Artigo

Preparando o Estado para Soberania: as informações

Data da publicação: 25/09/2019

após a II Grande Guerra, é a apropriação da informação. Esta se desdobra em dois conjuntos: o meio físico da mensagem e os conteúdos destas mensagens. O entendimento da importância da informação pelo poder financeiro e sua capacidade para operacionalizá-la o tornará capaz de dominar e até destruir o poder produtivo, industrial, no século XX.

Dada a senioridade do linguista suíço Ferdinand de Saussure (1857–1913), iniciemos com sua nomenclatura no Curso de Linguística Geral (Editora Cultrix, SP, 1969, tradução de Antônio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein para a obra póstuma – 1916 – publicada por Payot, Paris).

Saussure distingue no signo um conceito e uma imagem acústica. “Não é o som material, coisa puramente física, mas a impressão psíquica desse som”. O conceito é o significado, a imagem (sonora, gráfica, tátil) é o significante.

Louis Couffignal (1902–1966), matemático francês, estudando a informação (Les Notions de Base, Gauthier-Villars, Paris, 1958), denominará, para seu trabalho sobre cibernética: “Informação – o conjunto de um suporte e de uma semântica; suporte (ou forma) de uma informação, um estado físico associado a uma semântica; semântica de uma informação, o efeito de ordem psicológica que a informação pode produzir.”

Vê-se, portanto, que a informação, tratada na linguagem ou nos equipamentos para sua operacionalidade (armazenamento, transporte, controle, codificador/decodificador e meio físico) sempre acarretará um significado para um suporte.

A Idade Média moderna já teria começado,

sem que se possa fixar uma data de começo

Willian Ross Ashby (1903–1972), neurologista inglês (An Introduction to Cybernetics, John Wiley & Sons, NY, 1956), discorrendo sobre os conceitos de Norbert Wiener (1894–1964), matemático estadunidense, fundador da cibernética, e Karl Ludwig von Bertalanffy (1901–1972), biólogo austríaco, criador da teoria dos sistemas gerais, acrescentou a possibilidade de um suporte dar lugar a mais de uma semântica, ou seja, a “ubiquidade de uma codificação”.

Tratemos, inicialmente, dos suportes ou significantes. Se há possibilidade de associar um suporte a mais de uma semântica, e sabemos que a teoria da informação é uma teoria probabilística, abrem-se numerosas questões e usos na produção e no transporte ou transferência de suportes.

Apenas como exemplo, a criação de um suporte – o voto no candidato X em urna eletrônica – não necessariamente irá ser computado para X, pois o meio é sensível a toda sorte de ruídos e redundâncias. Basta que se adotem as possibilidades descortinadas pela teoria matemática da informação, como apresentadas por Claude Shannon (1916–2001), matemático e criptógrafo estadunidense, “o pai da teoria da informação”.

A gestão e o controle desta criação, apropriação, armazenamento, transmissão, sistemas para processamento/utilização da mensagem são hoje ferramentas de poder que superam armamentos e forças militares.

Em 4, 5 e 7 de abril de 2012, o site Dinâmica Global divulgou artigos do jornalista e escritor argentino Adrian Salbuchi, onde se lê: “O Hostis (inimigo) da humanidade tornou-se demasiado complexo, muitas vezes sutis e desafiando a simples identificação se por nação, raça, credo, geografia, língua ou qualquer outras características fáceis de perceber. O Hostis hoje está em toda parte e em lugar nenhum, isso exige a nossa busca refinada, identificando-o mais pelos seus sinais que ‘conta-sua-história’, impressões digitais, o ‘DNA’ por assim dizer, do que diretamente percebendo ele (ou ela).

“Os líderes nacionais já não podem reunir o suporte popular de massa a ‘combater os soviéticos ou os alemães, ou os japoneses’. Uma década atrás, eles tiveram que recorrer a abstrações mais débeis, como a ‘guerra ao terrorismo’ de Bush, que é sem sentido até que você de fato defina o que é o ‘terrorismo’.

