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O índice de alavancagem proposto pela Petrobrás é um embuste

Data da publicação: 23/10/2017

Vamos tentar esclarecer:

– Dívida Líquida é a Dívida Bruta deduzida do caixa disponível na empresa.

– Ebitda é uma abreviatura do inglês Earns Before Interest Tax Depreciation and Amortizartion. Ou seja, soma-se ao resultado anual (lucro ou prejuízo) o que foi lançado em gastos com juros, impostos, depreciação e amortização.

– O Ebitda é “ajustado” para que o resultado se aproxime o máximo possível da Geração Operacional de Caixa. O ajuste é feito para a inclusão de gastos não financeiros não incluídos no Ebitda, como por exemplo, no caso da Petrobras, os “impairments”.

– Geração operacional de caixa é o valor que, findo o exercício, sobra depois de cobertos todos os custos e despesas da empresa. Este valor pode ser mantido no caixa ou utilizado para cobrir novos investimentos, amortizar dívidas ou distribuir dividendos.

Concluindo e resumindo: Este índice de alavancagem é obtido pela divisão da dívida da empresa pela sua geração anual de caixa. Entenderam? Talvez ainda não.

A utilização desta “sopa de letrinhas” e termos em inglês tem o claro objetivo de confundir o entendimento das pessoas.

Digamos que você assumiu uma dívida de R$ 120.000,00 e aplicou em um negócio. Passado um ano você tem em caixa R$ 30.000,00. O negócio gerou uma receita de R$ 80.000,00 e teve gastos (materiais, pessoal, energia etc.) de R$ 60.000,00.
– A dívida líquida seria R$ 120.000,00 – R$ 30.000,00 = R$ 90.000,00
– A geração de caixa seria R$ 80.000,00 – R$ 60.000,00 = R$ 20.000,00
– A alavancagem seria R$90.000,00 : 20.000,00 = 4,5

Melhorou agora? Espero que sim.

Ocorre que normalmente a implantação de um projeto industrial leva de 4 a 5 anos. Neste período os gastos são cobertos com recursos próprios e de terceiros (dívidas). Geração de caixa só vai ocorrer à partir do momento em que o projeto entrar em operação. Portanto, durante o período de implantação não faz nenhum sentido levantar um índicie de alavancagem deste tipo.

No caso da indústria de petróleo a situação é ainda pior, pois os projetos levam até 10 anos para atingir níveis de produção adequados.

O pré-sal da Petrobras, descoberto em 2007, teve um primeiro leilão (Libra) em 2013. Os maiores volumes de investimentos no pré-sal foram feitos no período de 2010 a 2014 e deram origem à sua dívida. Em função destes investimentos a expectativa é de que a produção da empresa atinja 4,5 milhões de barris dia em 2025. Portanto, somente lá (2025) poderíamos pensar em calcular este tipo de alavancagem.

Comparar a Petrobras com empresas que não tem nenhum projeto importante, não fizeram nenhum investimento e, portanto, não assumiram dívidas , utilizando este tipo de indicador, é querer ludibriar a todos.

A Shell que em 2016 adquiriu a BG e para isto aumentou seu endividamento, terminou o exercício com este indicador de alavancagem igual ao da Petrobras, conforme mostramos no artigo “A realidade desafia a estratégia atual da Petrobras”.
http://www.aepet.org.br/w3/index.php/artigos/em-defesa-da-petrobras/item/482-a-realidade-desafia-a-estrategia-atual-da-petrobras

E saibam que a Shell não está pensando em vender ativos para reduzir seu endividamento. Vai deixar que o negócio absorva a dívida naturalmente.

Além da mentira de que a empresa teria problemas financeiros, o que contestamos veementemente em diversos artigos, vide “Quem diz que a Petrobras tem ou teve problemas financeiros age de má-fé.”
http://www.aepet.org.br/w3/index.php/artigos/artigos-da-aepet-e-colaboradores/item/880-quem-diz-que-a-petrobras-tem-ou-teve-problemas-financeiros-age-de-ma-fe

A atual direção da Petrobras utiliza este indicador de alavancagem para induzir a opinião pública ao erro e justificar venda de ativos altamente rentáveis como a NTS e a BR Distribuidora.
Uma empresa só vende ativos rentáveis por extrema necessidade de caixa, o que não é o caso da Petrobras. Pelo contrário.

Infelizmente, frequentemente temos visto até petroleiros utilizando este tipo de índice para criticar a Petrobras. Será que eles sabem o que falam?
O escritor espanhol do sec. XVI, Francisco Queveda, dizia : “Quem julga pelo que ouve e não pelo que entende é orelha e não juiz.”

Cláudio da Costa Oliveira
Economista da Petrobras aposentado

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