O site da Petrobras “Fatos e Dados” desta terça-feira (08/05) traz o seguinte título : “”Obtivemos o melhor resultado trimestral dos últimos cinco anos”.
Sandra Annenberg no Jornal Hoje da Globo (08/05) destacou : “Petrobras obtém um lucro líquido de R$ 6,9 bilhões, o melhor resultado trimestral desde 2013, causado principalmente pelo aumento no preço do barril de petróleo”
Completando a performance circense aparece Pedro Parente dizendo : “e olha que em 2013 o preço do barril estava acima de US$ 100”.
Desta maneira grosseira eles vão enganando a opinião pública brasileira objetivando mantê-la passiva diante de tudo que vem ocorrendo na maior empresa brasileira.
O lucro de R$ 6,9 bilhões não foi obtido, como disse Annenberg, pelo aumento do preço do barril. A principal causa do lucro foi o registro contábil do ganho com a venda das reservas de Lapa, Iara e Carcará, que aumentou o lucro em R$ 3,2 bilhões. Retirado este fator não operacional, o lucro cai para R$ 3,7 bilhões, 16% inferior ao registrado no 1º trimestre de 2017 (R$ 4,4 bilhões).
Pedro Parente “esqueceu “ de dizer que em 2013 a Petrobras subsidiava o consumo interno (fato tão criticado por Miriam Leitão) e portanto a referência de preço de US$ 100 o barril não é válida. Por outro lado o real estava muito mais valorizado em relação ao dólar, o que reduzia o preço do barril em reais. Sem considerar que o volume de produção era bem inferior ao atual, o que provoca um aumento nos custos fixos unitários.
Não mudou nada, continuam achando que somos todos idiotas.
Outros números são apresentados como caixa livre , distribuição de dividendos etc, todos de interesse do mercado de capitais. Nada é falado sobre as atribuições fundamentais de uma empresa estatal, feitas para promover o desenvolvimento do país e o atendimento das necessidades de seu povo.
Mas hoje a empresa está tão desfigurada depois da venda de importantes ativos, redução drástica de pessoal e queda de investimentos, que se torna muito difícil fazer comparações com o passado.
Sendo assim, não vamos mais perder tempo com números e indicadores que não se relacionem com o que motivou a criação da Petrobras e sua sustentabilidade.
É nesta linha que apresentaremos o que consideramos os
“DESTAQUES DO 1º TRIMESTRE DE 2018” :
– A política de preços continua entregando o mercado interno para os concorrentes, colocando as refinarias brasileiras na ociosidade colocando a Petrobras na função básica de exportadora de óleo cru. Empregos, renda e impostos estão sendo transferidos para os EUA. Para permitir a importação de gasolina e diesel por terceiros a Petrobras mantem os preços internos acima dos preços internacionais. Segundo o IBGE, em 2017 o número de domicílio brasileiros que utilizam lenha e carvão para cozinhar aumentou 11% ( mais 1,2 milhão de domicílios). No nordeste o consumo de produtos inadequados tem causado expressivo crescimento de acidentes. A renda do brasileiro não é a mesma de americanos, canadenses e europeus
– Pagamento da primeira parcela do Class Action. Vide artigo do Sen. Roberto Requião “A esquecida doação de 10 bilhões de reais da Petrobras para os fundos abutres” http://www.aepet.org.br/w3/index.php/artigos/artigos-da-aepet-e-colaboradores/item/1673-a-esquecida-doacao-de-10-bilhoes-de-reais-pela-petrobras-aos-abutres
– Recebimento de R$ 3,2 bilhões da venda de Lapa, Iara e Carcará, cujas perdas para o país foram registradas pelas denúncias da adv. Raquel de Sousa e do geólogo Luciano Chagas
http://www.aepet.org.br/w3/index.php/artigos/noticias-em-destaque/item/653-na-cpi-da-petrobras-advogada-mostra-que-desinvestimento-e-entrega-de-patrimonio-publico
– Edição do decreto 9355/2018 que regulamenta a venda de campos e blocos, liberando Pedro Parente para vender ativos ao arrepio da lei, conforme atesta artigo de Fernando Siqueira “Decreto de Temer é para desmontar a Petrobras “
http://www.aepet.org.br/w3/index.php/artigos/noticias-em-destaque/item/1663-decreto-de-temer-e-para-desmontar-petrobras
– Quanto está sendo perdido com o pagamento de aluguel pela utilização dos dutos da NTS ?
http://www.aepet.org.br/w3/index.php/artigos/noticias-em-destaque/item/720-nts-cronica-de-um-prejuizo-anunciado#comment-616
– Falam numa redução da alavancagem (divisão da divida liquida pelo somatório da divida liquida com o patrimônio liquido) de 51% para 49% mas não falam que o patrimônio liquido da companhia está completamente sub-avaliado, pois não registra os direitos que a Petrobras tem no pré-sal. Os poços para delimitar as reservas não são feitos não permitindo a apropriação das reservas, conforme registra o geólogo Luciano Chagas :
http://www.aepet.org.br/w3/index.php/artigos/noticias-em-destaque/item/1561-petrobras-subestima-reservas-para-justificar-venda-de-ativos
Os balanços devem registrar todos os bens , direitos e obrigações das empresas. Propositalmente, buscando desvalorizar a companhia, os direitos que a Petrobras tem por lei no pré-sal não são registrados. O relatório da administração da companhia fala muito sobre a Lava Jato mas não dispensa uma linha sequer sobre o valor do pré-sal para a empresa. Qualquer empresa no mundo estaria tratando de valorizar seu patrimônio.
Mas como já disse Pedro Parente “endeusaram o pré-sal”.
Cláudio da Costa Oliveira
Economista da Petrobras aposentado