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Planejamento ou morte: definindo o objetivo

Data da publicação: 02/07/2020

Durante a Guerra que os Estados Unidos da América (EUA) empreenderam contra o Vietnã, a Agência Central de Inteligência (CIA) daquele país divulgou a expressão “teoria conspiratória”. O mundo se horrorizava com a aplicação de uma tecnologia de ponta, inteiramente imoral e antiética, como lançar violentos pesticidas de avião na população rural civil, e sem poder dizer que era mentira, pelos registros filmados e fotografados, criou a difamante expressão.

Também para evitar que países e instituições do mundo subdesenvolvido ganhassem condição de sair da colonização e da miséria, os impérios do Atlântico Norte identificavam planejamento com o comunismo, pois a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) governava dentro de planos plurianuais de desenvolvimento.

Na realidade, empresas do mundo desenvolvido e os poderes dominantes naqueles países, já há muitos anos, tinham no planejamento sua arma de ação organizada, estruturada, sistematicamente avaliadora para correção dos desvios, de rumos e de custos, de seus objetivos.

Sem qualquer intuito docente, pergunto o que é planejar? Em primeiro lugar é definir com precisão e objetividade o que se pretende obter. Dizia um mestre em administração: se o dono da empresa disser que seu objetivo é ter lucro, não aplique lá suas economias, porque ele não saberá o que fazer com seu dinheiro.

Definido o objetivo, passamos a estudar tudo o que se lhe relaciona, em especial e com profundidade as condições existentes, ou seja, sobre que realidade iremos trabalhar. Sem dúvida é um esforço que demanda tempo e dinheiro, mas fará com que se saiba exatamente o que enfrentar, quais fatores antagônicos e facilitadores encontrar e em que dimensão, quantidade e qualidade, para conseguir atingir seu desiderato. O conhecimento da realidade é fundamental até mesmo para eventual redefinição do objetivo.

E, por fim, com a compreensão do que deseja e o conhecimento dos caminhos a percorrer, traçar a mais eficaz rota. E passar, permanentemente, a avaliá-la para adequá-la à mutante realidade.

Em termos políticos, pode-se definir planejamento como “o empreendimento consciente pelo governo de um país – frequentemente com a participação de outras organizações coletivas – para coordenar as políticas públicas mais racionalmente de maneira a alcançar, mais plena e rapidamente, os objetivos desejados para o desenvolvimento futuro, determinado pelo processo político em que está inserido” (Gunnar Myrdal, Beyond the Welfare State, 1960).

Estes passos são adotados pelos Estado-Maior das Forças Armadas, cúpulas das grandes empresas transnacionais, por Estados Nacionais que têm sucesso em sua projeção de poder e, o que nos é atualmente mais importante, pelo sistema que vem dominando o mundo contemporâneo: a banca ou o sistema financeiro internacional.

A banca representa o neocolonialismo hodierno. Mas com algumas diferenças, porém muito mais nefastas. O que foi o colonialismo?

Primeiro a dominação política e militar de países e regiões. Foi o caso de Portugal e Espanha nos séculos XVI e XVII. Depois vieram a Holanda, França e, principalmente, a Inglaterra, nos séculos XVIII e XIX. Em seguida, como estava ficando muito onerosa a ocupação territorial, os colonizadores treinaram uma quantidade de nativos e passam a lhes dar a independência política, mantendo a colonização econômica e enfatizando a colonização das ideias. Nesta fase, que é predominante no século XX, entram os EUA.

Surge também no século passado, o que será aproveitado em profundidade pela banca, o colonialismo meramente ideológico. De início terá uma expressão territorial na URSS. Mas por ser ideológico, pode até dispensar a ocupação formal, presencial, basta conquistar o poder imperante nos Estados Nacionais. Ele atua mais intensamente sobre as elites nacionais.

Enfrentar a banca significa conhecer seus propósitos e seus meios, ou seja, fins e métodos. O objetivo final da banca é a apropriação de toda economia pelo sistema financeiro e com a permanente concentração de renda. Os meios são todos, sem qualquer preocupação com a licitude, a ética, a moral ou valores.

Não precisamos sair do Brasil, embora os exemplos sejam numerosos em todo mundo, desenvolvido e subdesenvolvido. A banca esteve, com participações variadas, sempre com voz ativa, em todos os governos desde o presidente Figueiredo até o Bolsonaro, sem qualquer exceção. Com Figueiredo foi o Simonsen, com o Lula, o Meireles, e com Bolsonaro, o Guedes.

Se o nosso objetivo é melhorar a vida dos brasileiros, lutar pelo Brasil e pelo seu povo, algo ainda vago, precisamos definir com clareza o que isto significa. Propomos um lema midiático, para comunicação e difusão, que detalharemos na sequência: SOBERANIA E CIDADANIA. Não se consegue suplantar a dominação financeira sem o devido planejamento, conduzido pelo Estado-nação, com as forças nacionais pela soberania e pela cidadania.

Felipe Quintas – Doutorando em Ciência Política na Universidade Federal Fluminense.

Gustavo Galvão – Doutor em Economia.

Pedro Augusto Pinho – Administrador aposentado.

Fonte: Monitor Mercantil

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