A Petrobrás é nossa!
De quem?
A Coppe se orgulha de ser parceira da Petrobrás há mais de 30 anos, tendo realizado mais de 2000 projetos conjuntos. Além disso, centenas de engenheiros da empresa se tornaram mestres e doutores pela COPPE. Este relacionamento nos faz ter um contato muito próximo com o corpo técnico da empresa e meu depoimento pessoal é de que não conheço empresa no Brasil, pública ou privada, com tantos profissionais gabaritados como a Petrobrás.
Além de serem engenheiros e técnicos de altíssima competência, estas pessoas são absolutamente comprometidas com a empresa. Doam o melhor de si para o sucesso da Petrobrás e do Brasil. Participei de diversos eventos onde pude constatar a emoção sincera de vários deles. São profissionais de nível internacional que vestem a camisa da empresa.
E quase todos eles estão tristes com as notícias veiculadas pela imprensa e com os resultados da empresa. O valor de mercado da Petrobrás, que chegou a bater U$ 270 bilhões, em março de 2011 (após as descobertas do pré sal), afundou e chegou, em março de 2014, a menos de U$ 70 bilhões.
Segundo relato que me foi enviado por um engenheiro que pede para manter o anonimato por razões óbvias, quando Lula assumiu em 2003, esperava-se a valorização da PETROBRAS. Eu mesmo acompanhei com expectativa a nomeação do novo Ministro das Minas e Energia, que todos aqui na Coppe esperávamos que fosse o Luiz Pinguelli Rosa. Nossas esperanças eram fundamentadas. Além de notória competência na área, Pinguelli foi o coordenador do programa de governo de Lula em todas as vezes que ele concorreu às eleições. Além de amigo pessoal de Lula, Pinguelli enfrentava poucas resistências dentro do partido e era considerado favorito absoluto para ser Ministro do primeiro governo Lula.
Infelizmente nossas esperanças se frustraram. Segundo a carta enviada pelo engenheiro, após a eleição de Lula as diretorias da Petrobrás continuaram a ser loteadas entre a “base de apoio” do governo. As únicas (mas significativas) exceções foram Guilherme Estrella – técnico de reconhecida competência e probidade, nomeado para a diretoria de Exploração e Produção, e Ildo Sauer – especialista em energia vindo da USP. As outras diretorias foram ocupadas por profissionais de notório comprometimento com práticas lesivas ao interesse público, como se veria a seguir.
Um dos casos pouco falados e já esquecidos é o de Delcídio Amaral, que ao perceber a iminente vitória de Lula em 2002, abandonou o PFL e migrou para o PT, vindo a eleger-se senador por Mato Grosso do Sul. Pleiteou então ser ministro de Minas e Energia. Lula, entretanto, já se comprometera com a nomeação de Pinguelli. Diante do impasse, Lula optou por convidar Dilma Roussef, então secretária de Energia do Rio Grande do Sul, para ser a ministra, colocando Pinguelli na presidência da Eletrobras. Delcídio, então, reinvindicou a diretoria de Gás e Energia da PETROBRAS para seu indicado, Nestor Cerveró, que com ele trabalhara na negociação dos contratos das termelétricas. Como Ildo Sauer já havia sido convidado para o cargo, Cerveró passou a ocupar a diretoria Internacional da PETROBRAS.
Já a diretoria de Abastecimento foi oferecida ao PP, cabendo ao então líder na Câmara dos Deputados, José Janene, indicar o seu conterrâneo paranaense Paulo Roberto Costa para o cargo. Paulo Roberto era na ocasião superintendente da TBG, empresa constituída pela PETROBRAS e pela ENRON, grupo americano que quebrou espetacularmente no final dos anos 90 para construir o gasoduto Brasil – Bolívia (obs: para quem não lembra, Janene foi envolvido em 2005 no escândalo do mensalão e Paulo Roberto Costa está preso pela Polícia Federal).
A gestão desastrosa de Gabrielli
Quando Janene caiu em desgraça, Paulo Roberto ficou sem sustentação política. Foi salvo por Jader Barbalho, e passou a ser bancado pelo PMDB. Paulo Roberto teve sob sua responsabilidade 2 grandes investimentos da PETROBRAS: o polo petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ) e a Refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco. Ambos tiveram seus orçamentos inflacionados em escala jamais vista em empreendimentos da mesma natureza. Completa a lista de indicações políticas de Lula a presidência da TRANSPETRO, a empresa de navegação e de dutos da PETROBRAS, entregue a Sergio Machado, ex-senador, líder do governo FHC e apadrinhado por Renan Calheiros.
No primeiro mandato de Lula, Ildo Sauer solicitou a Eros Grau, maior autoridade brasileira em direito administrativo (não fora ainda nomeado ministro do STF), parecer sobre os contratos das termelétricas assinados por Delcídio. Neles, os sócios privados (a MPX de Eike Batista na termelétrica de Fortaleza – CE, a ENRON na de Seropédica – RJ e a El Paso na de Macaé – RJ) tinham lucro garantido (a sempre presente cláusula Marlim), pois se não houvesse gás para acionar as térmicas a PETROBRAS se obrigava a remunerá-los com elas paradas.
O parecer de Grau foi taxativo: ensejavam enriquecimento sem causa. Os contratos foram, então, rescindidos pela PETROBRAS. Se mais não fizesse, bastaria essa ação para consagrar a gestão de Sauer como diretor da empresa. Sauer, entretanto, não sobreviveu como diretor. No segundo mandato de Lula foi substituído por Graça Foster, especialista em gás e energia oriunda do CENPES, o Centro de Pesquisas da PETROBRAS. Cerveró, por sua vez, deixou a diretoria internacional da empresa em 2008, entregando-a a Jorge Zelada, indicado por Jader Barbalho e Renan Calheiros.
Para o engenheiro meu amigo, “nunca antes na história da Petrobrás os técnicos e engenheiros foram tão desprestigiados nas decisões estratégicas quanto na gestão Lula-Gabrielli”. As notáveis exceções foram, repito, Guilherme Estrella, na estratégica diretoria de Exploração e Produção e Ildo Sauer.
Graça Foster e Dilma, a verdade seja dita, estão colhendo agora os escândalos e desmandos que foram plantados durante a gestão de Gabrielli. O mais incrível é que mesmo depois de tudo o que já foi revelado sobre a desastrosa operação da compra da Refinaria de Pasadena, e da opinião clara das Presidentes Dilma e Graça Foster (“foi um mau negócio para a Petrobrás””) o ex-presidente Gabrielli ainda insista em considerá-la um “bom negócio”.
Depois de toda esta história estou convencido que os dois têm razão. Graça Foster por considerar a compra de Pasadena um “mau negócio para a Petrobrás”, e Gabrielli por considerar esta compra um “bom negócio”. Ele só precisa nos esclarecer para quem…
FONTE: O Globo