O jornalismo vive da informação e a informação, mais do que seu ganha pão, é sua razão de ser. Não ter a informação correta é uma situação que todos podemos passar. Mas se vivemos da informação, isso se torna muito grave. E se temos à disposição um veículo onde podemos opinar, mas não cuidamos que nossa opinião seja baseada numa informação correta, aí a questão fica muito mais grave. No extremo, podemos dizer que é crime de responsabilidade e que a veiculação da informação incorreta pode causar prejuízo irreversível, passível mesmo de não poder mais manter nosso registro profissional ou a concessão que recebemos do Estado.
Foi o que aconteceu no editorial dessa segunda-feira, dia 15 de janeiro de 2018, publicado por O GLOBO na sua página 10, sob o título “Socializar prejuízos”.
O artigo de opinião privada versa sobre a reforma da previdência e um suposto privilégio que funcionários públicos ou de empresas estatais ou de economia mista teriam capturado. E resgata textos de Roberto Campos no próprio veículo onde o jornalista chamava atenção para estatais que transferiam mais dinheiro para o fundo de seus funcionários do que pagavam de dividendo ao seu acionista controlador.
Roberto Campos morreu e levou consigo o segredo de sua fonte. Mas um rápido olhar sobre os valores vertidos pelas empresas estatais aos seus fundos de pensão não consegue verificar nem sombra do que afirmou o jornalista.
A Petrobrás passou anos contribuindo muito menos do que deveria ao fundo Petros. Teve anos em que sua contribuição foi ZERO. Essa falta de compromisso em cumprir com aquilo que contratou tem sido uma regra geral da Petrobrás. Mas isso não acontece com todos os contratos da companhia, vide recentemente a pressa em realizar o acordo com os acionistas estrangeiros. Ocorre com os contratos que assina com seus trabalhadores. Em especial, com a Petros, o fundo de pensão dos petroleiros, onde milhares de trabalhadores recebem seus compromissos mensalmente sem que a Petrobrás tivesse a dignidade de cobrir o chamado “serviço passado”.
Aliás, quando entrei na Petrobrás eu ouvia uma lenda de que a contribuição da Petrobrás era duas vezes maior do que a dos petroleiros. Nunca foi. Houve uma época em que a companhia pagava uma parte, igual a nossa parte e outra parte referente a amortização dessa dívida. Depois de algum tempo, a Petrobrás, unilateralmente parou de pagar.
Anos depois a Petrobrás foi chamada a realizar um acordo judicial para voltar a pagar essa dívida. Assim o fez. Ocorre que o tal acordo, feito num momento de equilíbrio do plano, não é adequado a realizar seu ajuste atuarial em momento de desequilíbrio, como o atual. Resultado: O déficit técnico do Plano Petros está sendo indevidamente coberto pelos petroleiros por a forma do ajuste atuarial tira esses valores da responsabilidade de quem deve (a Petrobrás). E coloca para os petroleiros ativos e aposentados) pagarem a conta.
O maior absurdo fica por conta que o Fundo Petros, que é todo dinheiro dos petroleiros é integralmente gerido desde seu início pela Petrobrás, que nomeia todos os seus diretores e metade dos conselheiros e ainda detém o voto de minerva. Na hora de cobrar ou mensurar possíveis dívidas da Petrobrás, a Petros não o faz, mas na hora de dividir o déficit técnico, quer dividir meio a meio.
Não queremos deixar de contribuir o que temos obrigação de fazer, mas não queremos colocar recursos que são obrigação da Petrobrás.
Ao final do artigo, O GLOBO ainda fala mais um absurdo, falando da falta de fiscalização dos próprios funcionários sobre o seu patrimônio.
É certo que houve aqueles que se omitiram, mas O GLOBO sabe – ou deveria saber – que há 14 anos as contas do fundo Petros têm sido rejeitadas pelos conselheiros eleitos da Petros. Os representantes eleitos dos petroleiros no fundo Petros têm denunciado seguidas diretorias da sua fundação. Sem que tais denúncias, nesses 14 anos, tivessem qualquer tipo de atenção ou curiosidade jornalística por parte desse veículo de comunicação. Não obteve nem a atenção de O GLOBO a falta de respostas adequadas dos órgãos de fiscalização. E O GLOBO sabe de tudo isso, mas não fala para você. Exerce o jornalismo privado, a serviço de interesses privados, em nosso de uma suposta opinião pública, que mais parece a opinião que publica.
Seria o caso de as entidades petroleiras entrarem com representação jurídica contra a parcialidade e a desinformação de O GLOBO. Mas, OH!, isso seria censura, um ataque à democracia e à liberdade de imprensa! Na verdade, a liberdade de informar aquilo que o veículo quiser, sem qualquer compromisso com os fatos, apena com seus próprios conceitos. Lamentável!
* Ronaldo Tedesco é Conselheiro eleito da Fundação Petrobrás de Seguridade Social – PETROS