Artigo

Moinhos de Vento II ou Reflexões sobre a Eleição de 28 de outubro de 2018

Data da publicação: 31/10/2018

tendo-o por discreto e prudente em todas suas ações” (Miguel de Cervantes Saavedra, “El Ingenioso Hidalgo Don Quijote de la Mancha”, Ediciones Ibéricas, Madrid, 4ª edição, sem data, tradução livre).

“Sem demérito para as questões transversais, mas as colocando na relatividade frente à profunda crise política, institucional e de afirmação nacional na qual vivemos, afirmamos: a banca já venceu esta eleição” (Pedro Augusto Pinho, “Questões transversais e a banca”, Coletivo Geólogos pela Democracia, 27/09/2018).

Após a eleição do primeiro turno, comentei os temas que foram objeto das discussões políticas, nas campanhas para Presidente do Brasil. Lamentei a ausência dos assuntos que me pareceram mais relevantes e necessários para que se fizesse a escolha do principal dirigente político nacional. Denomino, genericamente, estes assuntos “questões nacionais”.

Eterna colônia de potencias estrangeiras, sucessivamente, Portugal, Inglaterra e Estados Unidos da América (EUA), o Brasil neste século é colônia de um sistema, que denomino abreviadamente “banca”, o sistema financeiro internacional.

O debate que mais interessaria a toda nação seria o das opções para conquistarmos a Soberania Brasileira e construirmos a Cidadania Nacional. E eles estiveram ausentes, substituídos por questões que sintetizo por transversais, quais sejam: morais, ecológicas e identitárias.

E não foi por mero acaso – embora eu estivesse, a um só tempo, esperançoso e descrente – que nas falas do vencedor e do derrotado nas urnas, após confirmado o resultado, não se entoasse o Hino Nacional Brasileiro. E, ainda pior, apenas se ouvisse uma longa oração evangélica, como se estivéssemos comemorando a sagração de um líder religioso, ou, de outro lado, o mesmo inconformismo, pronunciado em 2014, que tanto mal nos causou.

O Vermelho e o Negro ou O Inimigo Errado

O ótimo compositor belga Jacques Brel, em sua mais conhecida canção, “Ne Me Quitte Pas”, canta: “Le rouge et le noir ne s’épousent-ils pas?” (o vermelho e o negro não se juntam).

Uma alusão à obra prima de Stendhal, “O Vermelho e o Negro”, que tem por pano de fundo a opção militar (vermelho) ou a sacerdotal (negro, a cor da sotaina). Mas há outro sentido, igualmente relevante, para esta polaridade.

O vermelho seria o sangue dos mártires pela nossa independência, a memória de Tiradentes, de Frei Caneca, do cabano Eduardo Angelim, e, também, das Forças Armadas, sempre identificadas pela defesa do solo pátrio.

O negro estaria fora deste mundo, seria uma questão ideológica, desvinculada de nossa realidade, não necessariamente oposta, mais indiferente ao que ocorre no País e com seu povo. O negro é também a bandeira dos corsários, hoje a banca, que tem por objetivo saquear nossas riquezas e eliminar o Estado Nacional. Pelo caminho do negro, do sistema financeiro internacional, jamais teremos a bandeira verde e amarela.

E como o pirata nos assalta? Pela argúcia, pela farsa, pela fantasia de cordeiro, tratando de assuntos que são até relevantes – a corrupção, a ecologia, a igualdade humana – mas que se subordinam, necessariamente, à existência de um País Soberano e Cidadão, de impossível implementação num país de escravos ou num território sem Governo Nacional.

Lutamos, nesta eleição, o mal combate. Pelo interesse da banca e não do Brasil. Só o diagnóstico correto leva à cura. E fomos atrás de uma doença incurável, a corrupção, que apenas um sistema mantenedor da cidadania pode minimizar, batemo-nos contra a pluralidade de pensamento, com a frota de corsários levando o pré-sal, a Petrobrás, a Embraer, a Eletrobrás, o nosso próprio território (Base de Alcântara) e lutávamos contra o moinho de vento do comunismo, encerrado sem glória em 1989.

Nossa bandeira só será verde e amarela se combatermos as potências colonizadoras do nosso século.

