Artigo

Porque me candidato

Data da publicação: 28/01/2016
Autor(es): Ney Robinson

Uma das perguntas que fazem ao saberem de minha candidatura ao CA é se estou preparado para uma atividade onde se espera um grande conhecimento de administração, contratos e outros assuntos ligados à gestão. Posso dizer que, no início, isto também me preocupou.

Acompanhei bem de perto as duas atuações do Silvio Sinedino e, através de informativos, as atuações dos colegas Zé Maria e Deyvid. Com isto pude entender um pouco melhor o potencial deste cargo, e o real poder de algum trabalhador comum como nós fazer algo pelos petroleiros em lá estando: Muito pequeno, entre outros, pelas limitações de legislação e sigilo. Para isso trabalharemos nas frentes que buscam ampliar nossa ação. Entretanto, em ambiente externo esta posição nos dá outras possibilidades de interação com a sociedade, consequentemente, em outras frentes de luta.

Um grande diferencial desta nossa campanha é uma intensa preocupação em atuar em rede, desde o momento de construção da plataforma, mas, sobretudo depois, já no Conselho, quando submetido à diversidade e complexidade dos assuntos, bem como às pressões políticas e à pressão para respostas rápidas e eficazes.

Para além do CA, esta rede atuará no sentido de fortalecer e renovar outras frentes de luta. Somos independentes, porém não estamos “avulsos”. Nossa conduta será o resultado das relações construídas com os petroleiros e entidades representativas (Sindicatos, Federações, AEPET, Associação dos Aposentados, Representantes eleitos para a PETROS e etc.). Escutamos de um colega que os candidatos ao CA “deveriam passar por cursos preparatórios para, aí sim, se candidatarem a tão importante cargo”. Entendemos que tais conhecimentos são importantes, porém, para determinadas tarefas, a experiência e visão de mundo são o diferencial!

Vale lembrar uma ideia bastante difundida, sintetizada na frase de Einstein: “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”.

Situações de difícil enfrentamento que se transformam em “Problemas” carregam em seu “DNA” suas próprias soluções! Precisamos entrar no problema para então sacar de lá o conhecimento para enfrentá-lo com ousadia e criatividade, nossas ferramentas de trabalho.

Esta afirmação está baseada em anos de experiência em resolução de problemas técnicos muito complexos e delicados, que carregam as mesmas características listadas acima: diversidade e complexidade dos assuntos e disciplinas correlacionadas, bem como as pressões políticas e a pressão para respostas rápidas e eficazes.

Apenas pensando e agindo em rede, no desenvolvimento de soluções de tecnologia com equipes transdisciplinares e multi-institucionais e que temos conseguido êxito diante dos grandes desafios que nos chegam diariamente.

Há muito defendo transdisciplinaridade dentro das atividades da Petrobras e mais notadamente na pesquisa e desenvolvimento de tecnologia, o que, de certa forma se contrapõe (e equilibraria!?) o conceito de “especialistas”.

Esta campanha não busca apoio e votos de petroleiros tratados como massa de desconhecidos para uma representatividade definida em moldes tradicionais. Nosso esforço é no sentido de dar voz a todos que quiserem falar. Busco trazer estes conceitos que tenho desenvolvido no meu trabalho para um espaço maior dentro da empresa.

Precisamos conhecer as soluções propostas para a superação do atual e dos futuros momentos da empresa por aqueles e aquelas que compõem a Petrobras. A primeira bandeira é esta: fale, manifeste-se, participe. Não podemos deixar o futuro da empresa na mão dos outros! Depende de Nós!

Outro ponto importante: todos que desenvolvem atividades de base científica, mesmo em administração, sabem que perguntas malfeitas levam a respostas equivocadas e, por conseguinte a decisões desastrosas. Esta é uma questão muito sensível: a capacidade de analisar os desafios e encontrar as soluções.

Pesquisa

Esta é a vida de quem desenvolve tecnologia de ponta. A natureza não perdoa e o grupo com que trabalho estuda e desenvolve técnicas próprias de criatividade. Em administração, em política empresarial e em jogos de estratégia a capacidade de se antecipar é fundamental para o sucesso.

Exatamente por isso foi explicitado na missão do Cenpes: “… prover e antecipar soluções tecnológicas, com visão de inovação e sustentabilidade, que suportem o Sistema Petrobras”. No entanto, estamos antecipando cada vez menos, deixando de pensar o futuro, deixando de ser protagonistas das pesquisas para sermos contratadores e fiscais de contratos, deixando a essência da pesquisa e da retenção de conhecimento para terceiros. E o pior é que ainda pagamos por isso!

