Artigo

Eu sou petroleiro

Data da publicação: 06/01/2015
Autor(es): Ronaldo Tedesco

Eu sou petroleiro. Há um ano, três décadas, não importa. Sou petroleiro daqueles que passa óleo pelas veias. Meu coração bombeia petróleo e bate mais forte quando um novo recorde é batido, em terra ou no mar.

Quase fui para a CTI. Não que não tivesse idéia de que ratazanas infestavam a companhia e sangravam dela, não só o dinheiro, mas nossa dignidade. Na década de 1990 havia enfrentado os tucanos que se aboletaram nos cargos de direção e gerência da companhia. E eu sabia que eles tinham sido mantidos pelos petistas e seus aliados, que não os denunciaram, mas os acolheram. Não tinha como dar certo.

Ver a empresa desnuda, manchando nossa história, tem sido dureza. Vejo estes dias com vergonha e pesar. Vendilhões da pátria se arvorando defensores da moral e da nossa empresa é de lascar.

A preocupação foi ter dado espaço para transformarem a Petrobrás em outra empresa, voltada a servir o capital internacional, sem compromisso com a pátria, com a soberania, com os brasileiros. E, claro, fico preocupado também com meu emprego. Nunca vi estes vendilhões defendendo emprego de ninguém.

Não tenho dúvidas que vamos sair desta. Em meio a todas as denúncias e o sangue babando das bocas dos abutres, não deixamos de produzir e nos superar. Até por que, nesta confusão toda, os petroleiros ainda não se fizeram ouvir, amarrados pelos compromissos que muitas de nossas lideranças mantém. Apesar de tudo. É lamentável. Mas ainda há tempo.

Vai ser preciso a coragem e a força de um petroleiro – ou de todos – para que as saídas desta crise se imponham. Varrer para fora corruptos e venenosos disfarçados. Fazer com que a governança, que existe para os que produzem, valha também para os tais gestores. Ter coragem de promover uma recompra de ações que retome, em novo patamar, o caráter nacional da companhia. Abrir os livros e as contas para que o povo brasileiro controle os destinos de sua maior empresa. Garantir a Petrobrás como única produtora do pré-sal (não só operadora), mantendo nossas riquezas minerais sob o controle do povo organizado através de uma Petrobrás livre das ratazanas e dos políticos nomeados.

Não desejo pouco. Desejo tudo de bom. Se for necessário, vamos fazer valer o que precisa. Nós enfrentamos e derrotamos a descrença dos udenistas, o exército na ditadura, os tucanos da Petrobrax, os que não acreditavam no pré-sal, na produção off-shore e no Brasil. Não serão abutres e ratazanas que tomaram de assalto esta empresa que vão nos amedrontar. 2015 ainda não começou.