Colonizadores no Século XXI

Se tivemos, ainda no século XX, Estados Nacionais procurando impor suas vontades aos demais Estados, não mais pela ocupação política do século XIX, mas pelo domínio das tecnologias e controle das economias e culturas, hoje a dominação é múltipla, assume outras e diferentes modalidades.

Ainda subsiste o modelo nacional colonizador, remanescente pela eleição de Donald Trump. Busquemos compreender os EUA de hoje, diferente do EUA de Eisenhower, Kennedy, Nixon ou Jimmy Carter. Mais próximo dos EUA de Reagan e seus sucessores.

Ronald Reagan é o ponto de deflexão no modelo colonizador estadunidense. Também sela o fim de um pensamento que levara os EUA a ser a grande potência mundial.

Uma pausa para o capitalismo industrial e o capitalismo financeiro.

Dois pensamentos conduziram a economia dos Estados Nacionais ocidentais. O de Adam Smith e o de Friedrich List. O segundo, por Alexander Hamilton (primeiro Secretário do Tesouro dos Estados Unidos) e pelo primeiro economista político importante dos EUA, Daniel Raymond, foi a matriz do desenvolvimento estadunidense. Dele temos o capitalismo industrial, o protecionismo estatal e os ideais desenvolvimentista e nacionalista. Do primeiro, sai o individualismo financeiro, que fundamentou o colonialismo inglês.

Com Reagan começa o aparelhamento das instituições, da estrutura dos EUA pelo capitalismo financeiro ou sistema financeiro internacional ou banca. Trump foi eleito com o discurso anti-banca. É a principal razão da enorme campanha que a mídia ocidental (já dominada pela banca) move contra ele. Mais ele está, com um passo atrás dois à frente, conseguindo recuperar a economia e o emprego e renda para os estadunidenses. As medidas protecionistas estão em Hamilton, Raymond, Mathew Carey, na origem do empoderamento dos EUA.

Também com Trump se recupera o “imperialismo” econômico e cultural que colonizou o Brasil a partir de 1930 e, especialmente, após a II Grande Guerra. É a primeira, mas não a mais forte, ação que sofre a Soberania Brasileira e a construção de nossa Cidadania.

Também importante, mas igualmente de menor presença e intensidade, temos a colonização pelo mercantilismo chinês. Em alguns aspectos lembra o colonialismo inglês do século XIX, com os investimentos (principalmente em transporte) que colocam o Brasil endividado e fornecedor de matéria prima – commodities que terão seus preços fixados pelo exterior, pelos compradores.

O mais importante e mais nefasto é o colonialismo da banca. Vale determos um pouco mais sobre ele.

Para alguns estudiosos, economistas, a banca é um estágio terminal do capitalismo. Não é minha percepção. A banca é uma construção secular, começa na Inglaterra como forma de dominação dos “barões” ao poder real. Para fixar um tempo, diria que as Magnas Cartas (1215, 1217 e 1297) seriam a certidão de nascimento da banca, seu batismo, e a criação do Banco da Inglaterra, como entidade privada (1694), sua crisma ou emancipação, a maioridade.

Após a devastação napoleônica, pondo fim ao poder do sistema fundiário, a banca colocou na dívida o novo instrumento de dominação e o consolidou no Congresso de Viena (1815). Será a banca, pelas mãos inglesas, que dominará o mundo até a emergência industrial estadunidense.

A partir desta derrota, a banca, como já o fizera antes, aprofunda os ardis, as falsas prioridades, o engodo nas reivindicações como forma de empoderamento. Começa com a aliança aos movimentos ecológicos, preservacionistas, avança em questões identitárias e na questão moral, sempre de enorme apelo nas faixas médias da população em todo ocidente. Por diversas vezes escrevi que, para banca, esquerda e direita são rigorosamente idênticas. Veja que a banca estava participando das campanhas de Bolsonaro e de Haddad (o voto de Fernando Henrique Cardoso (FHC) não foi expressão pessoal).

A bandeira negra – e, por favor, não há qualquer racismo – triunfou, como previra, nesta eleição.

O Brasil pós eleitoral

Quero ter uma esperança: a presença militar no Governo. Na sempre suspeita imprensa oligopolista, há a notícia que o representante da banca no futuro Governo Bolsonaro, o economista Paulo Guedes, já se atrita com o General Mourão, pela condução da Petrobrás. Um bom sinal.

