Formado nas falácias, na hipocrisia, o neoliberalismo no poder resultou em um mundo de guerras, desemprego, fome, onde a carência, as faltas se dão pela ausência da produção e pelas dificuldades na aquisição. Veja-se, como exemplo, a Europa desprovida de energia, pela intencional destruição de gasoduto, pela política de exclusão de populações e pela desconsideração com o ser humano, neste século XXI de domínio neoliberal.
O pensamento ocidental se dividiu, desde o início, entre corrente realista, que partia das relações observáveis da natureza, do meio físico e social em que se vivia, e a imaginosa, idealista, utópica. Dentre os primeiros, encontra-se Heráclito, de Éfeso, para quem tudo está sempre em mudança. Observação que Platão transformará em processo, o diálogo, maneira de educar (maiêutica).
Perguntas e respostas que levarão à verdade, ao conhecimento, denominado, também, método socrático. Nesta linha, o iluminismo dos setecentos gerou o filósofo alemão Hegel, que colocou a dialética a serviço dos fenômenos do espírito, do mundo das ideias.
Outro alemão, Marx, logo em seguida, toma este processo de contradições para analisar a sociedade humana, o mundo concreto e visível da vida em sociedade, e encontrou nas relações de trabalho sua resposta: os opostos eram os trabalhadores e os patrões, a luta de classes, assim sintetizada.
Mas a teoria da informação viria criar, entre as grandes guerras da primeira metade do século XX, um obstáculo a esta contradição baseada no trabalho: a robotização, as relações virtuais.
O neoliberalismo aproveita estas questões e as guerras que se desencadearam para sua primeira falácia: ou se está com o capital ou com o trabalho, não há convivência possível. E o capital é livre, gera oportunidade para todos, democrático; enquanto o trabalho se impõe pela força, é opressor, ditatorial.
E, por cerca de 70 anos, o neoliberalismo, corroendo as conquistas do trabalho, impôs a falsa dualidade do próprio marxismo: ou você está com o capital ou com o trabalho.
Nosso Brasil, tão pouco estudado pelos próprios brasileiros, foi um dos países que desenvolveu seu pensamento próprio, fora da dualidade incômoda, irreal e antinômica do capital e trabalho. E o produtor individual? E o comerciante de seu negócio? E o profissional de seu conhecimento?
A síntese veio com o que se convencionou denominar “nacional trabalhismo”, a doutrina política do Governo Vargas, implantada durante seus períodos de Presidente do Brasil, e que nos proporcionaram meio século de crescimento, o maior dentre as nações em seu tempo, e de distribuição de riqueza e saber entre a população.
O neoliberalismo, entre nós, veio combater o nacional trabalhismo e seus seguidores.
Solerte como sempre, o neoliberalismo distorce a realidade nacional trabalhista, trazendo apenas o que criara, por todas as mídias e processos educacionais, durante o período de 1917 a 1991: o anticomunismo.
Já nem mais existindo, como a maioria dos cultos animistas, após o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), o fantasma do comunismo assusta como um bicho papão, às crianças, ou o Velho do Restelo (Camões, “Os Lusíadas”.), aos mais lidos:
“Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!“(Canto IV, 96).
INFILTRADOS NA RECONQUISTA DA SOBERANIA
Os neoliberais, reconheçamos, têm estrutura de atuação invejável; digna dos que assaltam todos povos e países para usufruir das vantagens do poder e assenhorear-se de suas riquezas. Planejam ações com antecedência, as vão reformulando conforme se desenvolvem as respostas das sociedades, criam instrumentos e situações diversionistas, lançam e desaparecem com veículos de comunicação; nada é feito de improviso. E assim conquistam e mantem seus ganhos.
Um capítulo especial deve ser destinado a explicar sua conquista do poder. É óbvio que a corrupção, o suborno e a chantagem são utilizados de modo amplo, geral e irrestrito.
Poder-se-ia classificar os colaboradores do neoliberalismo em quatro grupos:
(a) os ingênuos, pobres de letras e de espírito, que não percebem as causas de suas desditas;
(b) os colonizados, aqueles que desde o nascimento são instruídos nos preceitos colonizadores, pela tradição, pela instrução, pela fé, por acomodação e descaso, para estes as comunicações de massa exercem importantíssima influência;
(c) os oportunistas, os venais, não ignoram os males do neoliberalismo, das consequências de suas ações, mas imaginam que podem tirar vantagens pessoais colaborando com este poder; (d) finalmente, uns poucos que acreditam, os adeptos que, nos limites de suas compreensões, exacerbam os males da fraternidade, da solidariedade e até da justiça social. Estes últimos têm um misto de ódio e de medo dos pobres.
