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Que futuro é este?

Data da publicação: 08/11/2017

A disrupção será a regra e as taxas de inovação serão cada vez mais aceleradas. Nenhuma área de atividade, seja humana, empresarial ou tecnológica, estará a salvo das mudanças que virão e as mutações vão impactar a maioria dos processos produtivos e dos modelos de negócios atuais.

Esta foi uma das principais conclusões do encontro Singularity University (SU) Global Summitt 2017, realizado no período de 13 a 15 de agosto deste ano, em San Francisco, EUA. A SU é uma comunidade mundial que incentiva inovações orientadas para a solução de problemas globais – energia, meio ambiente, alimentação, habitação, água, saúde, educação e segurança – a partir do uso de tecnologias exponenciais.

O jornalista de ciência Steve Kotler, um dos autores do livro “Abundance: The Future Is Better ThanYou Think”, esclareceu o conceito de tecnologia exponencial. Disse ele que o crescimento exponencial da tecnologia não é percebido por nós porque não estamos acostumados a pensar exponencialmente. Nosso cérebro evoluiu em um ambiente local e linear, mas, vivemos em um mundo global e exponencial. Pensamos linearmente e é muito difícil, nesta condição, entender mudanças exponenciais. Se alguém der 30 passos lineares, chegará a 30 metros de distância, mas, se der 30 passos exponenciais, a distância percorrida será de um bilhão de metros. O crescimento exponencial é a razão pela qual um computador de US$8 bilhões, que ocupava uma sala inteira na década de 1970, agora cabe em nosso bolso e custa menos de US$200. A tecnologia está crescendo exponencialmente, não apenas na informática, mas, também, em biotecnologia, inteligência artificial, robótica, nanotecnologia, bioinformática, impressão em 3D, uma longa lista. Kotler afirmou, ainda, que o crescimento exponencial da tecnologia viabilizará um mundo onde todos terão acesso a água limpa, alimentos nutritivos, habitação, educação, cuidados de saúde e energia.

O mundo está mudando e a velocidade da mudança é exponencial. O motor dessa transformação é a inovação tecnológica e o setor de energia não será exceção. O primeiro efeito será o abandono do modelo mental que, teimosamente, vem orientando o comportamento “Business as Usual” das empresas e dos agentes do setor. O processo de eletrificação, crescente em todo o mundo, receberá uma contribuição significativa das fontes de energia renováveis. Nos últimos 5 anos, a produção de eletricidade a partir de paineis fotovoltaicos e turbinas eólicas teve seu custo reduzido de 50% a 80% e, nos dois últimos anos, o mundo instalou mais energia solar do que à base de combustíveis fósseis. No ritmo atual, 30% da eletricidade mundial, em 2.040, será fornecido por energias eólica e solar fotovoltaica. No sentido oposto, as empresas de carvão energético deverão abandonar o mercado ao longo dos próximos 10 anos.

No caso da indústria do petróleo, a disrupção se dará pela introdução dos veículos elétricos no mercado de transporte. Cada VE economizará 30 barris de combustíveis por ano e a eletricidade a ser consumida virá de fontes variadas e não apenas de hidrocarbonetos. O maior impacto será a redução do consumo de gasolina e diesel, de forma permanente. A demanda cairá e será redirecionada para fertilizantes, fármacos, lubrificantes e produtos petroquímicos. O enfraquecimento da demanda manterá os preços de óleo e gás em níveis mais baixos e os países que produzirem petróleo convencional, com custos menores, serão os únicos fornecedores do produto no mercado mundial. Neste cenário desafiador, as empresas de O&G que não se verticalizarem e não diversificarem os seus negócios simplesmente desaparecerão.

Para encerrar, um registro alvissareiro, a nos trazer alento neste momento tão estravagante da nossa história. A reunião da SU em San Francisco, contou com 1.600 participantes do mundo inteiro, sendo 70% deles de fora dos EUA. A maior delegação presente era a brasileira. Seria o Brasil, mesmo, o País do Futuro?

*Eugenio Miguel Mancini Scheleder é engenheiro aposentado da Petrobras. Também ocupou cargos de direção nos ministérios de Minas e Energia e do Planejamento, de 1991 a 2005. Atualmente, exerce a função de Mediador Extrajudicial, capacitado pela Câmara de Conciliação, Mediação e Arbitragem – CCMA/RJ.

(Publicado na edição de novembro da revista Brasil e Energia Petróleo e Gás)

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