Nunca o nacionalismo se fez tão necessário. Na atual quadra histórica, quando as forças do alto capitalismo transnacional, sediados nos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), recrudescem a ofensiva pela dominação total dos recursos físicos, financeiros e informacionais de todo o mundo, o nacionalismo é a principal barreira contra a desintegração das nações.
O que é, afinal, o nacionalismo? Como afirmo na sinopse do meu novo livro Nacionalismo Brasileiro: Fundamentos, Intérpretes e História, recém-lançado pela editora Clube de Autores, “o nacionalismo é a doutrina de defesa e valorização da soberania nacional e de tudo que faz o Brasil ser brasileiro. O nacionalismo jamais se tornará obsoleto, pois, enquanto houver brasileiros, haverá Brasil e, portanto, a necessidade de proteger e realçar a nossa nacionalidade, que nos torna únicos no mundo. Sem soberania e sem nacionalismo não pode haver cidadania”.
A Nação se mostra, então, como o fator mais construtivo da atualidade, pois diz respeito ao que há de comum a todos os brasileiros enquanto tais. Ela é a comunidade de destino e de sentimentos arraigada no patrimônio geral do País – o povo, o solo, a língua, a história e as tradições – consubstanciado nos Símbolos Nacionais, que expressam e comunicam os ideais e os valores da Pátria. Os Heróis da Pátria, como figuras históricas exemplares e edificantes, também constituem Símbolos Nacionais, pois comunicam a possibilidade histórica de um Brasil maior e melhor, mais brasileiro, portanto.
Nas condições continentais do Brasil – multilatitudinais, multilongitudinais e megademográficas – essa realidade se mostra inexoravelmente diversa e variada, incorporando distintas manifestações do Ser nacional ao longo do território e da sociedade. Não há uma única forma de ser brasileiro, e os modos da brasilidade constituem diversidade na unidade. O nacionalismo deve, portanto, representar a heterogeneidade brasileira, defendendo o que é compartilhado entre todos os brasileiros e os faz pertencer a uma Nação e ter uma identidade comunitária. O nacionalismo procura convergência em torno do nacional, jamais unanimidade.
Assim sendo, o nacionalismo não pode se reduzir a acessório de ideologias políticas incompatíveis com os desafios e anseios do Brasil. Direita e esquerda, em particular, além de desprovidas de significado intrínseco, pois relativas e dependentes do referencial por definição, representam uma topografia política que não faz jus à complexidade brasileira, que segue em todas as direções simultaneamente e se constrói por elas e através delas. A Nação brasileira é múltipla e múltiplo deve ser o nacionalismo brasileiro.
Portanto, toda tentativa de hifenização do nacionalismo tende a restringir seu escopo e mutilar a Nação. O nacionalismo serve a todos que procuram contribuir à sua maneira para o Brasil. Não busca a pasteurização, tampouco a fragmentação, mas a conciliação e o equilíbrio de distintas funções e interesses em torno do que é importante para a Nação.
O nacionalismo não preconiza lutas étnicas, regionais e de classe, mas a solidariedade entre todos os fatores constitutivos do Brasil a partir da formação de um poder nacional suficientemente forte para organizar as instituições de acordo com os imperativos da Civilização brasileira, da alma nacional, de modo que todos nos sintamos à vontade em nossa casa maior que é a Pátria, o Brasil. Sendo o Brasil um País faraônico, um Império (não confundir com Monarquia) por vocação, tudo no Brasil deve ser tão faraônico e imperial quanto é o nosso Ser autóctone.
Daí resulta a necessidade de uma doutrina e de uma teoria nacionalistas, para que a Nação disponha de um corpo de ideias que a represente em sua inteireza e a oriente nas veredas incertas e traiçoeiras da História. Não há ação coerente sem planejamento e não há planejamento sem ideias e ideais; cabe ao nacionalismo organizá-los, tarefa inadiável nos dias atuais, dado o cerco promovido contra o Brasil pela plutocracia transnacional. Quanto mais o imperialismo nos ataca com a infiltração de dogmas e preconceitos antinacionais, mais inadiável é a fundamentação do nacionalismo com a sistematização dos seus princípios e o resgate dos seus intérpretes e sua história.
Eis a tarefa a que me proponho em Nacionalismo Brasileiro: Fundamentos, Intérpretes e História, organizada nas três partes mencionadas.
Na primeira, apresento os aspectos formadores da nacionalidade, organizados em quatro partes concatenadas – Civilização, Política, Economia e Inserção Internacional e Defesa – cada uma das quais contendo, ao final, propostas práticas e dicas de leitura para estudo mais aprofundado. À luz dos fundamentos nacionalistas, discuto, também nessa parte inicial, alguns temas atuais – Great Reset, Ecologia e Indigenismo, Segurança Pública, Direitos Humanos, Combate à Corrupção – em relação aos quais o nacionalismo deve se posicionar para se situar no debate político.
Na segunda, analiso brevemente 30 intérpretes do Brasil das mais variadas extrações, áreas e proveniências, explicitando a diversidade de contribuições para um pensamento genuinamente nacional e a convergência de todas elas em torno da questão nacional. A partir de pensadores dos ramos político, sociológico, econômico, cultural e religioso, procuro estabelecer toda uma base intelectual para o robustecimento teórico e programático do nacionalismo. Todo nacionalista deve estudar e conhecer esses pensadores para não se deixar influenciar por charlatães e falsos profetas implantados por forças antinacionais. O conhecimento é a maior arma contra a mentira e a impostura.
Na terceira, delineio de forma sintética a história do Brasil a partir do valor da Independência, mostrando como essa última não é sonho distante ou utopia, mas todo um processo de construção e realização nacionais que se inicia em 1500 e, com avanços, triunfos, tensões e contradições, faz com que hoje tenhamos um País para chamar de nosso e para defender e aperfeiçoar dentro das nossas bases existenciais.
Evidentemente, o livro aqui resumido não tem valor por si próprio, mas na medida em que contribui para o revigoramento do nacionalismo brasileiro. Não pretendo ter a última palavra, pois a Nação é uma construção coletiva, mas espero propiciar condições mais amplas para o pensamento e a ação nacionalistas.
Convido os leitores a participarem dessa trajetória pela leitura do livro, que se encontra à venda. Também convido a se inscreverem no canal de youtube Brasil Independente, pertencente a mim, no qual discuto temas centrais e estratégicos a partir da visão nacionalista.
Felipe Maruf Quintas é doutor em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
Fonte: Monitor Mercantil