Petróleo no Mundo
É necessário quantificar o tempo para definir processos, mudanças e relações de antes e depois. As rochas são registros de processos geológicos, portanto por intermédio delas é possível determinar o que ocorreu no passado e, assim, entender como era o nosso planeta em tempos anteriores ao surgimento das formas de vida complexa. A escala de tempo geológico representa a linha do tempo, desde o presente até a formação da Terra, baseada nos grandes eventos geológicos da história do planeta.
Estudos geológicos consideram que a Terra tem cerca de 4,6 bilhões de anos. Entre 4,4 e 1,2 bilhões de anos, formação da crosta terrestre, surgem organismos unicelulares, invertebrados marinhos, desenvolvimento vegetal e extensa vida marinha. De 800 a 120 milhões de anos, ocorre ruptura continental, peixes, anfíbios, florestas, dinossauros, mamíferos, pássaros e nasce o Oceano Atlântico. Há cerca de 65 milhões de anos desaparecem os dinossauros.
Os primeiros primatas têm origem por volta de 50 milhões de anos. O Homo Sapiens, nossa espécie, surgiu há aproximadamente 100 mil anos atrás, possivelmente na África. Um primata bípede pertencente a uma superfamília juntamente com outros símios, tais como: chimpanzés, gorilas e orangotangos.
A ação do calor e da pressão transformou material orgânico, restos de origem vegetal ou animal, depositado há milhões de anos no fundo de antigos mares e lagos, em petróleo. É uma substância inflamável e oleosa. Tem densidade menor que a água, cheiro característico, cor variando entre o negro e castanho escuro. É resultado da combinação de moléculas de carbono e hidrogênio, um composto de hidrocarbonetos. Em estado gasoso é o gás natural.
Referências esparsas nos levam a acreditar que os humanos já conheciam o petróleo quatro mil anos a.C.. Babilônios, Egípcios, Aztecas e outras civilizações antigas conheceram o petróleo. Na antiguidade, conhecido por betume, era encontrado em poças à flor da terra. Usado na calafetação da Arca da Noé, conforme citações bíblicas, nas Pirâmides do Egito, no Templo de Salomão, nos Jardins Suspensos de Nabucodonosor, no embalsamento de corpos, em archotes e flechas incendiárias.
Nos meados do século XIX, buscando energias alternativas para iluminação, George Bissel encomenda uma pesquisa sobre o petróleo ao cientista Benjamin Silliman da Universidade de Yale. Os resultados foram excelentes e indicaram o querosene, derivado do petróleo, como substituto ao óleo de baleia e carvão mineral.
Em 1859, o “Coronel” Edwin Laurentine Drake descobre o primeiro poço produtor de petróleo do mundo, com 21 metros de profundidade, na Pensilvânia, EUA. A partir daí começa a corrida atrás do ouro negro, atiçando cada vez mais a cobiça humana.
Em 1861, a Guerra Civil nos EUA, Guerra de Secessão, deixou como saldo: 600 mil mortos, o sul do país devastado e a radicalização da segregação racial. No entanto, a recuperação econômica foi fulminante. A abundância de recursos naturais e a extensa rede de transporte fluvial e ferroviário foram fatores determinantes.
John Davison Rockefeller fundou, em 1870, a Standard Oil Company. Ele implementou o negócio do refino de petróleo, detendo cerca de 90% do mercado. Atuou nos EUA, Europa e outras regiões. Foi o primeiro bilionário em US$ da história.
Em 1890, foi aprovada a Lei Sherman antitruste, refletindo a vontade popular de por um fim nos desmandos dos capitalistas norte-americanos Andrew Carnegie, John D. Rockefeller, Jay Gould, e J. P. Morgan, respectivamente controladores do aço, petróleo, ferrovias e bancos.
Em 1906, o presidente Theodore Roosevelt entrou na justiça contra a Standard Oil, acusando-a de práticas monopolistas. Em 1911, é desmantelado o monopólio e criado 34 pequenas novas empresas, das quais emergiram a Exxon, Chevron, Atlantic, Mobil e a Amoco. Porém, o controle continuou nas mãos de Rockefeller.
No começo extraia-se do petróleo apenas o querosene, que era utilizado na iluminação. Mas com a invenção da lâmpada elétrica, em 1889, por Thomas Alva Edison, fundador da multinacional General Electric, surge forte concorrente. No entanto, os motores de combustão dão novo fôlego à indústria do petróleo. A partir da segunda metade do século XIX, invenções como telefone, automóvel, lâmpada elétrica e avião mudam o mundo.
