Sempre, na vigência do capitalismo, Estado e corporações privadas disputaram o poder.
A diferença está na dimensão e nomenclatura que recebem. Quando os Estados saem de suas fronteiras, denominamos Império.
Os grupos privados já foram vistos como cartéis, oligopólios e monopólios. Porém, hoje, existe a integração de empresas, universidades, mídias, até religiões atuando no mesmo sentido.
Daniel Estulin denomina Empresa Mundial S.A. na linha da criação do Clube Bilderberg, da “One World Company Ltd.”.
Como vai muito além da ação empresarial, denominaremos Corporação Global.
Justifico: na continuidade da permanente concentração, típica das finanças, as Corporações Globais tendem a ser uma única. Um Chief Executive Office (CEO), um Reitor e um Papa, para os três ramos da Corporação: empresa, educação e religião.
Após a II Grande Guerra, nova derrota recairá sobre o financismo inglês: o sucesso do industrialismo, no capitalismo e no socialismo, além da libertação das colônias europeias na África, Ásia e nos mares do Pacífico e Caribe. A Associação Francesa de Economia Política denominou o período de 1945 a 1975 dos “trinta gloriosos anos”.
Algumas das mais importantes iniciativas, como um projeto de desenvolvimento humano – na economia, relações de trabalho, solução de problemas sociais e desenvolvimento cultural – foi levado à estagnação (décadas perdidas) e ao retrocesso econômico, social e moral.
Seguem os principais eventos que nos conduziram, dialeticamente, ao século 21, a partir a II Grande Guerra.
1944 – Entre 1º e 22 de julho, acordos de Bretton Woods, criação do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. Fixam-se regras para 44 países, buscando a garantia econômica e aceitando a intervenção estatal. Consagra também a hegemonia estadunidense para todo bloco capitalista.
1945 – Friedrich Hayek, que lançara no ano anterior seu livro contra o Estado intervencionista e do bem-estar, na eleição para o parlamento, na Inglaterra, proclama: “apesar de suas boas intenções, a socialdemocracia moderada inglesa conduz ao mesmo desastre que o nazismo alemão – uma servidão moderna”.
1945 – Os Estados Unidos da América (EUA) lançam na cidade de Hiroshima (Japão), em 06/08, a primeira bomba atômica, e, três dias depois, a segunda na cidade de Nagasaki. Estas agressões absolutamente inúteis constituíam ameaça à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), na situação bipolar de poder na qual o mundo mergulhará até 1991.
1947 – Funda-se a Sociedade de Mont Pèlerin, na Suíça, para combater todo tipo de sistema econômico que não fosse livre de regras e de qualquer cerceamento à liberdade. Não seria democrático e livre se promovesse a defesa do trabalhador, tivesse a participação do Estado, e restringisse o lucro por qualquer meio.
1947 – Fundado o Instituto Tavistock, desmembrado da Tavistoc Clinic, em Londres, para pesquisas sociais e desenvolvimento organizacional. Trabalhou com a Fundação Rockefeller (constituída em Nova York, em 1913) na implementação de projetos de pedagogia colonial.
1948 – Criação do Estado de Israel em área ocupada por palestinos, no Oriente Médio. Com a justificativa de “reparação ao povo judeu pelos padecimentos do nazismo”, as finanças colocam um quisto étnico e belicoso no ponto central das reservas de petróleo.
1948/1949 – A primeira Guerra Árabe-Israelense surge como resposta das nações árabes à criação do Estado de Israel. Depois, ocorreram a Guerra do Suez (1956), dos Seis Dias (1967) e do Yom Kippur (1973), embora muitas escaramuças tenham e continuem a acontecer naquele espaço, envolvendo a Organização para a Libertação da Palestina ou Autoridade Palestina, Egito, Síria, Jordânia, Líbano e Iraque.
1950 – Tem início em junho a Guerra da Coreia, que concluirá com a divisão da península em dois países, em julho de 1953. Os EUA terão participação ativa com pretexto de evitar a expansão do comunismo.
1954 – Constituído o Clube Bilderberg, com cerca de trinta membros e participação de até igual número de convidados.
1955 – Os EUA iniciam a Guerra no Vietnã, da qual terminará derrotado em 1975. Esta guerra com muitas mortes provocou grandes manifestações oposicionistas em todo mundo.
1960 – Em 15 de setembro de 1960, Irã, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita e Venezuela fundam em Bagdá a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que a partir de 1965 será sediada em Viena, na Áustria. Em 1968, como instrumento da cooperação árabe cria-se no Líbano a Organização dos Países Árabes Exportadores de Petróleo (Opaep).
1961 – Os príncipes consortes do Reino Unido e dos Países Baixos, respectivamente Philip e Bernardo Leopoldo, criam com Godfrey Rockefeller, Julian Huxley, Peter Scott, Guy Mountford e poucos mais o World Wildlife Fund – WWF, para atuação internacional na defesa da preservação ambiental.