O Cenpes está sendo conduzido de forma a atender o varejo, basicamente, serviços técnicos. Isto nos leva a atuar cada vez mais no “apagar incêndios”! Preocupa e até mesmo assusta a declaração proferida na reunião de fim de ano (2015) pela alta gerência do Cenpes onde ouvimos algo como: “…as avaliações dos Serviços Técnicos, feitas pelos clientes, têm sido boas e isto é um sinal de que o Cenpes está bem?!”

“Preocupa ainda mais saber que a Engenharia Básica está sendo usada como objeto de barganha numa reestruturação feita sem transparência e debates. Precisamos de uma instância superior que entenda o papel integrado da Engenharia Básica com a Pesquisa e o Desenvolvimento Tecnológico, de forma a aperfeiçoar esta integração, em vez de elimina-la. Além do que a feitura do projeto básico pelo Cenpes sempre foi uma oportunidade de abertura dos projetos financeiros dos empreendimentos. Todos os Diretores que de alguma forma quiseram favorecer entidades externas ou se envolveram em casos como os denunciados pelos jornais, uma das primeiras atitudes foi a da desqualificação da Engenharia Básica ou adoção de políticas que objetivavam a absorção pela Engenharia da Sede. Relembrando, a Engenharia Básica no Cenpes foi responsável por prêmios internacionais que a Petrobras recebeu”.

É sabido que as decisões que levaram a empresa a atual situação decorreram do fato do modelo de gestão criar instâncias hierárquicas inquestionáveis. Quotidianamente, sentimos na carne que a solução que nos tem sido apresentada para confrontar as dificuldades aí colocadas, são modelos de gestão baseados em controles e mais controles que ampliam a burocracia e o engessamento da empresa.

O aumento da burocracia, por seu lado, contradiz com o necessário aumento da eficiência, principalmente, num cenário de preços baixos. Num exemplo de solução equivocada, atuamos como o resgate que no momento de socorrer o náufrago, em lugar de arremessar uma boia arremessa uma âncora!

Vários de nossos valorosos colegas desistiram da luta e muito frequentemente ouvimos com tristeza: “…manda quem pode e obedece quem tem juízo!”; ou , “…agora a sistemática é assim e não dá para fazer nada!”, ou ainda, “… não aguento mais, e vou sair no próximo PIDV… “

Esta campanha entende que o uso de tecnologia é fundamental para a própria campanha como para a construção das soluções no século XXI. Analogamente à minha experiência com complexas intervenções submarinas utilizando tele operação e robôs somos obrigados a lidar com demandas de diversas ordens, de forma a considerar os inúmeros aspectos envolvidos.

A idealização e construção de um robô, neste caso, não é uma engenharia de “reunir componentes”. Um robô tele operado, para atuar em locais onde o homem não pode estar presente, tem requisitos que vão da ergonomia da interface e do envolvimento do operador à análise de desempenho e de risco em cenários previstos e outros tantos possíveis.

Muitos dos problemas têm seu início em projetos concebidos sob fundamentos e rotas tecnológicas inadequadas à nossa realidade, até a construção, montagem e operação com práticas que o conhecimento tecnológico atual já tornou ultrapassadas, e nós ainda continuamos aplicando a questionável desculpa de que: “a indústria do petróleo é conservadora”.

A “humanização” das atividades dentro da nossa indústria é fundamental para a vida do operador, mas também necessária em tantas outras frentes tais como: do técnico no campo, ou na sala de controle, da atividade de automação, robótica, e etc.. . Vários acidentes que ocorrem na empresa são inadmissíveis se considerarmos a tecnologia que podemos ter acesso ou desenvolver, domesticamente. É preciso atuar para que sejam zerados!

Do mesmo modo ainda mantemos em atividade rotas tecnológicas inseguras, com danos potenciais para a vida do operador e para o meio ambiente: é a forma de ver o mundo e a cultura que forjam este atraso dentro da empresa. Por “algum motivo”, a gestão não tem consciência ou não dão a devida atenção a estas situações que também provocam os mesmos danos sobre a eletrônica, os circuitos inteligentes, o fluxo de dados e a tomada de decisão, seguindo uma rota de gradiente negativo, para longe do ótimo, acumuladora de problemas conhecidos ou novas situações limite.