No início do século XX, nasce a Royal Dutch-Shell, com capital 60% holandês e 40% inglês. Ela é oriunda da fusão da Shell Trading Company, transportadora de pérolas e conchas do Japão para a Inglaterra, com a Royal Dutch Oil Co., que atuava no Sudoeste Asiático.
A 1ª Guerra Mundial, de 1914 a 1918, ocorreu entre os Impérios Britânico e Russo, a França e os EUA contra os Impérios Alemão, Austro-Húngaro e Turco-Otomano. Em 1917, a Rússia retira-se da luta, enquanto os EUA entram no combate. A derrota da Alemanha e seus aliados conduzem a imediata exploração do petróleo no Oriente Médio, região que até o final do conflito era controlada pelo Império Turco-Otomano. A França ocupou o Norte da África, Egito, Palestina, Líbano e Síria, enquanto a Inglaterra assumiu Arábia, Yemen, Oman, Emirados, Kwait e Iraque.
Evento que reescreveu a Geopolítica Mundial foi a Revolução Russa, em 1917, a qual derrubou o Czar e instaurou a primeira república socialista. Os revolucionários bolchevistas, liderados por Lênin, Trotsky e Stalin, aboliram a propriedade privada e estatizaram a indústria petrolífera.
A 2ª Grande Guerra, de 1939 a 1945, posicionou de um lado Alemanha, Itália e Japão contra os Aliados: URSS, Reino Unido, França, EUA, que entra no conflito no final de 1941, Brasil e outras nações. Stalin, Roosevelt e Churchill saem vitoriosos. Os EUA são beneficiados, pois as grandes guerras não ocorrem em seu solo.
A utilização massiva do petróleo transformou-o num produto estratégico. O controle do petróleo garantiu o sucesso das nações vencedoras nas grandes guerras. O petróleo é matéria-prima fundamental à vida moderna. Componente básico de mais de seis mil produtos.
A mais problemática fonte de energia tem sido o petróleo, devido ao seu caráter estratégico, à sua distribuição geográfica e à recorrente crise de fornecimento. Relacionando o petróleo aos principais eventos mundiais, nos últimos 150 anos, teremos um percurso de guerras, ganância, riqueza e poder.
Verifica-se sobrecarga imposta às fontes de energia fósseis: petróleo, gás natural e carvão mineral, as quais somadas alcançam a marca de 81% do consumo energético mundial.
O crescimento acelerado do consumo de energia, depois da Revolução Industrial, cerca de 1850, suscita três questões: o aquecimento do planeta; a disparidade entre o consumo energético dos países ricos e o dos países pobres e o esgotamento do petróleo. Países ricos vendo esgotar seus recursos energéticos e sedentos, principalmente, por petróleo, pressionam cada vez mais os países pobres detentores desse recurso natural.
As características econômicas, tecnológicas ou geológicas, de cada região, determinam as energias consumidas. A América Latina destaca-se por suas riquezas hídricas. A região recebe 27% das chuvas que caem no planeta, a maior parte na bacia amazônica. O Aquífero Guarani é a maior reserva geológica mundial de água, estendendo-se pelos territórios paraguaio, brasileiro, argentino e uruguaio.
O consumo de energia está diretamente relacionado à riqueza da nação. Países ricos, medidos pelo indicador Produto Interno Bruto (PIB), consomem mais energia do que os países pobres. Os países desenvolvidos são responsáveis por 58% do consumo de petróleo no mundo e possuem menos de 7% das reservas. Além do PIB, existe o índice de Desenvolvimento humano (IDH), que considera as variáveis: saúde, educação e renda, para identificar a qualidade de vida de um povo.
A hegemonia dos EUA tornou-se mais contundente após a débâcle do socialismo, em 1989, na URSS e nos países do Leste Europeu. Os dados relativos ao consumo de petróleo, gás natural e carvão mineral comprovam a enorme desigualdade entre os EUA, que tem aproximadamente 4,6% da população mundial, e o resto do mundo.
As maiores reservas de petróleo situam-se no Oriente Médio, cerca de 60% do total mundial. Destacando-se Arábia Saudita, Irã e Iraque. A produção de petróleo nos países dessa região alcança 25% do total mundial. Mas, o consumo significativo ocorre nos países desenvolvidos.