“O que temos hoje é basicamente um inimigo invisível público que é muito difícil de apontar especificamente, mas os efeitos de cujas ações cada vez mais sofremos em todo lugar. Possivelmente ‘a Elite do Poder Global’ seja o mais próximo do que podemos chegar a descrever esse inimigo global verdadeiro, cujos interesses planetários e os objetivos correm em maior parte contrários aos interesses comuns de ‘Nós o Povo’ em todo lugar, mesmo que também ainda esteja bastante abstrato e sem rosto”.

Prossegue Salbuchi no Dinâmica Global:

“Romas/COIN é uma supervigilância hi-tech militar em massa de civis e projeto de coleta de dados apoiado por empreiteiros da defesa privada dos EUA (notavelmente a Northrop Gruman), think tanks, e a comunidade de inteligência militar e civil dos Estados Unidos, com recursos eletrônicos para monitorar e analisar milhões e milhões de conversas, classificar dados chaves e, em seguida, reconstruí-los para refletir padrões de comportamento específicos entre indivíduos e grupos de pessoas, que permita projetar os seus futuros planos, paradeiro, metas e ações. Isso fará a ‘guerra preventiva’ e as ‘prisões preventivas’ muito mais fáceis.

“Por enquanto, grande parte desta massa de vigilância e mineração de dados objetivando povos de língua árabe, não apenas no Oriente Médio/África do Norte, mas em todo o mundo, amarra-se muito bem com a interminável ‘guerra global ao terrorismo’.

“Isso representa um salto quantitativo pela elite do poder global que, até recentemente, tal espionagem hi-tech global só era feito pela Agência de Segurança Nacional (NSA), CIA, FBI, MI6 ou Mossad (que sempre podem ser demonizadas como entidades parecidas a uma moderna Gestapo); agora, porém, temos ‘amigáveis’ nomes conhecidos como Apple, Google, Facebook, Twitter, Microsoft, Pixar/Disney, PointAbout, fazendo toda a espionagem para a Elite. Esta rede corporativa privada é parte do laço invisível que estamos colocando no nosso pescoço.”

E pergunta então Adrian Salbuchi: “Quem está no comando? Quem realmente dirige a Austrália, a Grã-Bretanha, a França e a Alemanha? O Japão, a Índia e o Brasil? Os EUA e o Canadá? A Argentina e a África do Sul? Até mesmo Israel?

“É melhor encontrar as respostas rapidamente, porque nós estamos rapidamente chegando a uma bifurcação histórica de proporções mundiais na estrada do destino humano. Nos elevamos sobre o alto caminho que leva a evolução humana o que implica necessariamente a destruição dolorosa, mas necessária da Elite do Poder Global e todos os que a apoiam, consolidam, fortalecem e dão combustível ao seu crescimento, ou… vamos cair estrada abaixo em um abismo escuro de morte, destruição, hipnose em massa, e no fim do espírito humano, uma visão muito próxima do que os homens ao longo dos tempos têm descrito como o Inferno…”

Vamos refletir agora sobre a semântica. As percepções as quais nos induzem as mensagens. Em 1962, o pensador francês Edgar Morin, então com 41 anos, preocupado com a avalanche produzida pela “cultura de massa”, escreveu L’Esprit de Temps, publicado no Brasil pela Editora Forense com o título Cultura de Massas no Século XX.

Estávamos ainda vivendo os denominados “anos gloriosos” de desenvolvimento industrial, geração de emprego, aumento de renda, e do surgimento de novos Estados, com as libertações políticas das colônias europeias na África e na Ásia, iniciados em 1945 que durariam até as crises do petróleo, nos anos 1970.

No campo psicossocial do lazer, da cultura, do esporte, a televisão, o cinema, as gravações em longplays faziam surgir novas celebridades, novos heróis: a mitologia moderna.

Em abril de 1974, Morin escreve que “a sociedade industrial” se tornava cada vez mais “sensível às pressões dos ciclones”. Quem eram estes ciclones? Aqueles que denominamos a banca, o sistema financeiro internacional, articulador das crises do petróleo que iriam alterar o poder mundial.

