Um dos melhores jornalistas investigativos do Brasil na atualidade, além de grande comunicador, Fernando Brito, afirmou no seu site Tijolaço que, “na venda do campo de petróleo Carcará, a Petrobras perdeu mais dinheiro do que já perdeu com a Lava Jato inteira”. Por outro lado, os detratores do PT afirmam que este partido causou um prejuízo imenso à Petrobras. Sem entrar na discussão sobre este partido ser responsabilizado pelos desvios na estatal, esta empresa está entregando, no período Temer, a preço vil o campo de Carcará para a Statoil. Devemos creditar esta “entrega” a qual partido? Além disso, Carcará não está sendo entregue através de um leilão, procedimento que diminui a possibilidade de roubo. Dúvidas passam pela cabeça de qualquer brasileiro sabedor das desonestidades recentes, do tipo: “Desta vez, quem está roubando e quanto? O preço negociado representa uma doação e sem a existência de leilão!”
Lembramos à Statoil que o argumento do preço vil, com todo respeito aos juristas, pode ser utilizado em processo a ser colocado na nossa Justiça, pois nela é prevista esta argumentação. Assim, ela pode vir a acolher o processo. Por outro lado, logo a Statoil, que pertence ao povo norueguês, um dos mais desenvolvidos da face da Terra sob o ponto de vista humanístico, vir a participar da usurpação da riqueza de outro povo é muito estranho. Se fosse a Chevron ou a Exxon, por exemplo, eu não traria este argumento. A Statoil, pelo menos não tem suas perfuratrizes sujas de sangue, como as de muitas petrolíferas privadas internacionais, que carregam o sangue dos povos do Oriente Médio e dos africanos.
Não é porque um governo desonesto, impostor e golpista entrega o que não lhe pertence, dilapidando a riqueza do seu próprio povo, é que o beneficiário da usurpação está livre de ser julgado. Quando este governo sem legitimidade for destituído, seus atos poderão ser revistos. Certamente a revisão das desumanidades será proposta. Não se pode considerar “atos jurídicos perfeitos” aqueles assinados à revelia do povo e para prejudicá-lo. Povo este que é mantido desinformado pelos seus algozes, exatamente para não protestar contra os crimes que lhe afetam.
Está ocorrendo um golpe no Brasil, comprovado pelo butim que ocorre em todos os setores e consume as nossas riquezas, como o Pré-Sal. Pensar que o golpe tem motivação moralista é um ledo engano. Baseado no que Brito identificou, estão roubando e irão roubar mais do que o outro grupo roubou em passado recente. A presidente também não cometeu crime de responsabilidade. Querem tirá-la simplesmente para poderem reconstruir a máquina de assalto ao patrimônio nacional, que já existiu e, por exemplo, entregou a Vale do Rio Doce a preço vil.
A verdade é que os brasileiros vêm sendo explorados, há muitos anos. Pode-se dizer, por exemplo, que a miséria no Brasil é uma doença genética, pois transpassa gerações. Ressalve-se que, em alguns períodos, a luta pela inclusão social é maior do que em outros. Busco identificar qual a causa principal de tanta exclusão, assim como a razão que leva a nossa sociedade a não se rebelar, de forma masoquista, contra o erro sistemático. Além disso, questiono também qual é o principal grupo causador destes erros dentro do conjunto de brasileiros, buscando identificar melhor os responsáveis.
É preciso deixar claro, logo, que as camadas mais humildes da sociedade, o povão, não têm culpa alguma. Ele é mantido desinformado, inclusive para poder apoiar teses que lhe prejudicam e, no entanto, dão grandes lucros para donos do capital. A grande massa, que compõe o nosso povo, não compreende as verdadeiras razões do que está acontecendo e, em alguns casos, nem sabe o que acontece, graças à manipulação midiática. Eles vivem em um mundo criado para não opinarem livremente. Sobre assuntos relevantes de interesse do capital, o povão geralmente tem a mesma opinião que o dono do capital, o que demonstra existir algum erro.
A mídia convencional, aquela que é a mais assistida pelo povão, deve ser compreendida como um instrumento de dominação destas camadas pobres da sociedade pela elite econômica e política. Esta elite da sociedade brasileira, exploradora do povão, é uma figura abjeta. Para poder amealhar mais riqueza e acumular maior poder, ela não tem escrúpulos, manipula mentes divulgando versões mentirosas dos fatos. A classe média pode ser acusada de medrosa, pois, apesar de muitas vezes reconhecer a manipulação, cala-se, conciliando com a elite.
Assim, torna-se compreensível porque a BBC, até hoje, pertence a Estados que compõem o Reino Unido, tendo atravessado inclusive o governo Thatcher. Da mesma forma, existem canais de televisão na França também pertencentes ao Estado. No entanto, nossa televisão é um vergonhoso instrumento privado de dominação da população, sendo uma concessão pública.
Relacionado ao tema, vale lembrar que os Estados Unidos conseguem manter-se como país hegemônico graças a (1) ardiloso uso do discurso de valorização dos princípios democráticos e dos direitos humanos, nem sempre seguidos por seus aliados, (2) controle dos canais internacionais de informação (agências de notícias) e dos canais regionais (mídia tradicional e alternativa de países), (3) ações de inteligência, inclusive para monitorar e abafar reações nacionalistas consideradas como obstáculos à dominação, (4) suporte a suas empresas em nível internacional, (5) controle de organismos multilaterais, (6) diplomacia sem relutância na defesa do acesso a recursos naturais e mercados internos de outros países para as suas empresas, (7) criação de parcerias com oligarquias regionais corruptas e (8) a intervenção armada em alguns países para demonstrar determinação.
Enquanto a nossa elite se compor com forças estrangeiras para espoliar nosso povo, a mídia manipular a grande massa, evitando que ela se indigne, governante de esquerda achar que pode compor em itens substanciais com os donos de capital e os políticos de direita, o Brasil continuará sendo um país subdesenvolvido com desigualdade social e o seu povo continuará sofrendo. A direita domina a sociedade brasileira há 516 anos, com esparsos períodos de menos desigualdade econômica e social. Diferentemente do que ocorre em outros países, a elite brasileira odeia o seu próprio povo e, pelo visto, isto não irá ser revisto só com apelos racionais. Para deixar claro, o povo não é o culpado das injustiças que o fazem sofrer, nem do nosso atraso. O primeiro passo para se reverter o atraso é a democratização da informação para a grande massa.
Consciente deste contexto e com o distanciamento necessário para colocar todos os atores no campo de visão, nota-se um juiz de primeira instância, treinado nos Estados Unidos, com cobertura midiática intensa, determinada pelas mesmas forças externas que dilapidam nosso patrimônio e atrasam nosso desenvolvimento, com discurso moralista embusteiro, já utilizado sem sucesso pela UDN e por Jânio Quadros, com posicionamento claramente parcial, utilizando-se de mal feito de escroques sem partido, que atuam há anos no Estado brasileiro, sem estrutura para ser mais do que é, mostra-se um provinciano.
Publicado em 05/08/2016 em Tijolaço.