até então considerado símbolo da poderosa águia americana. Sem a plumagem midiática, sua repulsiva feição inspira sentimentos de alívio e esperança aos libertos da renegada ave de rapina. Asseclas e radicais, que enalteciam seus atos supremacistas, além de violadores dos direitos sociais e ameaçadores da paz universal, buscam desmerecer a vontade dos vitoriosos com violência e falsos argumentos.
No Brasil, seus seguidores nos fazem lembrar Esopo e suas satíricas fábulas dos anos 620 a.C, “ao cacarejarem como galináceos caipira num quintal, obedientes à casa branca. Em devaneio, um frangote, postado no poleiro mais alto, finge ignorar a derrocada do deturpador das mentes obtusas”.
A realidade, no entanto, causa insegurança e fraturas nas bases ideológicas do governo. Como piloto de um barco em oceano revolto, ao ver apagar-se o farol que inspirava seus atos subservientes, o capitão tenta buscar alternativas no seio do baixo clero político e entre radicais evangélicos.
Às consequências domésticas, o inesperado cenário também imporá postura diversa nas relações internacionais. Nesse caso, se predominasse o bom senso, o impulsivo Presidente encontraria correta orientação entre diplomatas experientes, para tentar reparar os danos causados pelo psicopata Chanceler, cujas aleivosias já macularam a história e tradições da respeitada casa de Rio Branco.
Além de afirmar que “somente Trump pode ainda salvar o Ocidente”, atingiu o ápice da insensatez ao julga-lo “com visão capaz de recuperar o passado simbólico, da história e da cultura das nações do Ocidente”. Tão retrógrada concepção vem persistindo desde o Império Romano que, ao dominar todo o continente europeu, passou a considerar bárbaros os demais povos não ocidentais, mesmo quando detentores de conhecimentos e realizações históricas.
Tamanha arrogância e menosprezo pelos vizinhos de além fronteira, ficou, geograficamente, registrada ao designarem de “Mediterrâneo”, o oceano que os separava da Africa e Oriente Médio. Consideravam, dessa forma, assegurar ao Sacro Impé-rio uma separação física das demais civilizações, ao criarem um “linde”, espaço geográfico relevante, para demarcar a “metade da Terra”, significado literal da expressão em latim. A Europa moderna não só consolidou tal concepção, como explorou países e tesouros vizinhos, numa ganância que se exacerbou com a participação dos Estados Unidos.
A dinâmica marcha da história, no entanto, testemunha o surgimento de novos atores, especialmente no continente asiático, ocupando nichos específicos no mercado global. Tais imersões alertaram analistas independentes, na economia e na geopolítica, para a ocorrência desses eventos debilitantes em relação às nações mais desenvolvidas. Registraram eles que os emergentes logravam superar desigualdades decorrentes de preceitos estabelecidos no “Consenso de Washington”, onde o mercado representaria o motivador da modernidade. No entanto, mesmo frente tão controversa orientação e sujeitos ao predomínio e busca do lucro fácil pelos grupos trans-nacionais, alguns emergentes conseguiam ocupar espaço, ofertando produtos mais baratos e acessíveis.
Constataram ainda que, ao longo dos anos, os conceitos e-laborados em favor dos mais ricos, motivaram abusiva ciranda financeira, provocando a debacle registrada no ano de 2008. Essas ocorrências, contrariando muitas das concepções neo-liberais, levaram ao ressurgimento da presença do Estado, pa-ra assegurar a defesa dos interesses da sociedade.
Como consequência, a reunião do Fórum Econômico Internacional, de janeiro de 2009, se desenrolou em clima de fune-ral. No encontro, as grandes economias, integrantes do G-8 (G-7 mais a Rússia), viram as fórmulas milagrosas do livre mercado e as jogadas no campo das finanças, virarem motivo de chacota. O Primeiro Ministro da Rússia, valendo-se da o-portunidade, esboçou teses para o ordenamento das questões mundiais, ao afirmar que, em vez da confrontação, “um sistema baseado na cooperação entre vários centros importantes deve substituir o obsoleto mundo unipolar”.
Aos fatores, até então adversos à pretensa globalização, somou-se a grave crise desencadeada pela pandemia da Covid 19, no final de 2019. Seu desenrolar ajudou a reforçar, de forma indiscutível, a importância dos Estados e respectiva capac-itação industrial, especialmente em produtos de proteção individual e equipamentos hospitalares. O evento derradeiro para o desmoronar das dogmáticas posturas ocidentais, teve lugar quando os países desenvolvidos, impotentes e vulneráveis, disputavam prioridade na aquisição dos produtos chineses essenciais à saúde pública.
Mas uma nova política, colocada como objetivo de todos, exigiria tempo, recursos e mão de obra especializada, fatores nem sempre disponíveis nos emergentes e algumas potências mobilizadas para produtos de interesse militar. Assim sendo, aos detentores de relativa capacitação, caberia conveniente integração nas tarefas produtivas, neutralizando manobras hegemônicas e guerras comerciais, como as propaladas pelos Estados Unidos, ao sentir-se declinante no mercado global.
Participar como parceiro, engajado na entrante revolução in-dustrial, com intensa utilização da automação e sistemas computacionais, exigirá qualificação empresarial e políticas priorizando recursos para ciência e tecnologia. O governo atual, infelizmente, por deturpação ideológica e incompetência, não só reprime a correta manifestação de cientistas e pesquisadores, como persiste em superadas doutrinas econômicas, onde o desenvolvimento não agrega benefícios ao bem estar social. Além de não priorizar o sistema produtivo e a formação de postos de trabalho, seus economistas chega-ram ao absurdo de falar na privatização do SUS, Sistema Único de Saúde, assim como colocar nas mãos do mercado insti-tuições seculares e estratégicas como os Correios e a Casa da Moeda.
Frente a tais heresias, faz-se urgente patriótica mobilização da sociedade, para criar sólidas bases de sustentação aos novos líderes que buscam um futuro promissor. Na bandeira dos movimentos, costumes e tradições nacionais deverão ostentar a busca do bem comum, da paz social e da justa reciprocidade entre cidadãos, na cultura e na religião.
O caminhar das eleições, renegando radicais e currais religi-osos, indica, com clareza, que os brasileiros já deram um primeiro passo em busca da união nacional.
Tenente Brigadeiro Sergio Xavier Ferolla
Ministro Ap. do Superior Tribunal Militar
Publicado no jornal A Voz do Povo