Nos primórdios da era petróleo, o transporte do óleo era feito em barris conduzidos em mulas ou embarcações. O Sistema Internacional de Unidades definiu o barril (bbl) como unidade de volume para o petróleo. O barril de petróleo corresponde a 158,99 litros e o metro cúbico (m3) equivale a 6,29 barris de petróleo.
O ambiente macroeconômico da indústria do petróleo destaca os seguintes segmentos: Exploração e Produção, Abastecimento (Refino e Distribuição) e Pesquisa para garantir o avanço tecnológico.
Petróleo no Brasil
No reinado de Dom Manuel (1495-1521) partiu uma frota portuguesa, sob o comando de Vasco da Gama, para as índias. Os portugueses chegaram, em 1498, a Calicute, abrindo o caminho marítimo para as índias. A expedição de Vasco da Gama significou sucesso financeiro e prestígio para a Coroa. Em 1500, o rei entrega uma esquadra de 13 naus e cerca de 1500 homens ao comando de Pedro Álvares Cabral. Em pouco mais de um mês, 22 de abril, Cabral chega ao Brasil e toma a nova terra para o rei de Portugal. A descoberta é comunicada ao rei através da célebre carta de Pero Vaz de Caminha.
A chegada da Corte portuguesa ao Brasil, com 12 mil pessoas, em 1808, traz significativas mudanças. Abertura dos portos às nações amigas. Criação do Real Arquivo Militar, do Banco do Brasil, da Imprensa Nacional e de uma fábrica de pólvora. Publicação do primeiro jornal do Brasil. Permissão de manufaturas na colônia. A presença da Corte assegurou ao Brasil seu imenso território.
Em 1864, Dom Pedro II outorga a primeira concessão, para prospecção de petróleo, ao inglês Thomas Demy Sargent, comprometendo a soberania nacional.
Em 1892, por iniciativa do fazendeiro Eugênio Ferreira de Camargo começa a exploração de petróleo. Poço profundo é perfurado em Bofete, São Paulo, com 488 m, mas jorra apenas água sulfurosa. Governa o país o marechal Floriano Peixoto.
A participação popular na independência do país, na abolição da escravatura e na proclamação da república foi inexpressiva, ficando as decisões políticas nas mãos de uma minoria da população, autênticos representantes da classe dominante.
Mas, a partir de 1900, a sociedade brasileira passa a atuar nos destinos da nação. Ocorrem as revoltas tenentistas: O levante do Forte de Copacabana, em 1922, a Revolução Paulista, em 1924, e a marcha da Coluna Prestes, de 1925 a 1927. Fundação do Partido Comunista Brasileiro (PCB), 1922, na cidade de Niterói. Realização da Semana de Arte Moderna, 1922, em São Paulo. Em movimento liderado por Nísia Floresta, 1927, é instituído o voto feminino no Rio Grande do Norte.
A Revolução de 1930 causa grande impulso ao país. Getúlio Vargas assume o poder em 1930 e governa até 1945. A sociedade brasileira mais madura participa ativamente de discussões e atos sobre a soberania da nação.
Em 1934, as riquezas do subsolo passam a ser da União, desvinculando-se a posse do subsolo da propriedade do solo. Tem início a indústria petroquímica. Em 1938, a Lei 366 estabeleceu que a atividade petrolífera era privativa de brasileiros. Neste ano, é criado o Conselho Nacional do Petróleo (CNP). Vargas nomeou presidente do CNP o nacionalista general Horta Barbosa.
Criada a Comissão Fróes de Abreu para prospecção de petróleo no Brasil. Em Lobato, bairro de Salvador, na Bahia, em 1939, contrariando todas as avaliações de técnicos estrangeiros, relatório de Walter Link, é descoberto petróleo no Brasil.
Na década de 1940, com os primeiros sucessos, várias propostas foram feitas ao governo, principalmente pela Esso e Shell, para a prospecção de petróleo no Brasil. Essas multinacionais já estavam aqui no setor de distribuição.
Getúlio retorna, agora eleito democraticamente, a governar o país. O segundo governo vai de 31 de janeiro de 1951 até 24 de agosto de 1954, data do seu suicídio.
Os debates são intensos entre as idéias nacionalistas e as da internacionalização. Nacionalistas, liderados pelo general Horta Barbosa, foram às ruas, largamente apoiados pelos comunistas, buscar o apoio popular. A crescente tensão entre EUA e URSS teve seus reflexos imediatos na campanha que se desenrolava no Brasil.
