Reconhecer, entender e interpretar os erros que levaram a ela podem ser o caminho da reconquista do espaço perdido. Se sabemos e acreditamos na fragilidade da proposta vencedora é preciso organizar a resistência, reagrupar forças e redefinir o discurso. Não falo de guerra, mas de política e seus profundos reflexos no cotidiano da sociedade.
O que podemos chamar de centro-esquerda no Brasil foi derrotado nas eleições de 2018, tanto na composição do Congresso, como nos executivos federal e estadual. E por que perdeu? Vamos encontrar as mais variadas respostas dentro do campo derrotado e nenhuma delas vai ser mais simples e clara do que a resposta que a direita e extrema-direita deu: votos!
Mas de onde vieram estes votos que, antes, garantiram quase 14 anos de governo de centro-esquerda? Chamar de fascistas todos os quase 57 milhões de votos que levaram Bolsonaro à Presidência da República é o mesmo que chamar de comunistas todos outros milhões de votos que deram 4 mandatos consecutivos aos governos do PT.
Ao optar pela dubiedade de aceitar imposições do capital financeiro – cada vez mais predatório – e pôr em prática políticas compensatórias do bem estar social – cada vez mais necessárias -, o PT foi além, aceitando as velhacas práticas políticas do “toma lá, dá cá”. O partido não via que abrira à guarda para o revide de quem nunca se portou como rival, mas inimigo.
À denúncia do mensalão, o governo respondeu com o afastamento do “núcleo duro” e fortaleceu os mecanismos de controle. Aceitou intimidações do Judiciário, enquanto fortalecia a “base parlamentar”. Mas ainda submetia-se ao poder do sistema financeiro. Ao fazer ouvidos moucos aos seus, viu nascer o PSOL. Com críticas à direita e à esquerda, Lula e o PT sobreviveram aos escândalos e à grave crise econômica internacional. Quando mais acertou na política econômica, o governo se voltou para as piores práticas políticas. Ao abraçar por inteiro o PMDB.
Daí, perdeu, ao eleger Dilma, os canais que ainda o ligava às bases que o levou ao poder. O governo correto, nestes casos, não conta. A direita, sempre atenta, entendia que o modelo se esgotava. Na reeleição, Dilma estava derrotada quando saiu o resultado do primeiro turno e a composição do Congresso. Por isso, sua reação de desânimo quando venceu Aécio, no segundo turno, por pequena margem de votos. E, em seguida, adotou a agenda econômica dos derrotados.
Mas a direita brasileira nada tem de republicana e carrega tremenda dificuldade de aceitar o jogo democrático. Além de não reconhecer a derrota, investiu pesado na inabilitação da eleita e na ação parlamentar de inviabilizar o governo, ao mesmo tempo em que cooptava o sócio PMDB, viabilizando o golpe parlamentar de 2016.
Perdidos, os do campo de centro-esquerda tentaram levar adiante as bandeiras do #ÉGolpe, do #ForaTemer. Esqueceram que estas bandeiras só os verdadeiramente engajados e libertários carregam. A grande maioria da população, vivendo uma crise econômica, cheia de desemprego e bombardeada dia e noite pela mídia de que a culpa era da corrupção do PT. Com a crise social, os índices de violência aumentam – ou tentam nos fazer ver isto. Então, esquecer toda a melhoria anterior é fácil.
O centro-esquerda perdeu quando acreditou que a direita não teria candidatos viáveis para enfrentá-la. Esquecendo-se que, para a direita, Bolsonaro é palatável. Perdeu por deixar de gritar #ÉGolpe e aceitar o processo eleitoral. Perdeu ao atrelar a liberdade de Lula à fraude eleitoral. Perdeu tempo, perdeu eleitores, perdeu uma eleição que, na verdade, não houve.
Mas não foi a extrema-direita do ex-capitão, agora presidente eleito, que ganhou. O capitalismo financeiro, que não produz, que concentra renda, é o grande vencedor. E com sua ganância usurpa direitos com mais voracidade que qualquer ditadura. Aos que perderam, inclusive aqueles que votaram em Bolsonaro ou se abstiveram, resta atrasar a pauta dos vencedores e reduzir danos. E torcer para que seja contido o ímpeto do presidente eleito de implantar um Estado de Exceção.
Alex Prado é jornalista