O Brasil submeteu-se ao neoliberalismo a partir de 1980, quando o mundo aprovava as desregulações financeiras, trazendo grande facilidade para as transferências de patrimônio e receitas, aumentando extraordinariamente a corrupção e o número de “paraísos fiscais”.
Aqui, exacerbando as mazelas do regime autoritário, implantado a partir de golpe de estado de 1964, tramado e financiado pelos Estados Unidos da América (EUA), que até enviou agentes para orientar os nativos envolvidos (Vernon A. Walters), excluiu o golpe dentro do golpe, em 1967, que colocou no governo militares que viveram as transformações da Era Vargas, e agiam com interesse nacionalista (Costa e Silva, Médici e Geisel).
Desta maneira, o que poderia ter sido uma abertura para participação do povo no governo, foi principalmente, e depois unicamente, a abertura da economia brasileira aos capitais estrangeiros.
Vivemos desde 1990 o período neoliberal, onde não apenas as conquistas tecnológicas, econômicas (Petrobrás, Eletrobrás, Nuclebrás, Embratel, Embrapa, Embraer, Itaipu, BNH), também os direitos trabalhistas e previdenciários, da saúde e da educação e cultura (INPS, Ceme, Mobral, Embrafilme, Dataprev, FGTS, Funrural, Programas de Alimentação – Pnae, Pca, Procab e Proab) foram saindo das mãos brasileiras, do poder nacional, para as finanças apátridas ou para o desaparecimento.
Desde 1990 até 2023, não houve recuperação das perdas nacionais pelas ações dos mais neoliberais governantes.
Nenhuma reserva de petróleo voltou para Petrobrás, o ensino de tempo integral não foi restabelecido, as faculdades privadas passaram a receber alunos com financiamento estatal, ao invés deste recurso ir para as escolas públicas, os planos de saúde e previdência administrados pelo sistema bancário procuram desacreditar para substituir os órgãos públicos de previdência e a assistência.
Todos os governos pós-redemocratização tiveram no poder representantes das finanças apátridas; uns mais outros menos, mas nenhum deixou de dar sua contribuição à desnacionalização dos empreendimentos brasileiros, à evasão das receitas obtidas com a mão de obra e recursos naturais brasileiros, e à desoneração dos ganhos financeiros.
Também a probidade pessoal é irrelevante se a desnacionalização das riquezas nacionais é mantida e não há ação do Estado para que este patrimônio, muitas vezes insubstituível e que não se repõe, gere, primordial ou unicamente, riqueza e renda para o povo brasileiro.
O terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva está quase integralmente composto de infiltrados, ou seja, daqueles que, se posicionando como políticos ou profissionais brasileiros, agem para proteger e facilitar as ações dos capitais financeiros internacionais.
Lula não é um político criado no nacional trabalhismo. Ao contrário, o seu pouco conhecimento da história do Brasil levou-o a combater politicamente o herdeiro do nacional trabalhismo, Leonel Brizola, e ajudar a desmontar um eventual partido nacional trabalhista.
Como afirmamos, o neoliberalismo age com planejamento, estuda detalhadamente as ações, como jogador de xadrez. A prisão de Lula foi montada em operação totalmente estruturada nos EUA com a participação dos ingênuos, colonizados e oportunistas aqui nascidos. Lula é sem dúvida o político mais popular do Brasil e único que pode dar continuidade ao que Jair Bolsonaro, ignorante, desastrado e imaturo, não soube prosseguir: o desmonte do Estado Nacional, para que não haja possibilidade de retomarmos o controle das riquezas nacionais, gerenciarmos este patrimônio em favor do Brasil e dos brasileiros.
Não há que se iludir. E os petroleiros deram em Salvador, terra de Nosso Senhor, uma prova de ingenuidade, ignorância ou daquela esperteza que atinge, mais do que a qualquer outro, o esperto: prestigiou o infiltrado que preside a Petrobrás, que ele já lutou para a privatizar e agora vai, com toda assessoria das finanças apátridas, certamente conseguir.
O evento ocorreu no domingo, 12 de março, na sede do Clube dos Empregados da Petrobrás. E este competente lobista falou como Brizola dizia da galinha: cisca para trás, cacareja para esquerda e bota ovo para direita.
Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado, foi do Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra (ESG), atualmente preside a Associação dos Engenheiros da Petrobrás – AEPET.