A opinião pública mobiliza-se em torno da campanha “O Petróleo é Nosso”. A maior, mais profunda e mais prolongada mobilização popular, no Brasil, em prol de um legítimo interesse nacional. O movimento desencadeia na criação da Petrobrás, em 3 de outubro de 1953, com a edição da Lei 2004, texto de autoria de Euzébio da Rocha, que instituiu o monopólio estatal na pesquisa, lavra, refino e transporte de petróleo e seus derivados. A partir daí, a história do petróleo no Brasil confunde-se com a vida da Petrobrás.
Assinatura da Lei 2004
“Foi com orgulho patriótico que sancionei o texto de Lei aprovado pelo Poder Legislativo, constituindo novo marco na soberania do Brasil”
(Getúlio Vargas)
Com o acervo recebido do CNP a Petrobrás inicia suas atividades em 1954. Campos de petróleo do recôncavo baiano; duas refinarias, uma na Bahia e outra em São Paulo; uma fábrica de fertilizantes (SP); a Frota Nacional de Petroleiros (Fronape), com 22 navios, e os bens da Industrialização do Xisto.
Nos anos de 1960 é inaugurado o Centro de Pesquisas (Cenpes), cujo objetivo é atender demandas tecnológicas que impulsionam a Companhia. Mudança radical na estrutura das importações. Em 1954, 98% correspondiam a derivados de petróleo e só 2% a óleo. Em 1967, os derivados atingem 8% e o petróleo 92% .
Nos anos de 1970, é implantado o Programa Nacional do Álcool. Os choques do petróleo, em 1973 e 1979, ocasionam incertezas nos preços e no suprimento. Mais investimentos em exploração eleva a produção do petróleo nacional, acarretando aumento da carga de óleo nacional nas refinarias.
No começo da década de 1980, o parque de refino estava completo, uma refinaria no Norte, duas no Nordeste, seis no Sudeste e duas no Sul, perfazendo onze unidades, garantindo o abastecimento do mercado brasileiro.
Ainda nos anos de 1980, a Companhia direciona a maioria dos investimentos na busca do petróleo. São descobertos os primeiros campos gigantes na Bacia de Campos. Programa em Águas Profundas. Perfuração de poços em lâminas d’água superiores a dois mil metros, marcando recorde mundial. Retirado o chumbo tetraetila da gasolina produzida pela Petrobrás. Desse esforço resultou a conquista, no começo do século XXI, da tão sonhada auto-suficiência.
Em 1990, Decreto 99.226, determina a extinção de duas importantes subsidiárias da Petrobrás: Interbrás e Petromisa. Em 1993, acordo entre Brasil e Bolívia, para importação do gás natural boliviano, leva a construção de um gasoduto de 2.233 km.
Em 1997, foi criada a Lei 9.478 que abriu as atividades da indústria petrolífera à iniciativa privada. Com a lei, foram criados a Agência Nacional do Petróleo (ANP), encarregada de regular, contratar e fiscalizar as atividades do setor; e o Conselho Nacional de Política Energética, um órgão formulador da política pública de energia. Com a nova Lei, ao ser retirado do poço, o petróleo deixa de pertencer à União. Torna-se propriedade de quem o extraiu, não tendo as empresas internacionais qualquer compromisso com o desenvolvimento do Brasil.
A Petrobrás tinha, em 2008, de reservas provadas 13 bilhões de barris, uma produção de 1,7 milhões de barris por dia (bpd) e um mercado para atender de 1,8 milhões de bpd. Cerca de 80% das reservas provadas de petróleo estão localizadas no Rio de Janeiro. Desde os 2,7 mil bpd, em 1954, até os 2 milhões alcançados, em 2008, a Petrobrás sempre atuou com competência, e este êxito está apoiado na força de trabalho e no avanço da tecnologia. A relação entre reservas e produção é de 19 anos, isto é teremos petróleo por mais 19 anos. Os números mostram uma situação confortável. A auto-suficiência em petróleo está mantida. A Petrobrás é uma história brasileira de sucesso.
Os derivados do petróleo são obtidos através da transformação do petróleo, nos diversos processos de refino. Os principais derivados são: Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), Nafta, Gasolina, Querosenes, Diesel, Óleo Combustível, Parafinas, Asfaltos e Lubrificantes. Os rendimentos dos derivados variam conforme o tipo do petróleo. Assim, óleos leves produzirão, em maior quantidade, produtos de maior valor no mercado, tais como: GLP, Nafta, Gasolina, Querosenes e Diesel, enquanto óleos pesados produzirão, em maior escala, produtos de menor valor.