Parque Industrial

Como situações limite, citamos a urgente, urgentíssima, necessidade que temos de encarar com seriedade a nova realidade já posta: a idade de nossas instalações e do nosso parque industrial chega ao seu limite de vida útil e, consequentemente, eles precisarão ser descomissionados. Junto a esta família de novos problemas – pois a Petrobras nunca fez um programa de descomissionamento – precisamos de um plano de contingência do tamanho de nossa empresa que desenvolva capacitação para ter nas prateleiras respostas às situações de emergências que tendem a crescer, seja pelo exposto acima ou pelo aumento de instalações no mar e em terra. Caso contrário assistiremos a novos acidentes.

Terceirização e “EPCismo”

E aí chegamos ao cenário mais atual e preocupante. Na medida em que os problemas se acumulam dentro da gestão, surge um novo componente que não sobreviveria a nenhuma experimentação no Cenpes: quando o gerente –por inexperiência, incompetência, desinformação ou outra causa – não sabe ou não quer resolver domesticamente um determinado problema, ele aponta para a terceirização! A terceirização gera malefícios que, como todos que trabalham no campo sabem, apenas mascara e potencializa futuros problemas. A consequência esperada é uma crise crescente.

A terceirização, mais recentemente, ganhou uma nova e nefasta versão: a terceirização dos empreendimentos (EPCismo), uma das fontes da escalada da corrupção na nossa história recente. Parece-nos bastante claro – já ouvimos várias vezes – que o gerente ao tomar este caminho se afasta dos problemas e deixa de existir o compromisso com o resultado, e também com o aprendizado. Forma-se, no entanto, o cenário para a desculpa que será apresentada, inclusive para fora da empresa quando os problemas aparecerem. Algo do tipo: “Contratamos o que há de melhor no mercado e ninguém podia prever isto”, ou “…o acidente é culpa da empreiteira e não temos nada a ver com isso”.

Normas Petrobras

Ainda por conta destas decisões e com o argumento de “facilitar as relações com o mundo…” cometemos um erro brutal de aposentar – e até jogar no lixo – as nossas Normas Petrobras e, a partir daí passamos a falar outras línguas tecnológicas.

A Petrobras que “deu certo” tratava seus temas naturalmente de forma não pontual. Não havia “caixinhas” nem o culto aos “especialistas”. Diante de problemas e/ou desafios tínhamos – mesmo sem saber racionalmente – um olhar uno e sistêmico. Uma chave de fenda que se quebra no campo e vai para o Cenpes ser estudada, avaliada e verificada a causa da quebra, gera um movimento positivo que faz parte do insumo e fonte de conhecimentos fundamentais para “n” outras atividades, tais como o projeto, fabricação de equipamentos (Válvulas, Dutos, Arvore de Natal Molhada [ANM], Barrilhete [Manifolds], Trocadores de Calor, etc.), mais eficientes, baratos e duráveis. Se considerarmos que a vida destes últimos equipamentos também estará sob o mesmo processo, pode-se afirmar que serão geradas outras espirais positivas de desenvolvimento de tecnologias e massa crítica.

Podemos dizer, no estágio que estamos, que os problemas já colocados, que atrasam e engessam a empresa e permitem uma gestão ditatorial, feita por alguns poucos iluminados sob influências políticas do mercado, partidos, associações, e interesses forâneos, não se resolverão com a venda de nossos valiosos ativos. Entramos num processo exponencial de desmonte, onde as soluções decorrentes de análises feitas com instrumentos inadequados ou com premissas sem fundamentos comprometem a produtividade e realimentam o processo.

Nesta situação estamos todos ameaçados.

Por isto voltamos ao início, quando convidamos todos os companheiros petroleiros a participar da campanha, muito mais do que votando, mas contribuindo com ideias e formulações propositivas para a construção de uma nova Petrobras. Entre outras coisas queremos toda empresa trabalhando para mobilizar a capacidade e competência que temos para superar as dificuldades. Por exemplo, colocando novos produtos no mercado, ampliando a atividade de comercialização, partindo para a exportação de nossos produtos industrializados, inventando novas formas de nos alavancar. São muitas as ideias ao nosso alcance para serem colocadas em prática, que estão sendo reprimidas nas mentes dos petroleiros.

A Petrobras tem solução, e esta passa por reconhecer seus erros, estabelecer relações democráticas com seus trabalhadores e muito, mas muito trabalho e dedicação.

Grande abraço a todos e todas.

CHAPA 1789

Ney Robinson e Romilson