Artigo

Privatização de Refinarias

Data da publicação: 16/05/2017

O Sindipetro-Ba divulgou no último dia 12 que “recebeu de fontes seguras a informação que a primeira refinaria do Sistema Petrobrás, inaugurada em 1950, e segunda maior refinaria do país em capacidade de processamento, a Refinaria Landulpho Alves (RLAM), foi vendida para uma multinacional petrolífera”.

Segundo estas fontes, a diretoria da Petrobrás teria vendido 70% da RLAM, incluindo todo o sistema logístico da refinaria (Terminal Madre de Deus, tubovias, etc).

A direção da Petrobrás  comentou que “não procede qualquer informação” sobre a venda da RLAM para a francesa Total.

Declarações do diretor de refino da Petrobrás

Em evento na feira Oil&Gas, em 24 de outubro de 2016, o diretor de refino da Petrobrás, Jorge Celestino , anunciava que a companhia pretendia vender participações em refinarias e terminais, dando maior flexibilidade aos sócios, sem depender da estatal. “É um modelo que dá ao investidor gestão sobre as suas margens”, explicou o executivo. Isso é, o sócio poderá decidir sobre o fornecimento do petróleo e o destino dos derivados produzidos.  Segundo Celestino, a proposta evita repetir o modelo usado na REFAP, refinaria Alberto Pasqualini, durante o governo FHC, quando a espanhola Repsol/YPF comprou 30% das ações, mas não tinha instalações para trazer seu próprio petróleo ao mercado interno.

A Petrobrás não pretende, porém, construir novas refinarias, pelo menos até 2021, limitando os investimentos do refino na manutenção das unidades existentes.

“Para o país, talvez não seja a melhor solução. Mas é a melhor solução para a Petrobrás”, comentou Celestino, dizendo que a empresa busca sócios neste segmento porque “não pode um país ter uma empresa com 100% do mercado”.

As declarações ficaram ainda mais constrangedoras com o contraponto feito pelo diretor da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), Aurélio Amaral, que prevê um déficit na importação de derivados de 1,1 milhão de barris por dia em 2030 (foram 401 mil barris em 2015).

Se não houver investimentos em refinarias, disse o diretor da ANP, o Brasil demandará expansão da capacidade de importação de combustível.

O diretor Celestino não deve estar interessado em saber como problema será equacionado pelo país para pagar as importações, nos reflexos no câmbio sobre a dívida da Petrobrás, na inflação e no mercado interno.

Em fevereiro deste ano, destacou duas principais estratégias da companhia para o refino: reduzir o risco da companhia por meio de parcerias e promover política de preços de mercado.

“Estamos dando previsibilidade de preços e promover política internacional. Não há dúvidas de que essa política vai atrair parceiros para o setor ao maximizar as margens de refino”, destacou Celestino.

Mas, afinal, se vai ser mais rentável e previsível, de que risco está falando para vender refinarias para concorrentes? O principal ativo da Petrobrás, como  sabe o diretor, é o nosso mercado interno.

A rentabilidade do refino

O quadro abaixo, retirado do Relatório da Administração de 2016  da companhia, mostra a rentabilidade do refino nos últimos anos. Toda grande companhia de petróleo é integrada, alternando seus lucros entre suas áreas de negócios, função do preço do barril de petróleo.

O setor de E&P só aparece com prejuízo operacional devido à reavaliação dos seus ativos (“impairments”). Aliás, muitos superiores às outras grandes companhias internacionais de petróleo.

O setor é aberto a quem quiser construir novas refinarias, gasodutos e instalações de distribuição. Não há interessados, pois os recursos a serem investidos são bilionários e as margens reduzidas. Interessa, é claro, comprar refinarias da Petrobrás em operação, sem riscos e baixos custos, ainda mais com a reavaliação dos ativos praticados de R$ 113 bilhões nos últimos três anos.

A atual política de preços de combustíveis adotada pela Petrobrás tem contribuído para o aumento da ociosidade das refinarias brasileiras e a perda do mercado da BR Distribuidora. Em favor de seus concorrentes importadores que são potenciais interessados na privatização da BR,e ainda os ajuda a fazer caixa para tal finalidade.

Em suma: a atual direção da Petrobrás trabalha contra os interesses da companhia, de seus acionistas, em especial de seu controlador, a União Federal, procurando desconhecer as razões que levaram à sua criação.

Deveria ouvir o que tem a dizer Patrick Pouyanné , diretor-presidente da Total, a quem tem vendido ativos da nossa empresa: “O modelo de negócios integrado da Total, estendendo-se da exploração e produção até a distribuição dos produtos ao cliente final, através da refinação, petroquímica e de negociação, tem sido fundamental na nossa capacidade para abordar com sucesso a situação atual.

Poucos anos atrás, muitos experts ou conselheiros estavam nos empurrando para nos desfazermos de nossos negócios downstream (Abastecimento – refino, transporte e comercialização) e focar apenas no upstream (E&P). Decidimos  então não escutá-los e nos atermos ao nosso modelo. Porque, embora seja verdade que o upstream se aproveita melhor dos preços do petróleo que o downstream, também é verdade que este ajuda a recuperar parte do valor adicionado perdido pelo downstream e pode oferecer menos receita cíclica, que é muito bem-vindos no ciclo de baixa. Isto abrange os riscos que nós sabemos como gerenciar.”

Mas, para isto deveria estar realmente interessado em defender os interesses da companhia. Não é o que tem demonstrado.

Diretoria da AEPET

(i) http://www.valor.com.br/empresas/4827702/petrobras-nega-informacoes-sobre-venda-de-refinaria-para-total

(ii) /noticias/pagina/13884/Nota-da-AEPET-de-repdio-declarao-do-diretor-de-refino-da-Petrobrs

(iii) http://www.investidorpetrobras.com.br/pt/relatorios-anuais/relatorio-de-administracao

(iv) /noticias/pagina/14413/Presidente-da-Total-da-lio-de-empresa-integrada-a-Parente

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aepet.org.br