Em 2006, a matriz energética brasileira aponta o petróleo com uma demanda de 40%, a lenha e a cana-de-açúcar com cerca de 30% e a energia hidráulica com 14%. Já a matriz de combustíveis veiculares apresenta o Diesel, a Gasolina e o Gás Natural Veicular (GNV) com 56%, 35% e 2% respectivamente.
Apesar da auto-suficiência em petróleo, o Brasil importa GLP e Diesel. Esses produtos são usados na cocção de alimentos e nos transportes, respectivamente. O Óleo Diesel fica sobrecarregado porque o modal de transporte é quase exclusivamente rodoviário, implicando num consumo excessivo desse derivado. O Gás Natural é o mais forte concorrente do GLP. No entanto, exige uma malha de dutos subterrâneos para transportá-lo até o consumidor final, e no país poucas cidades dispõem dessa estrutura.
Com a compra da multinacional Agip, em 2004, a Petrobrás, através de sua principal subsidiaria, a BR Distribuidora, conquistou 21,2% do mercado de distribuição de gás de cozinha (GLP) no país. Era o único de seus produtos que a Companhia não distribuía.
Hoje, do capital total da Petrobrás, a União Federal possui 57,6% das ações ordinárias nominativas e 15,5% das ações preferenciais, publicação do jornal O Globo, em 2008. Apesar do governo não possuir a maior parte das ações, o controle ainda é estatal, pois a maioria das ações que decidem os destinos da Companhia é do Estado.
A Petrobrás implementou, no início deste milênio, um importante plano de reestruturação. Com a missão de atuar de forma rentável nas atividades da indústria de petróleo, gás natural e outras fontes de energia. Com presença em vários países, atuando em diversas áreas, a Companhia se posiciona como uma das maiores do mundo.
O planejamento estratégico da Petrobrás prevê, para a próxima década, o crescimento da produção e de reservas de óleo e gás, novas refinarias e a expansão internacional. Haverá esforço para aumentar o consumo de gás natural e reduzir a importação de derivados do petróleo.
Novos negócios surgem: A refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, e a exploração do petróleo na camada Pré-Sal.
O compromisso de parceria entre a Petrobrás e a petroleira venezuelana Pdvsa vai dar origem à refinaria Abreu e Lima. A última refinaria da estatal brasileira foi construída em 1980, em São Paulo. A obra da Abreu e Lima foi iniciada em agosto de 2007 e estará concluída em 2011. A Abreu e Lima, localizada na região metropolitana de Recife, será a primeira refinaria de petróleo inteiramente construída com tecnologia nacional. Será, também, a primeira adaptada a processar 100% de petróleo pesado com o mínimo de impactos ambientais e produzir combustíveis com teor de enxofre menor do que o exigido pelos padrões internacionais.
A Abreu e Lima será orientada principalmente para produção de óleo diesel, o derivado de maior consumo no país. Cerca de 65% dos derivados ali produzidos serão de óleo diesel com baixíssimo teor de enxofre. O diesel é o derivado de maior importação do Brasil e sua produção no Nordeste permitirá atender à crescente demanda por derivados na região e o excedente poderá abastecer ainda o mercado nacional. A refinaria terá capacidade para processar 240 mil barris por dia de petróleo, utilizando óleo pesado do Brasil e Venezuela. É prevista expansão para 500 mil barris por dia, o que a tornaria na maior refinaria do país.
O Comperj – Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro – será construído numa área de 45 milhões de m2 localizada no município de Itaboraí, com investimentos previstos em torno de US$ 8,5 bilhões. A produção de resinas termoplásticas e combustíveis consolidará o Rio de Janeiro como grande concentrador de oportunidades de negócios no setor, estimulará a instalação de indústrias de bens de consumo que têm nos produtos petroquímicos suas matérias-primas básicas.
É prevista a geração de 210 mil empregos em âmbito nacional. Com início de operação marcado para 2012, o Comperj tem como principal objetivo aumentar a produção nacional de produtos petroquímicos, com o processamento de cerca de 150 mil barris por dia de óleo pesado nacional.
Por sua dimensão, o Comperj transformará o perfil socioeconômico da região de influência do empreendimento que inclui os municípios de Cachoeiras de Macacu, Casimiro de Abreu, Guapimirim, Itaboraí, Magé, Maricá, Niterói, Nova Friburgo, Rio Bonito, Rio de Janeiro, São Gonçalo, Saquarema, Silva Jardim, Tanguá e Teresópolis.
