da fome, das maiores migrações de seres humanos já vista na história, a justificativa de massacres..

Então, como na fábula das rãs que pediam um rei, nos virá o controle salvador. Aplaudiremos o Estado Policial Eletrônico Global, anônimo, incognoscível, protegendo marginais, mas, nas mídias, salvando o ocidente, a Itália da adesão à Rota da Seda, os coletes amarelos das perseguições do banqueiro adjunto Macron e aqui, no Brasil, um povo bom e ordeiro do mal educado Bolsonaro.

Esta distopia está diante de nós. Não me vejam apoiando Macron, Bolsonaro ou a Rota da Seda. Lamento que os verdadeiros líderes: Charles De Gaulle, Getúlio Vargas, Fidel Castro, Josip Tito, Sukarno, Abdel Nasser, General Velasco Alvarado não tenham deixado seguidores e os poucos que poderiam seguir suas trilhas libertadoras, a banca assassinou ou a pessoa ou a reputação.

Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

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