1968 – O industrial italiano Aurelio Peccei e o cientista escocês Alexander King fundam o Clube de Roma, que se tornou conhecido em 1972 com a publicação do relatório “Os Limites do Crescimento”. Elaborado por uma equipe do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), o relatório foi contratado pelo Clube de Roma e coordenado por Dana Meadows.
1968 – Este ano marcou diversas transformações devido às intensas ebulições políticas e sociais, sendo o mês de maio, na França, a data icônica. Muitos consideram o ponto alto da Guerra Fria. A juventude via o mundo em crise e temia por seu futuro. Tudo deveria ser feito agora. Vários slogans surgem como “é proibido proibir”. Sem dúvida, as finanças preparavam a Europa sobretudo para sequência de crises que se desencadeariam na década seguinte.
1971 – É fundada a Organização Não Governamental (ONG), Greenpeace, em Vancouver, na Colômbia Britânica (Canadá), com sede em Amsterdã (Países Baixos). Objetivo: atuação internacional em questões relativas à preservação do meio ambiente, desenvolvimento sustentável, proteção das áreas de floresta, do clima, dos oceanos, do controle da energia nuclear, da engenharia genética, de substâncias tóxicas, de transgênicos, agrotóxicos e propugnar pela energia renovável.
1971 – Klaus Martin Schwab, professor de administração na Suíça, constitui o Fórum Econômico Mundial. Além de reuniões anuais, o Fórum produz vários relatórios de pesquisa e engaja seus membros em iniciativas setoriais específicas. Tem posição de observador no Conselho Econômico e Social das Nações Unidas e está sob a supervisão do Conselho Federal suíço. O Fórum é financiado por suas 1000 empresas-membro.
1973 – Primeira crise do petróleo. Foi um evento crucial para mudança do poder no mundo, do industrialismo para o financismo. Sua origem remete ao Acordo de Achnacarry, criador do cartel das Sete Irmãs, as grandes empresas de petróleo no mundo, em 1928.
Desde então, o preço do petróleo cru enfrentou guerra e crises praticamente estável. O petróleo era extraído nas colônias, especialmente no Oriente Médio, e processado no mundo desenvolvido; quanto menor o custo da matéria prima, maior o lucro do vendedor do produto final.
A apropriação da renda petroleira era, portanto, integralmente feita pela Sete Irmãs.
Com a inflação que tomou conta do mundo após os EUA romperem unilateralmente os Acordos de Bretton Woods, em 15 de agosto de 1971, o preço do barril de petróleo ficou ainda mais distante da realidade econômica, dos 30 anos gloriosos.
Os preços nominais sobem de 3 para 12 dólares por barril. Mas estes 12 dólares não representavam 400%, porém pouco mais de 200%, tomando-se os preços de 1928.
Só o rompimento decidido por Richard Nixon já representava 10% com base nos preços ao consumidor estadunidense. Mas as finanças e sua mídia, com o auxílio dos movimentos ambientalistas, fizeram enorme pressão contra o petróleo, e indiretamente contra a principal fonte de energia para a economia produtiva.
1973 – Em reforço a esta situação de dificuldades, é constituída a Comissão Trilateral, por iniciativa de David Rockefeller. O conjunto de membros é dividido em quantidades proporcionais para cada uma das três áreas regionais (América do Norte, Europa e Ásia/Oceania).
Nestes membros se incluíam presidentes de corporações, políticos dos grandes partidos, acadêmicos e presidentes de universidades, líderes de uniões de trabalhadores e ONG’s. A primeira reunião do comitê executivo foi em Tóquio, em outubro de 1973.
1973 – Também como fosse um contraponto à OPEP, é criada a Agência Internacional de Energia (AIE), com sede em Paris. Ligada à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a finalidade da AIE é coordenar as medidas a serem tomadas com a crise do petróleo.
O que ocorreu efetivamente foi o enorme crescimento na disponibilidade de dinheiro nos bancos ingleses, estadunidenses e suíços, os petrodólares, gerados pelas exportações dos países, sempre em dólares, como ficara acertado, em 1971, com os EUA, no rompimento do Acordo de Bretton Woods.
Essa montanha de dinheiro irá constituir a dívida com a qual as finanças reverterão, ainda na década de 1970, o crescimento econômico e social do ocidente no pós-guerra. O grande articulador dessas estratégias foi o bilderberguiano Henry Kissinger, de quem transcrevo pensamento citado pelo coronel Gélio Fregapani, em artigo de 22/04/2012, no Defesanet: “Controle o petróleo e controlará as nações; controle o alimento e controlará as pessoas”.
1979 – Ocorre a segunda crise do petróleo, com o preço nominal do barril aumentando de 13 para 34 dólares (hoje corresponderia a aproximadamente US$ 120,00). O pífio pretexto foi a desestruturação da produção iraniana pela deposição de xá Reza Pahlevi, aliado do complexo anglo-estadunidense.
Na sequência trataremos da transferência do poder para o sistema financeiro e as consequências para o mundo ocidental no século XXI.
Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.
Fonte: Viomundo