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Plano de Negócios e Gestão (PNG 2018-2022) da Petrobrás é o ápice da esbórnia

Data da publicação: 22/12/2017

Fato relevante publicado no site da Petrobras nesta quinta-feira (21/12) : “Informamos que nosso Conselho de Administração aprovou, em reunião realizada ontem (20/12) o Plano de Negócio e Gestão 2018-2022”

É claro que aprovou. O atual Conselho de Administração da Petrobras é formado por um grupo de títeres, nomeados por Pedro Parente para dizer amém.

Será que eles perguntaram a causa da queda de mais de 10% na geração operacional de caixa (GOC) em relação ao plano anterior? A GOC no PNG 2017-2021 era de US$ 158 bilhões e, mesmo com um ligeiro aumento de produção, caiu para US$ 141,5 bilhões no PNG 2018-2022. Uma diferença de US$ 16,5 bilhões (mais de US$ 3 bilhões por ano). Como sempre, nenhuma explicação foi dada.

Qual a causa disto ? Seria a venda de ativos produtivos (Liquigas, NTS etc.) ou a nova política de preços, que coloca as refinarias na ociosidade ?

O PNG 2018-2022, foi discutido abertamente e apresentado em coletiva de imprensa? Claro que não.

Pedro Parente só faz pronunciamentos e dá entrevistas para pessoas previamente selecionadas. Das cartas que ele periodicamente envia aos petroleiros não é permitida a confecção de cópias e muito menos aceitos questionamentos. E ele chama isto de diálogo.

Em recente artigo, o vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras – AEPET, Fernando Siqueira, comenta “Foi criada uma uma Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro – Alerj, onde o Sr. Pedro Parente foi convidado a comparecer para esclarecer estas vendas de ativos. Parente se recusou, obteve uma liminar na justiça para não comparecer e não fornecer dados destas operações. Ora, um presidente de uma estatal da importância da Petrobras para o país, não pode se recusar a prestar esclarecimentos, a menos que tenha muita coisa a esconder. A Lei da Transparência está sendo fortemente desrespeitada”.

Tradicionalmente no mês de janeiro é feita uma pesquisa de ambiência na Petrobras, para conhecer a opinião dos petroleiros.
Em janeiro de 2017, a atual administração fez a pesquisa que apresentou os seguintes resultados:

– Percentual de respondentes de 64%, o menor na história das pesquisas de ambiência na Petrobras.
– Pergunta: O Plano de Negócios e Gestão está na direção certa? Resposta: só 37% concordam.
– Pergunta: Confia nas decisões tomadas pela Direção Superior diante dos desafios da companhia ? Resposta: só 31% confiam.

Agora nos chega a notícia de que a direção da empresa decidiu não realizar a pesquisa de ambiência prevista para o próximo mês de janeiro. Será que por saberem que as respostas dos petroleiros seriam ainda mais contundentes, resolveram “tirar o sofá da sala” ? É lamentável mas não surpreende ninguém.

O novo PGN 2018-2022 é uma pérola em criatividade. Prevê venda de ativos no montante de US$ 21 bilhões, mas não prevê nenhuma rolagem de dívida para evitar a venda destes ativos. Pelo contrário, foi criado um novo item chamado de “Formação de caixa” no montante de US$ 8,1 bilhões. Ou seja, o PNG 2018-2022, prevê uma aumento adicional do caixa da companhia neste valor. Mas será que a empresa precisa aumentar seu caixa ? Ou isto é só um disfarce para justificar a venda da ativos ?

Já fiz em diversos artigos mas não custa mostrar novamente a disparidade do caixa da Petrobras em relação à maior petroleira do mundo, a Exxon:

Saldo de caixa final do ano US$ bilhões

 

     2012

    2013

    2014

    2015

    2016

 Exxon

     9,58

     4,65

     4,62

     3,71

     3,65

    BR

    13,52

    15,87

    16,66

    25,06

    21,20

Fonte: Balanços auditados e publicados pelas empresas

É sempre bom lembrar que a receita da Exxon é mais de 2,5 vezes superior à da Petrobras. Mas isto é má administração financeira ou é má intenção ?

Ativos valiosos são vendidos, à toque de caixa, sem licitação e a preço de banana, sob a alegação que a empresa tem problemas financeiros, enquanto o caixa está abarrotado ? Querem enganar a quem ? Ninguém vê isto ? Por que os jornais não comentam ?

O balancete fechado em 30/09/2017, mostra a Petrobras com um caixa de US$ 23,5 bilhões. Além disto temos de destacar o seguinte:

1 – Dos US$ 13 bilhões de venda de ativos realizadas em 2016, somente US$ 2 bilhões foram recebidos naquele exercício, e de janeiro a setembro de 2017 mais US$ 3 bilhões foram recebidos. Portanto restam US$ 8 bilhões à receber.

2 – A Petrobras tem um crédito com a Eletrobras cujo valor está em torno dos US$ 5 bilhões.

3 – A recente abertura do capital da BR Distribuidora gerou US$ 1,5 bilhões.

4 – A também recente venda do campo de Roncador para a Statoil gerou adicionais US$ 2,9 bilhões.

Não foi apresentado um cronograma para o recebimento destes valores que somam US$ 17,4 bilhões (8+5+1,5+2,9). Mas sua realização não deve demorar muito.

Considerando o saldo em 30/09/2017, de US$ 23,5 bilhões, e a “Formação de caixa” de US$ 8,1 bilhões, podemos concluir que o PNG 2018-2022, prevê que o caixa da companhia em 2022 atigirá a estratosférica quantia de US$ 49 bilhões ( 23,5 + 17,4 + 8,1 ).

Vale lembrar que o capital do Itau/Unibanco, maior conglomerado bancário da américa latina, gira em torno de US$ 30 bilhões.

Será que o objetivo da venda de ativos da empresa é a criação do Banco Petrobrax?

Cláudio da Costa Oliveira
Economista da Petrobras aposentado

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aepet.org.br