Artigo

Tratamento dado aos nossos heróis nacionais – Capítulo 2

Data da publicação: 23/12/2016
Autor(es): Paulo Metri

Othon Luiz Pinheiro da Silva era um jovem oficial da Marinha brasileira, já formado em Engenharia Naval pela USP, quando recebeu a missão de ir aos Estados Unidos, para uma das melhores universidades da área tecnológica, o Massachusetts Institute of Technology (MIT), com a incumbência de, ao voltar ao Brasil, desenvolver uma tecnologia importante para a defesa nacional: o enriquecimento isotópico de urânio, cujo produto resultante é utilizado nos elementos combustíveis do submarino de propulsão nuclear.

O completo entendimento do que isto significa não é tão óbvio. Segundo especialistas, os navios de guerra convencionais, não incluindo o porta-aviões, não têm o potencial defensivo de um submarino nuclear. Por isso, este submarino é uma arma imprescindível para o Brasil poder impor a soberania em seus mares costeiros. E o litoral brasileiro é extenso. São cerca de 7.500 km.

A dura realidade é que a nossa atual Marinha não dispõe de grande poder de dissuasão de indesejáveis agressões de Marinhas estrangeiras. Cabe lembrar também que, há algum tempo, as mais prováveis hipóteses de guerra, que determinam todo o reequipamento e treinamento necessários para as nossas Forças Armadas, não são mais o combate a guerrilheiros comunistas e a invasão do Rio Grande do Sul pela Argentina. Uma das atuais hipóteses de guerra são forças estrangeiras querendo se apossar de campos do Pré-Sal. Com a descoberta desta província petrolífera e dependendo da situação política internacional, a invasão militar da costa marítima brasileira pode se tornar uma realidade.

Notar que existiam, no Brasil, na época em que o jovem oficial Othon foi mandado para os Estados Unidos, mestres e doutores, inclusive formados no MIT, mas ele recebeu esta incumbência, porque se precisava de alguém de extrema confiança que iria receber uma espécie de “mensagem a Garcia”. O mensageiro que recebe uma tarefa deste tipo tem que estar disposto a dar a vida, se necessário for, para a mensagem chegar ao destino.

O jovem oficial foi ao MIT, conquistou os graus de mestre e doutor e voltou ao Brasil. Não decepcionou, pois, de forma resumida, com o auxilio da equipe que formou e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) da USP desenvolveu a ultracentrífuga para o enriquecimento de urânio, colocando o Brasil em um fechado clube de seis países que dispõem desta tecnologia.

Esta tecnologia é considerada sensível, pois, por sucessivas “passadas” pelas cascatas do enriquecimento, pode-se chegar a um urânio com o grau de enriquecimento necessário para produção de uma bomba. Não é por outra razão que, segundo a Wikipédia (portanto, ainda passível de confirmação), o Almirante Othon era vigiado por um agente da CIA, chamado Ray H. Allar, que alugou o apartamento ao lado do dele, em São Paulo.

Assim, um juiz estrito aplicador da lei poderia concluir que este grupo cometeu um erro porque fez pagamentos não contabilizados. Os juízes sabem que as leis são criadas por seres humanos, portanto seres falíveis. Estes, até involuntariamente, podem não ter considerado situações importantes para a sociedade, ao redigirem a lei. Neste caso, cabe ao juiz perfeito identificar alguma interpretação criativa que corrija o erro congênito da lei. Cabe ao servidor público, no interesse maior da sociedade, incorrer nesta suposta infração. E, se o juiz, por deficiência cognitiva, o que é improvável, porque o concurso público já barrou quem a possuía, ou por estar movido por outros interesses, que não são os da sociedade, quiser penalizar o militar heroico, este aceita resignadamente a sentença, sem envolver a Força à qual pertence. Este gesto de intenso amor à Pátria é algo que o cidadão comum, normalmente, tem dificuldade para entender.

Por tudo isso, o Almirante Othon é certamente um herói nacional. Não preciso de mais nenhuma informação adicional, por mais relevante que digam que ela é. Já está suficientemente embasado. Ele merece ser um herói nacional.

Publicado em 23/12/2016 em O Cafezinho.