Artigo

Sobre a crise brasileira e a Petrobrás

Data da publicação: 29/08/2019
Autor(es): Felipe Coutinho

 

A Petrobrás sempre foi alvo de disputa no Brasil, desde a sua criação ela representava uma ameaça os interesses estrangeiros no Brasil. Representou uma ameaça às multinacionais do petróleo quando foi criada e o ápice dessa dessa disputa – que é geopolítica e internacional – foi o suicídio do Getúlio porque ele não aceitava abrir mão da Petrobrás.

A Petrobrás demonstra a capacidade de realização do povo brasileiro e ela foi fundamental no desenvolvimento industrial, na urbanização do Brasil, nesse país que hoje é oitava economia do mundo. E agora, no século 21, ela demonstrou a capacidade do nosso povo ao descobrir as maiores reservas do Século 21, as maiores reservas de petróleo do Século 21 que é o pré-sal brasileiro.

O pré-sal nos dá uma oportunidade, uma chance de desenvolvimento. Porque não existe substituto ao petróleo barato de se produzir, esse petróleo que foi abundante e era muito barato de se produzir foi esgotado. As melhores reservas são esgotadas sempre primeiro e o petróleo barato de se produzir acabou.

Então nós temos hoje uma disputa acirrada pela energia no mundo, pelo petróleo no mundo, pela renda petroleira. Na disputa pela renda petroleira se promovem guerras, se assassinam lideranças, se depõem governos, se promovem golpes de Estado e ocupação de países estrangeiros.

Nenhum país se desenvolveu exportando petróleo cru por multinacional estrangeira

É claro que são usadas sempre desculpas, é sempre instrumentalizado, é instrumentalizado o combate ao terrorismo, é instrumentalizado a defesa da democracia e das liberdades, é instrumentalizado o combate à corrupção. Mas o que está em jogo é o petróleo, é a renda petroleira e a disputa geopolítica entre as Nações, a disputa por recursos naturais mais baratos possíveis, a disputa por mercados e a disputa por assalariados nas condições mais baratas possíveis para se explorar.

É nessa disputa internacional que se insere o Brasil em 2019: a disputa pelo pré-sal, que se dá hoje, e a própria existência da Petrobrás porque a existência da Petrobrás e do pré-sal dão ao Brasil uma chance, uma chance do nosso país se desenvolver.

Existe uma relação entre crescimento econômico e consumo de energia. Essa relação é direta: quanto maior o consumo de energia, maior a possibilidade de crescimento econômico. Também existe correlação entre o desenvolvimento humano, por exemplo medido pelo IDH, e o consumo de energia por pessoa. Quanto maior o consumo de energia por pessoa maior o índice de desenvolvimento humano de cada Nação do mundo.

O consumo brasileiro de energia e de petróleo é ridículo, muito baixo, próximo ao do Paraguai. Para que tenhamos um desenvolvimento econômico com padrão europeu seria necessário consumir cinco vezes mais petróleo do que se consome hoje no Brasil. Hoje consumimos cerca de 2 milhões de Barris por dia, então seria necessário consumimos 10 milhões. Se temos hoje 13 refinarias, das quais oito estão correndo risco de serem privatizadas, entregues para o capital internacional, seria necessário construir mais 20 e não privatizar essas oito refinarias.

É necessário consumir o petróleo, agregar valor ao petróleo no refino, na petroquímica, nos fertilizantes. É necessário usar a energia do petróleo que nós temos ainda disponível para construir a infraestrutura para produção das energias potencialmente renováveis, que vão nos garantir um futuro melhor. Depois de esgotado os recursos do Petróleo, que são finitos. Mas, ao contrário o que que está acontecendo? É um absurdo que em 2019 estejamos na perspectiva de exportar um milhão de barris de petróleo por dia, mas não exatamente nós estamos exportando… quem está exportando cada vez mais do petróleo brasileiro são as multinacionais estrangeiras.

Nenhum país se desenvolveu exportando petróleo cru por multinacional estrangeira, mas é exatamente esse o caminho que o Brasil está tomando hoje, em 2019, é um absurdo nós estarmos entrando em ciclo do tipo colonial que não atende os interesses da maioria, mas existe uma minoria de capitães do mato que são gerentes (gestores) desse projeto do tipo colonial. Eles sempre existiram entre nós. São poucos, mas esse projeto infelizmente tem sido muito bem sucedido. A maioria dos brasileiros precisa ter consciência do que está em jogo: é o nosso futuro, é o nosso país. 

O Brasil precisa se levantar.

Felipe Coutinho é Presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)

Fonte: Carta Maior
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