Com o intuito de maximizar a participação da mão-de-obra local na implementação do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, a Petrobrás desenvolveu o Centro de Integração do Comperj que realizará a qualificação e capacitação de cerca de 30 mil profissionais nos municípios situados na área de influência do empreendimento Serão oferecidos 60 tipos de cursos gratuitos divididos em cinco ciclos anuais. Desse total, 82% serão em nível básico, 17% em nível técnico e 1% em nível superior. O ingresso será feito por processo seletivo.
Os geólogos analisam a Terra a partir do que é mais antigo para o mais novo. Como as rochas que estão abaixo do sal são as mais antigas, elas são chamadas de Pré-Sal. No Brasil, antes da camada de sal, foi descoberta uma imensa reserva de petróleo, no fundo do mar.
A chamada camada Pré-Sal é uma faixa que se estende ao longo de 800 quilômetros entre os estados do Espírito Santo e Santa Catarina, abaixo do leito do mar, e engloba três bacias sedimentares (Espírito Santo, Campos e Santos). O petróleo encontrado nesta área está a profundidades que superam os sete mil metros, abaixo de uma extensa camada de sal. Esta província está situada à cerca de 300 quilômetros do continente.
Vários campos e poços de petróleo já foram descobertos na camada Pré-Sal, entre eles o de Tupi, o principal. Há também os nomeados Guará, Bem-Te-Vi, Carioca, Júpiter e Iara, entre outros.
A quantidade de petróleo encontrada na camada Pré-Sal é muito grande. Por exemplo, só o campo de Tupi, na Bacia de Santos, um dos campos do Pré-Sal, se tudo se confirmar, as reservas brasileiras vão pular de 13 para 20 bilhões de barris. Só Tupi teria mais da metade da atual reserva brasileira de petróleo.
As incertezas ainda são muitas, a Petrobrás trabalha com estimativas conservadoras. No entanto, a empresa britânica BG Group (parceira do Brasil em Tupi, com 25%) divulgou nota estimando uma capacidade entre 12 e 30 bilhões de barris de petróleo equivalente. A portuguesa Galp (parceira com 10%) confirmou o número. Portanto, só Tupi tem potencial para até dobrar o volume de óleo e gás que poderá ser extraído do subsolo brasileiro.
Estimativas apontam que a camada Pré-Sal, no total, pode abrigar algo próximo de 100 bilhões de barris de óleo equivalente em reservas, o que colocaria o Brasil entre as dez maiores reservas do mundo. A Petrobrás não descarta que toda a camada Pré-Sal seja interligada, formando uma reserva gigantesca.
Não podemos produzir a toque de caixa, como querem as multinacionais, para que o Brasil se transforme num grande exportador. Já somos auto-suficientes na produção de petróleo. O petróleo é finito, diferente da cana de açúcar que proporciona mais de uma safra ao ano. O petróleo exportado não vai gerar mais emprego.
Quem descobriu o Pré-Sal foi a Petrobrás, fruto do modelo de monopólio. O Pré-Sal no mar já era conhecido antes da mudança da Lei do petróleo. Aliás, se o modelo só com a participação de empresas privadas existisse desde 1953, ou seja, se o monopólio exercido pela Petrobrás não existisse, nem a Bacia de Campos teria sido descoberta quanto mais o Pré-Sal. A razão é simples: as empresas estrangeiras não iriam pesquisar em águas profundas no Brasil, entre 1970 e 2000, pois os investimentos teriam que ser altíssimos. Iriam investir, em terra, no Oriente Médio, Cazaquistão, nas águas rasas da Nigéria. A lógica do capital não as levaria à Bacia de Campos.
O desconhecimento sobre o potencial da camada Pré-Sal coloca em sobressalto os defensores da soberania brasileira. A luta que moveu multidões, para criar a Petrobrás, em 1953, era por um sonho, hoje as reservas de petróleo e gás são uma realidade e temos que lutar para que todo o petróleo, inclusive o do Pré-Sal, seja de fato, nosso. A opinião pública mobiliza-se em torno da campanha “O Petróleo tem que ser Nosso”, propondo mudanças na Lei do petróleo, exigindo o restabelecendo do monopólio estatal, o fim dos leilões e a retomada das áreas já leiloadas.