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O microfone vazou – o elo entre o interesse e o desprezo pela democracia

Data da publicação: 07/09/2016
Autor(es): Vicente P. Silva

Triste país de tradição de golpes militares, de títeres civis, a serviço da dominação estrangeira. Triste país da exclusão, de elite retrógrada, preconceituosa e servil, onde o capitalismo é mais cruel, mesmo sem guerras, de infância e juventude exterminadas, em nome de quem os atores representam, de heróis duvidosos, figurantes de estratégias internas em luta permanente contra o interesse do país.

Durante a defesa da presidenta eleita por voto direto, no g1 (rede globo), o microfone vaza, permitindo ouvir-se o comentário de um senador, não identificado, afirmando, textualmente: “a presidenta dilma fazia assalto a bancos, à mão armada, e continuou a assaltar quando chegou à presidência”. Esta afirmativa mostra o tom exato do ódio e da apologia clara à ditadura militar, do qual fomos vítimas todos os brasileros, mas principalmente os que lutaram, pela democracia,muitos deles pagando com a própria vida. Suas famílias, até hoje, tentam resgatar a dignidade enterrada nos cemitérios clandestinos. Daí a dimensão do comentário preconceituoso desse senador e que não era só seu.

Fosse possível tornar públicas as conversas e comentários de pé-de-ouvido naquela sessão de julgamento e nos gabinetes, ter-se-ia a real amplitude das intenções encobertas, o acirramento ideológico, o espúrio jogo de interesses, mas principalmente o falso apelo à moralidade e à ética onde a hipocrisia e a covardia embutidas no figurino e no discurso parlamentar, só afloram com vazamento de microfone. Denigrem, acusam levianamente, garantem a propina combinada ou simplesmente repetem o discurso ensaiado, jogando eleitoralmente para a platéia.

De posse do atributo que lhe é peculiar, a traição, o farsante exercita uma dramaticidade meticulosa no gesto, que, longe de transparência e verdade, mostra, tão somente, sua opacidade mental, desprezo pelo bom exercício político, vingança pessoal, retratados no júbilo sarcástico do senador derrotado que nunca escondeu o brilho do deboche irresponsável em seus olhos dilatados, mostrando o modus operandi do descompromisso e o desprezo de um congresso de barganha, com o país e seu povo, com aval de uma mídia seletiva, comprada a preço de mandato.

País iletrado, de eleições de conveniência, compradas, de um congresso à venda, de entreguistas, oportunistas. De políticos sem política, sem ética.

Nada a esperar de um congresso refém de um chantagista e indiciado na lava a jato, cuja delação põe todos em polvorosa e de quem todos esperam o silêncio que salvará seus mandatos. Afastado, ameaçador, com suas delaçoes bombas na manga, cunha consegue fazer tremer os parceiros corruptos com ameaças veladas, adiar sua cerimônia de cassação, para não se sabe quando. Aposta na extensa lista de confrades corruptos, picaretas declarados do seu livro de maldade, manipulando como se viu, a cassação de mandato de uma presidente eleita pelo voto.

Serelepes, pueris, eloquentes e inconsequentes, parlamentares dilapidadores da consciência do povo e da merenda infantil das escolas públicas, vestem a toga da impunidade, se arvoram juízes, patronos da democracia. Porém, traídos pela própria farsa, findam por expor suas intenções intestinais, não mais dissimulando sua ganância por dinheiro e poder. Não impedem, apesar do disfarce, que se perceba quão vil a atuação daqueles para quem o cidadão delegou seu voto e que decidem e votam pela corporação de corruptos.

O parlamento, uma elite caipira e populista (por minha família, por são joão das botas, por meu querido povo do gueto, pela tradição, família e principalmente pela propriedade…) Tem asco de povo e quer manter o brasil sob o jugo dos ancestrais cabrestos e do latifúndio, de parlamentares reféns de outros reféns e de uma mídia vampira que lhes suga o bolso, e a alma dos cidadãos.

Por um minuto de fama, corruptos de terno sizudo e moral cinzenta, ardilosamente manipulam os incautos à luz dos holofotes, cabendo à grande mídia o trabalho da hipnose.

Por falar em farsa, já passa da hora de uma devassa no sistema de comunicação brasileiro. Manipular, vender mentiras e intenções seletivas sempre foi seu negócio. Caras pintadas da era collor, movimentos vem pra rua, panelaços, edições de ocasião de material de achincalhe e deturpação, como se viu na associação ao golpe perpetrado. Foi assim na lava a jato, usando a logo da petrobras para assuntos não relacionados à empresa e resistindo, até onde foi possível, em falar sobre o cartel de empreiteiras, com o fito de desmoralizar perante o mercado a maior empresa do brasil, deteriorar sua marca para fragilizar, facilitar sua entregas às irmãs bastardas setor petróleo.

Precisa-se localizar o bunker desse e de outros golpes dos caciques políticos e executivos da comunicação. Saber onde e quando se realizaram as reuniões estratégicas dos golpistas da mídia com os golpistas do senado e da câmara. Pensar não ofende.

Voltando ao microfone vazado, para saber melhor o perfil do nosso parlamento, como urdem seus projetos pessoais e de entrega do país, como funciona a máquina de propina, bastaria uma cópia bruta da gravação de suas sessões. Foi isso que mostrou o vazamento da sessão do impeachment, muito pouco para os subterrâneos daquelas casas.

A considerar o cenário político atual, faz sentido propor uma disciplina escolar de alta transversalide e eficaz capilaridade que poderia chamar-se delação e chantagem ao alcançe de todos, ministrada presencialmente e à distância, além de programas como bom dia delação, diário de um delator, a arte da corrupção, comunicação para wacas, com w mesmo, quanto vale o seu mandato, etc.. Mestres é que não faltarão.

Como acredita a grande mída, na manipulçao seletiva nada pode ser sério. O que interessa é atender ao cliente do balcão de negociatas. Afinal, o povinho não entende nada mesmo e nem de política gosta. Basta vomitar impropérios e mentiras, estatísticas forjadas, imagens editadas, que ele acredita.

Finalmente, sobre o golpe recente, não paira qualquer dúvida que pretende incrementar as facilidades neoliberais de entrega do patrimônio natural e ambiental do país, o sucateamento da petrobras, a manutenção da impunidade e do atraso, além de circunstancialmente, abafar a corrupção do parlamento e seus clientes. Que tudo continue como dantes, inclusive a fragilidade da democracia e o retrocesso das conquistas sociais.

Desse jeito, nem cristo! Só a reação salva! Petrobras é grande, é do brasil, é nossa!