Uma importante questão é o tempo. Hoje a sequência de mensagens nas redes sociais, a velocidade proporcionada pelos diversos meios, praticamente impedirá a reflexão. Entraremos no domínio das emoções produzidas por mensagens curtas, tecnicamente produzidas em laboratórios, desenvolvidas em centros de pesquisas em sociologia, psicologia, culturas para a máxima eficácia em nos distrair, “fazer nossas cabeças”.

E, no ápice das desconstruções/construções de valores e identidades, estarão robôs, equipamentos cibernéticos diuturnamente a emitir mensagens para doutrinar populações inteiras. A pedagogia colonial dos sistemas educacionais e das antigas mídias, apenas servirá de reforço para as mentes tomadas pela ideologia da banca.

E Edgar Morin escreverá, então, um segundo volume da Cultura de Massas que terá o subtítulo “Necrose” (1975). Há uma profunda regressão cognitiva e dos valores sociais. “A Idade Média moderna já teria começado”, afirma Morin na “Necrose”, “e, como para qualquer nova fase histórica, sem que se possa fixar uma data de começo”.

O Brasil do capitão de pijama é não só uma demonstração, mas uma caricatura permanente do poder da banca e dos efeitos mais danosos da informação por ela dirigida. Vejam caros leitores, a entrega, com corrupção explícita, de bens, patrimônios, recursos que não podem ser repostos, da riqueza natural e intelectual brasileira, na “venda” da Petrobras Distribuidora BR.

Noticia a Folha de S. Paulo (24/7/2019): a Petrobras fechou a venda de cerca de 350 milhões de ações da BR por R$ 24,50 cada. Reduz a participação que, em 2017, era de 100%, para 41,25%. Nova venda, com a mesma transparência, ou seja, nenhuma, reduzirá ainda mais a participação da Petrobras na maior distribuidora de combustíveis do Brasil. Não pode ser simples coincidência a presença de todos os bancos operadores da venda, na reunião privada, em 13 de junho de 2018, organizada pela XP Investimentos, com o procurador do Ministério Público Federal Deltan Dallagnol.

Ainda mais que os bancos originalmente convidados eram nove, mas o “estilo prático” do presidente Roberto Castello Branco, conforme justificou seu auxiliar, eliminou o Banco do Brasil, o Bradesco e o HSBC do butim. Ficaram o JP Morgan Chase, o Citigroup, o Credit Suisse, o Santander, o Bank of America e o Itaú (que o mercado vem afirmando já ter sido assumido pelo Bank of America).

Não se trata, como se vê, de um desinvestimento ou de uma privatização, mas da alienação ao estrangeiro de importante empresa nacional, para a defesa, para a integração territorial, para a unidade nacional. Alienação que priva as gerações brasileiras atuais e as vindouras dos frutos do trabalho coletivo de seus antepassados, empobrecendo o país e rompendo os elos que vinculam a nação através dos tempos, sem os quais a cidadania é impensável.

A informação da banca tratará de demonstrar o contrário, que ninguém do governo – Executivo, Judiciário e Legislativo – recebeu comissões, pela venda por valor ridículo de tão significativo patrimônio.

Mais perigosas do que esta corrupção de varejo, no entanto, são as legislações antiterror, iniciadas pelos governos de FHC e continuadas pelos do PT, que darão a cobertura jurídica, formal, ao controle de todos os atos do cidadão comum. Como estilhaço do 11 de setembro de 2001 no Brasil, o US Patriot Act tupiniquim está sendo gestado pelos projetos de lei PL 2.418, PL 1.595 e PL 443, todos de 2019, que correm nas sombras do Legislativo Federal.

A distopia de Geoge Orwell, 1984, nunca esteve tão real e presente, aqui e em todo mundo submetido à banca e ao Império Estadunidense.

Felipe Quintas

Doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense.

Gustavo Galvão

Doutor em Economia e autor de As 21 lições das Finanças Funcionais e da Teoria do Dinheiro Moderno (MMT).

Pedro Augusto Pinho

Administrador aposentado.

Transcrito do Monitor Mercantil, quarta-feira, 25/09/2019

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