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“Petrobrás fecha segundo trimestre com Ebitda e fluxo de caixa livre positivos” – Resultados ao gosto do freguês.

Data da publicação: 31/07/2020

“Petrobrás fecha segundo trimestre com Ebitda e fluxo de caixa livre positivos” é o título do “Fatos e Dados” publicado ontem (30/07) pela atual administração da Companhia.

Grande novidade!!! Que eu saiba, na história da Petrobrás jamais foi registrado um Ebitda negativo e com investimentos praticamente zerados, não tem como o fluxo de caixa livre deixar de ser positivo.

O “Fatos e Dados” salienta também que o Ebitda é importante “facilitando a comparação de resultado entre companhias”.

Trata-se de uma tremenda contradição, pois no glossário apresentado no final do “Release de resultados” é registrada na definição de Ebitda “Esta métrica não está prevista nas normas internacionais de contabilidade – IFRS , e é possível que não seja comparável com índices similares reportados por outras companhias”.

Não está prevista e portanto, não é padronizada. Então por que é utilizada?

Então por que toda esta conversa mole? Querem enganar a quem?

Leiam lá e vocês vão verificar que em nenhum momento o “Fatos e Dados” informa qual foi o resultado do trimestre.

Interessante não é ?

Pois bem, vou revelar a verdade: no 2º trimestre de 2020 a Petrobrás registrou um prejuízo de R$ 2,7 bilhões. Pronto, falei.

Tal prejuízo no entanto, não foi maior devido ao registro do ganho judicial no processo PIS/Cofins, no valor de R$ 7,7 bilhões.

A bem da verdade o título do “Fatos e Dados” deveria ser: “NO 2º TRIMESTRE DE 2020 TIVEMOS UM PREJUÍZO DE APENAS R$ 2,7 BILHÕES DEVIDO AO EFEITO POSITIVO NO RESULTADO DE UM GANHO JUDICIAL DE R$ 7,7 BILHÕES”

Do mesmo modo, com relação ao resultado de 2019, no qual a companhia informou ter obtido lucro recorde de R$ 40 bilhões deveria ter sido dito: “REGISTRAMOS UM LUCRO DE R$ 40 BILHÕES EM 2019 DEVIDO AO LANÇAMENTO DO LUCRO CONTÁBIL DE R$ 38 BILHÕES OBTIDO NA VENDA DA BR DISTRIBUIDORA E DA TAG”.

Do mesmo modo, com relação ao resultado do 1º trimestre de 2020, no qual a Companhia noticiou um prejuízo de R$ 48,5 bilhões, deveria ter sido dito: REGISTRAMOS UM PREJUÍZO DE R$48,5 BILHÕES NO 1º TRIMESTRE DE 2020 DEVIDO AO LANÇAMENTO DE IMPAIRMENTS ETC,ETC,ETC….

Vejam que os resultados da empresa se transformaram em verdadeiros “sambas do crioulo doido”. Ao gosto do freguês.

Nesta situação creio ser mais produtivo avaliarmos a Geração Operacional de Caixa – GOC, que é o recurso que sobra depois de cobertos todos os custos e despesas do período. É o caixa que sobra para cobrir o serviço da dívida, fazer investimentos e distribuir dividendos.

Diferente do Ebitda, a GOC é uma métrica prevista nas normas internacionais de contabilidade e de apuração obrigatória. Seu cálculo é padronizado e os resultados podem ser comparados ao de outras empresas.

No 2º trimestre de 2020 a GOC da Petrobrás foi de R$ 29 bilhões, representando uma forte queda de 17% em relação ao 1º trimestre (R$ 35 bilhões).

Comparar resultados da Petrobrás é mais elucidativo se for feito em relação a outras grandes petroleiras. Para isto precisamos dos resultados em US$, o que só será divulgado dentro de alguns dias. Então vamos aguardar.

Gostei muito da mensagem do atual presidente Roberto Castello Branco sobre o resultado do 2º trimestre. Ele inicia com a frase “É com satisfação que posso dizer a vocês que estamos conduzindo o barco com segurança por mares nunca dantes navegados”
Sem dúvida, e eu posso dizer sem medo de errar, que eles poderão facilmente ir muito além da Taprobana, já que, como sabemos, acreditam (menos mal) que a terra é plana.

Cláudio da Costa Oliveira – Economista da Petrobras aposentado

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