Artigo

Quanto vale uma vida no Jornal Nacional?

Data da publicação: 22/05/2015
Autor(es): Bruno Terribas

Edição de 20 de maio de 2015.

Notícia 1.
28 segundos.

Renata Vasconcellos: “A polícia do Rio abriu investigação sobre duas mortes durante uma operação na Ilha do Governador. Segundo testemunhas, Gilson dos Santos, de 13 anos, e Wanderson Martins, de 24, foram baleados quando se esconderam numa casa, assustados com a movimentação da polícia no Morro do Dendê. Um policial admitiu ter atirado e disse que eles estavam armados. Parentes dos dois negam. Na saída do cemitério, amigos fizeram um ato de protesto”.

Nenhum parente entrevistado (os mortos deixaram pais, irmãos, filhos? ), testemunha (elas negaram gravar depoimento?) ou autoridade pública (qual a posição da PM-RJ?).

Tampouco investigação sobre perguntas básicas como: os jovens possuem algum antecedente criminal? Onde estão as armas que a polícia alegou que eles portavam? Já houve perícia para mostrar onde as balas os atingiram e a distância de disparo? Quem é o policial que os matou e qual seu histórico na corporação? O que diziam os cartazes e gritos dos manifestantes após o enterro? O que eles tinham a dizer sobre os assassinados?

Não houve perguntas, nem respostas…

Notícia 2.
3 minutos e 40 segundos.

William Bonner: “O assassinato de um homem num ponto turístico e de lazer no Rio de Janeiro indignou os cariocas e provocou debate entre autoridades”. O médico Jayme Gold foi esfaqueado na Lagoa Rodrigo de Freitas.

(…) Ele levou uma facada na barriga enquanto andava de bicicleta na ciclovia da Lagoa Rodrigo de Freitas. Eram quase 19h desta terça-feira (19) quando os assaltantes esfaquearam o médico para levar a bicicleta, o celular e a carteira”.

Em seguida surge a entrevista de uma testemunha e informam-se detalhes dos ferimentos. É mostrada fala da ex-esposa e mãe de seus filhos, que pergunta: “Quanto vale uma vida?”. Em seguida, governador do Estado do RJ e presidente do Tribunal de Justiça trocam acusações quanto à responsabilidade no caso.

Esta breve análise de como são noticiados esses dois exemplos de tragédias urbanas mostra como opera a indignação seletiva do conglomerado de comunicação de propriedade da bilionária família Marinho, que há 50 anos vê o mundo a partir do Jardim Botânico da capital fluminense.

Não, Globo, a gente não se vê por aqui.