Péssimo sinal é concentrar toda economia nas mãos do homem da banca.

Mas a banca tem muito maior experiência e instrumentos para aparelhar o Estado. E trabalha nisso, sem interrupção, desde 1980, quando assumiu a Presidência o General João Baptista Figueiredo.

Observe que de 1967 a 1979, o período de governos nacionalistas, não houve condição de aparelhar o Estado para enfrentar a eventual retomada entreguista. Exigiria a Reforma da Estrutura do Estado, e os Governos tinham no desenvolvimento econômico a prioridade. Manteve-se o velho aparelhamento das elites dominantes desde o Império. Elas foram, inclusive, aliadas da banca na reconquista do Brasil. E foi este aparelhamento que se manteve com Sarney, Itamar e Lula e se aprofundou com Collor, FHC, Dilma e Temer.

Marine Le Pen, competente política francesa, Presidente do “Reunião Nacional” (Rassemblement National), afirmou em discurso, 19 de março de 2018, em Paris,“não se pode olhar para a política pelo velho espectro da esquerda e direita”. Ela já cumprimentou Bolsonaro. Mas aqui, estes velhos fantasmas ainda fazem o que a banca quer, desfocar o interesse nacional por novos moinhos de vento quixotescos.

As relações internacionais foram sintetizadas, de modo magnífico, por John Foster Dulles: “não há países amigos mas interesses comuns”. Qual ou quais países teriam interesses comuns com o Brasil, se o interesse nacional pela Soberania e Cidadania se impuser no Governo Bolsonaro?

Necessariamente os inimigos da banca, aqueles que sofrem sanções, agressões e campanhas midiáticas comandadas pela banca. Entre eles está a Federação Russa, ou simplesmente, Rússia.

A banca comandou a “revolta” na Ucrânia, lançando este país numa guerra infindável, do tipo do Iraque. Também a Guerra na Ossétia do Sul, em 2008, um conflito armado entre a Geórgia de um lado, e a Rússia e os separatistas da Ossétia do Sul e da Abecásia, do outro. A Geórgia foi derrotada, mas ficou sempre um foco para manter a Rússia ocupada. Na Síria, agentes ingleses e estadunidenses infiltrados, com as criações de entidades muçulmanas pelo Serviço Secreto de Sua Majestade (MI6), tentaram mudar a condução daquele país. Foram a Rússia e o Irã, inflingindo derrotas aos invasores, que mantiveram o Governo de Bashar al-Assad.

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), já totalmente desfigurada, passou a ser um instrumento da banca para forçar os países da Europa Continental a agredirem a Rússia. E agora obriga a destituição de Angela Merkel, que se recusa a prejudicar a Alemanha apenas para espicaçar a Rússia.

Se analisarmos, com informação confiável e não das mídias da banca, o panorama internacional, veremos que o Brasil só terá poucos países para troca de apoio na luta contra a banca. Não dispenso os EUA, apenas pensaria em cautela maior pelo interesse daquele país ressuscitar o imperialismo do século XX.

Uma palavra futurológica. O nacionalismo é forte, malgrado toda campanha da banca, no povo brasileiro. A reestatização da Petrobrás, o repúdio às privatizações de Collor, FHC, Dilma e Temer, a defesa das empresas nacionais são amplamente majoritários nas pesquisas de opinião. É a maioria absoluta dos brasileiros que assim pensa.

A Pátria e a família são os mais fortes laços das pessoas, em todo mundo, e, obviamente, no Brasil. Se o Governo Bolsonaro se curvar à banca, logo surgirá um líder nacionalista, talvez algum partido se transforme em nacional-desenvolvimentista e, certamente, congregará amplas maiorias. Não será o Partido dos Trabalhadores (PT) comprovadamente estelionatário eleitoral; com Dilma e como indicava Haddad. Muitas vezes estas lideranças surgem da necessidade e do acaso, eventualmente até de algum apoiador do Bolsonaro.

Mas vejo com apreensão as aproximações com a banca e com as religiões neopentecostais, que a banca usa em seu processo de dominação.

Da Bíblia: não se pode servir igualmente bem a dois senhores; Magno Malta, apoiador de Lula, Dilma, Temer, não será um braço forte para o futuro Governo.

Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

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